Crônicas

Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida

Seja lá o que você faça da vida, é hora de parar. Não para sempre. Apenas para refletir por um instante sobre o que você está fazendo com a sua própria vida.

Talvez você seja vendedor convencional, viva de pintar quadros, trabalhe educando crianças numa escola primária, lide com a complexidade do comércio exterior, tenha um restaurante gourmet, escreva dissertações acadêmicas, ou simplesmente tenha que lidar diariamente com clientes diversos e mercados comuns.

Em determinado momento da sua vida, você vai ouvir a pergunta: “Você faz isso por dinheiro ou porque gosta?”. Em qualquer canto da sua vida, essa pergunta vai aparecer. E você terá dificuldade de responder com toda certeza que está fazendo a melhor coisa que poderia fazer no mundo.

O ser humano é infinitamente capaz. E isso, nos confunde. Somos lições diárias, habilidades acumuladas e competências diversificadas. Talvez o erro seja esperamos sempre que alguém ou alguma coisa nos diga exatamente o caminho que devemos percorrer. Buscamos que isso tudo nos dê a certeza que podemos seguramente seguir nesta direção de conforto e alívio.

No entanto, essa certeza é inviável. É de uma inexatidão assustadora. O modo de olharmos para aquilo que fazemos - como se isso fosse a nossa única identidade - tornará, no futuro, o nosso maior carrasco.

Todo mundo tem dentro da sua cabeça um discurso que deflagra uma desconfiança da sua própria vocação diária. A verdade é que somos diversos recortes de nós mesmos, do que fazemos, do que pensamos, de como enxergamos a nossa própria construção de realidade.

E quer saber? Ninguém aguenta permanecer muito tempo num posto que seja mais um lugar-comum, que seja a mais precisa falta da dimensão de propósito e de realidade.

Quando nossa identidade torna-se apenas aquilo que fazemos, descobrimos que, momentaneamente, na falta de tarefas, somos empurrados para a mais concreta impressão de inadequação e senso de si. Este é o ponto de muita gente que encontro nessa caminhada vocacional.

Não interessa o que você quer, pode ou deve fazer da sua vida. O mais importante é ter a coragem de perguntar-se, antes de tudo: O que estamos omitindo da nossa própria verdade? O que é importante para que eu possa ter a certeza que estou fazendo algo extremamente relevante?

Perceba: Atingir um patamar profissional invejável, ter uma grande quantidade de seguidores, ser capaz de falar com muita gente ao mesmo tempo, nem sempre significa alcançar a maior dimensão da realidade do que realmente importa para nós.

O sujeito que tem a coragem de omitir essas perguntas acima perde a oportunidade de dedicar-se de todo o coração a alguma coisa real. Sem que faça da necessidade econômica seu maior alvo. No final das contas, ele não tem nem o prazer e nem a riqueza. E o único prejuízo essencial é ter tudo, menos o controle da própria narrativa.

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Nesta direção, o sentido para o que fazemos não está em apenas contabilizar vitórias e as esfregar no rosto da sociedade como uma espécie de alto consolação, nem tampouco em deixar de fora da vida o prazer para ir em busca de uma vocação prática e despreocupada com os pequenos confortos.

O mundo não pode ser dividido em pessoas que vivem na esperança de enriquecer como resposta a sua impossibilidade de alcançar uma auto percepção saudável e em sujeitos que estejam integralmente inseridos numa sociedade injusta, mas que encontram na crítica do imediatismo materialista a própria desorientação vocacional.

Ninguém por mais bem-sucedido ou fracassado que seja quer assistir o assassinato brutal do seu próprio sentido da vida.

Desde que entendi que a realização da minha vocação - que é claramente sabida como de um escritor - não deve se prender a mera busca pelo emprego ideal, ou apenas focado numa subsistência e desprovido de qualquer importância própria, passei a respeitar o meu próprio futuro como gente.

Descobri aos 28 anos - o que considero pode parecer tarde demais - que entre o trabalho expressamente inevitável e a obsessão pela diversão, existe um encontro possível.

Talvez  seja essa a única explicação de como podemos cruzar com gente de pouco retorno financeiro, mas que são brilhantemente satisfeitas com o que tem, ao passo que encontramos almas cheias de revolta que cegamente acusam o trabalho de ser o ladrão de vida e o algoz da sorte.

Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida, o caminho errado não deveria ser objeto do seu estudo, mas sim a busca incessante pelas maneiras de desenvolver o alívio mais óbvio.

A tragédia vocacional tem o tamanho exato entre a dor inevitavelmente saudável do ofício e o prazer ficcional das nossas próprias expectativas.

O fazemos da nossa vida pode ser uma explosiva acumulação de paixões, mas pode ser também a nossa demagogia predileta. Eu decidi mudar a tônica minha vida. Aprendi que posso viver sendo quem eu preciso ser.

Para quem ainda insiste em ficar nessa corrida incessante da vida moderna, a minha esperança é um dia vê-lo do lado de cá e te ver desfrutando de uma vida com mais sentido.

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O que ninguém te fala sobre a morte

A morte é implacável. Não negocia. Já reparou que somente ela tem o poder de nos acordar para sentimentos escondidos?

Conheço homens durões — tipo aqueles de pestana larga, cenho intenso e peito estufado — que só vi chorar como criança diante de um luto. A morte nos coloca no divã da vida.

O fim permanente sempre nos salta os olhos para o amor. Os que não estão mais aqui são sempre os mais amados, aqueles que já não podem nos ouvir são quem nós mais admiramos, aqueles que não podemos mais ver são justamente quem devotamos às nossas mais sinceras homenagens.

Levamos flores em seus novos endereços. Tijolo, cimento, tinta e poucos metros quadrados. Sem sacada. O jazigo é um apartamento eterno. Enterrar alguém faz a generosidade aumentar e o motivo pode ser muito menos nobre do que se parece: Com os mortos já não precisamos mais lidar com reações. A coisa fica totalmente passiva. Sem esperneio, sem protesto, sem possibilidade de contrariedade.

Não se pode fazer mais nada diante da brutalidade que a vida tem de nos arrancar uma pessoa amada. Daí em diante, todas as frustrações e desapontamentos se tornam secundários. Parece que é irrecuperável a vida perdida. E, de igual modo, o tempo passado.

A morte não pode nos congelar

A morte é um trem desgovernado. É um sinal vermelho furado. É um tiro que saiu pela culatra. Um escorregão durante o banho e até uma escalada no Everest. A morte não faz acepção.

Os amigos, familiares e conhecidos vão indo embora e deixando aquele vazio sufocante na gente, mas na verdade o que não suportamos é a realidade de que pessoas incríveis também morrem.

Não é a falta que nos fere, mas é a incerteza do que fica. A gente se vê sem armas, sem possibilidade qualquer de prosseguir, sem um corrimão para escorar, mas logo aprende, na marra, que a gente morre junto quando perde o gosto, ou melhor, o sabor de insistir.

Quando o término da vida chega temos que fazer um dever de casa sem ter lido uma linha dessa matéria obscura. Aprendemos que, se realmente desejarmos suportar a vida, temos que estar prontos para tolerar o óbito.

A morte tem um rosto menos terrível quando se é esperada. Agora, basta ela vir sem avisar, como aquele parente no almoço de domingo, que a gente logo se vê perdendo completamente o juízo.

A morte é democrática

Precisamos nos dar conta de que estamos em direção do instante em que os maiores intelectuais catedráticos e as pessoas mais idiotas do mundo precisam fazer o mesmo brinde.

A morte fala mais sobre a gente que fica. Ao invés de ter receios com a morte, precisamos ter medo da vida insuficiente. Dizem por aí que ninguém tem a capacidade de compreender do que é feito a morte, mas isso não interessa, afinal, a gente também não faz ideia do que é a vida.

Quando a morte colocar suas mãos frias cascudas sobre meu ombro e anunciar que é hora de partir, vou olhar bem para a cara dela e dizer: “Vou sim, mas queria registrar em ata, por favor, o meu protesto.”

Porque pior não é morrer, pior é não ter vivido o suficiente e ainda ter que dividir condomínio com as baratas.

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O que ninguém te fala sobre pensar diferente

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. É por isso que gosto de imaginar que desenvolver a inteligência quer dizer eventualmente invadir de maneira brusca as próprias convicções e ser capaz de ultrapassar as camadas desconhecidas do poder que nossas ideias prontas exercem sobre nós.

No contexto atual, isso torna-se extremamente difícil. Primeiro porque, de modo geral, nós não temos a coragem de meditar profundamente sobre a origem das nossas ideias.

Aceitamos que somos apenas respostas do meio cultural em que vivemos. Nunca nos perguntamos porque vemos o mundo da maneira que vemos, porque percebemos a politica de apenas um viés, o que nos leva a julgar a sociedade a partir de um olhar e entender as relações conforme queremos.

Não estamos disponíveis a refletir de maneira honesta diante do espelho. Isso quer dizer que conforme vamos conhecendo o mundo temos um sentimento de concordância e discordância e vamos adotando aquelas convicções como verdade ou não.

A ignorância não pertence só aos ignorantes

Por um lado, engana-se quem pensa que isso acontece somente na ignorância rasteira. Os diplomados são as vítimas mais comuns justamente pelos seus recortes hiper-parciais e estritos da realidade.

Basta perguntar a eles qual é a origem de determinada ideia que defendem para notar que quase nunca tiveram interesse em investigar profundamente suas raízes, apenas empilharam seu conhecimento como quem monta uma biblioteca cheia de um livro só.

Na sua grande maioria, os “intelectuais” — com aspas propositais — responderão tentando justificar suas ideais a partir de suas perspectivas pessoais ou contextuais. Criam argumentos em favor de si, mas se esquecem que não lhes perguntamos sobre razão das ideias, mas sim sobre a origem delas. Eles não sabem porque pensam o que pensam.

Ai vai uma denuncia agravante: Se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que elas exercem sobre você. Isso quer dizer que desconhecer a raiz faz com que não seja capaz de saber quem foi que colocou essas idéias dentro da sua cabeça. (Isso explica os papagaios ideológicos, por exemplo).

Esse rastreamento quase que biográfico dos próprios pensamentos torna-se um exercício fundamental para entender a raiz e a maneira com que sua formação da consciência trabalha.

Faça um exercício intelectualmente honesto

Você precisa compreender a história das suas ideias e ter um interesse no nascimento delas. Precisa conhecer a origem pessoal, familiar, sociológica e cultural das suas ideias e ser capaz de identificar claramente as correntes culturais e de pensamento que estão presentes em você.

E não só isso, mas prescrutar como exatamente elas estão moldando seu pensamento no presente e no futuro. É só a partir daí, que pode-se trabalhar a inteligência e ter a condições de julgar a realidade com a criticidade respeitável. Se você não é honesto com sua mentalidade não terá condição de saber se o caminho intelectual adotado é sadio.

A burrice começa quando absorvemos qualquer ideia majoritária a esmo.Mesmo aqueles ditos instruídos incorrem neste erro crasso de não conhecer e confrontar suas maiores seguranças intelectuais. Pelo contrário, blindam-se dos controversos.

A pergunta fundamental a qualquer um que queira pensar diferente

Fazer essa “psicanálise intelectual” é ser capaz de deitar no divã e tentar lembrar onde foi que você teve contato com suas ideias.

Você sabe onde foi que suas ideias sobre todas as áreas da sua vida nasceram na sua mente?

Frequentemente, o sujeito medíocre, acredita piamente que ele pensa com própria cabeça. Qualquer tolo saber que isso é praticamente impossível em decorrência das inúmeras correntes culturais e o poder imenso delas sobre nós.

O que estou causando aqui não é só uma provocação por esporte, mas um convite para que você seja capaz de entender melhor que sua vida é repleta de oportunidade e maneiras diversas de aprender e entender o mundo. Mas nem todas são sadias. Nem todos precisam ser aceitas. Nem todas são minimamente inteligentes.

Quando levado as última consequências, esse papo de que cada um tem sua verdade não se sustenta. O inteligente é justamente o sujeito que abandona o orgulho bobo de dizer : “Eu penso com a minha própria cabeça” e passa a reconhecer que mais importante que ter uma opinião própria, é ser capaz de ter a opinião verdadeira, sensata e palpável.

Isto é, o sujeito inteligente deve aprender a ver que nem tudo que ele pensa corresponde a verdade mais essencial. O papel do inteligente não é conversar com todas as possibilidades, mas sim abraçar os fatos com responsabilidade.

Pouco importa se uma ideia é própria, se tem personalidade, se é mais aceitável, se é mais popular, toda ideia tem que ser fiel ao que somos e também ao que o mundo se diz ser.

O que ninguém te fala sobre pensar diferente é que isso não garante nada. Não há glamour em ter as próprias opiniões. Ser coerente é mais honesto. É por isso que o inteligente crível é cada vez mais raro.

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O que ninguém te fala quando um amor não é possível por força maior

Fatalmente, há amores incontestavelmente inviáveis. Não há falta de interesse. Não há ausência de carinho. Não há uma incompatibilidade sequer. Apenas são amores que nasceram, mas não tem espaço de crescer. Amores de incubadora.

Parece que há uma lei obrigatória no universo em que todo mundo um dia vai encontrar a pessoa aparentemente ideal para entrar na sua vida, mas no lugar e no tempo errado.

Todo mundo já viveu aquela pessoa que mexe com a gente de maneira diferente. Como quem joga uma bomba atômica no meio da alma e nos arrebata sem razão aparente.

São pessoas que vivem perambulando pelos nossos pensamentos como quem caminha confortavelmente por um jardim de lembranças. Nos visitam a todo momento, moram em nossas mentes e estão presentes diante de um sabor, uma imagem, um som ou determinadas palavras.

Aquele fatídico dia da constatação

Até que chega um dia em que vocês tem que sentarem um ao lado do outro, encarar os olhos e concordarem que amam a maneira como se dão bem, que acham graça como sentem-se felizes juntos, que se pegam sorrindo ao perceber que ambos os sonhos estão muito alinhados, que a admiram-se por serem pessoas foda no que fazem, que se vêem como companheiros incríveis e que amam cada parte um do outro.

Até que num dado momento sua garganta dá um forte nó de escoteiro enquanto diz a ela que fica encantado com a maneira que prende o cabelo, que fica feliz com as conquistas pessoais dela, que sente que a vida é boa demais na sua presença e que fica eufórico quando ela combina as roupas daquela maneira.

E quando já estão quase convencidos que acertaram em cheio nas pessoas amadas, acabam por sofrer um chocante e agressivo lapso de realidade cruel. Dolorosamente vocês precisam concluir que apesar de tudo isso, a vida atual não os autoriza a ficarem juntos devido a um forte e irreversível contratempo prático e momentâneo.

Toda aquela compatibilidade é ignorada pela mais dura razão.

A sensação de impotência e o medo vindouro

Os dois sabem que se dependessem só de si ficavam juntos, mas sabem também que a rotina das suas vidas, o contexto em que vivem, o momento social e profissional em que estão não deixa as coisas serem simples.

A tortura é justamente constatar que seriam a melhor combinação, mas notar que a coisa não pode acontecer pela pura inviabilidade e mais nada. Quando um amor não é possível, é agoniante notar que toda aquela vida morrerá pelo simples desencontro momentâneo.

Há sempre pessoas que tinham tudo para dar certo, exceto pelo fato de estarem em momentos diferentes, em contextos diversos ou com caminhos desajustados.

A crueldade é esta: Não é que o amor não aconteceu, é que ele não tem como continuar. É um amor que não estava pronto.

Nesse caso, resta apenas contar com a sorte ou assumir o risco de enterrar quem ainda respira por aparelhos. É uma decisão completamente dura.

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O que ninguém te fala sobre ser um péssimo amigo

O telefone esgoela. Um inconfundível apito agudo de notificação. Agoniado, tiro-o do bolso e tento entender a emergência. A tela mostra uma prévia incompleta de uma nova mensagem recebida.

Era uma amiga — Daquelas que não vejo há tempos — me escrevendo. O visor antecipava algumas palavras da indignação. Por um momento, tive medo de ler o restante. Às pressas, enfiei aquele objeto novamente no bolso e voltei a caminhar pela Avenida Paulista no mais absoluto cinismo.

Cem metros a frente, a curiosidade me angustiava. Tentei distrair-me com o alto tom de voz estridente de um vendedor de rua, mas quem gritava mais alto era a inconveniência da minha dúvida.

Saquei o aparelho novamente e descobri o inevitável: Sou um péssimo amigo. As palavras que ela escolhera para me dar flagrante eram diretamente duras: “Qual é o seu problema? — escrevia ela — Se eu não te procuro para saber como está, você simplesmente não se importa, não é? Você é um amigo realmente relapso e ingrato.”

Tentei puxar na memória a última vez que conversamos e não havia registros recentes. O flagrante era inquestionável. Ela não era a primeira a reclamar dessa falta. Tive que admitir: Interesso-me pouco pela vida das pessoas. Inclusive das que amo.

Aquela mensagem deflagrou-me em uma investigação necessária: Será que sempre fui um péssimo amigo e só agora me dei conta?

A coisa só piorou depois de uma apuração sincera. Abri o Whatsapp — que é a mais moderna praça da tagarelice contumaz — e notei que todas as últimas conversas haviam sido iniciadas por outras pessoas. Senti-me realmente mal com minha falta de dedicação.

Eu sei o que está pensando: Se essas pessoas fossem realmente seus amigos de verdade, esse abismo profundo não existiria entre vocês, afinal, uma das coisas mais belas da amizade é a reciprocidade. Vamos ter que discordar.

Sinceramente, não sei bem se amizades realmente duradouras precisam ser bilaterais o tempo todo. Há amizades que simplesmente resistem a toda impessoalidade.

Lembro-me agora do Luciano. É, sem dúvida, o meu amigo mais antigo. Ano que vem completamos catorze anos (dos vinte e oito que tenho) da mais fraternal amizade. Não conversamos muito sobre coisas cotidianas, falamos mais de banalidades. Orgulho-me em dizer que é a amizade mais leve e consistente que tenho.

Mesmo sem ficar perguntando muito sobre a vida dele, somos bons amigos. Estive lá enquanto ele formava-se na graduação, acompanhei o seu casamento com uma felicidade ímpar, vi sua alegria incontrolável quando teve o primeiro filho, e agora, assisto empolgado a sua expectativa com a chegada do segundo bebê. Ele, por sua vez, esteve nas melhores e piores ocasiões da minha vida.

Fico longos períodos sem ouvir sequer a sua voz ao vivo. Meses a fio sem o ver pessoalmente. No entanto, quando temos a chance de nos encontrar é como se realmente não houvesse nenhuma distância existente.

Este rodeio inteiro é para explicar que talvez o segredo da amizade duradoura seja o implacável barranco entre a convivência invasiva e o recolhimento respeitoso.

A amizade genuína não vive apenas de telefonemas frequentes, de cerimônias protocolares, de obrigações solenes. Ela está justamente nos churrascos de datas improvisadas e nos acasos mais providenciais. Há uma certa beleza na amizade ausente. É bonito quando ninguém sente-se menos amigo por desleixo.

Algumas amizades apenas são. Faço sim questão de entender que amizade de verdade não dá em árvore, e por isso, preciso alimentá-las com eventuais farturas, mas não estar sempre presente não deveria coloca ninguém diante de um pecado irreversível.

Marquei um café com a amiga da mensagem. Fiz questão que fosse na cafeteria gringa preferida dela. Ela riu quando expliquei que amizade não é estar sempre presente, é odiar o péssimo café torrado daquele lugar, mas aceitar tomá-lo mesmo assim por puro amor à sua companhia.

Acho que ela entendeu. Ela é uma boa amiga. Eu é que preciso muito melhorar.

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O que ninguém te fala sobre migrar para a vida adulta

Todo mundo sabe da minha clássica birra com a juventude moderna. Estar perto dos trinta parece não me autorizar a ensaiar uma pirraça, mas a cisma é um esporte antigo.

Tenho convivido mais tempo com pessoas mais jovens que eu e algumas delas acabaram de começar nesta empreitada eterna de uma sucessão interminável de boletos chamada de vida adulta.

O diagnóstico é claro: Estamos perdidos.

A ironia de todo esse episódio é que virar gente grande não parece tão fácil para uma geração que é considerada a mais preparada de todas, ou seja,ao mesmo tempo, em que possuem currículos invejáveis e experiências quilométricas são também descaradamente os mais despreparados para a vida nua e crua.

São meninos e meninas cheios de habilidades mas que não foram treinados para errar. São cachorrinhos com inesgotáveis truques bem ensaiados, mas que não param de chorar porque sempre querem passear na coleira.

São famintos por quaisquer tecnologias e elas lhes são familiares, mas não lidam bem com os danos que elas criam. Gostam dos louros e reconhecimentos mas ignoram o esforço até lá como um desprezo proposital.

Colecionam selfies nas mais belas paisagens e gabando-se de conhecer diversos lugares no mundo todo, mas não visitam um centímetro da sua própria realidade interna. As suas viagens são todas exteriores, mas nunca para dentro. Alguns até meditam, fazem yoga, são naturalistas, mas no que se trata de decisões emocionais na vida, são mestres na procrastinação relapsa.

O sofrimento parece tomar conta de uma parcela consideravelmente real nos seus cotidianos. Foram ensinados que a felicidade estava iminente, mas o “logo ali” nunca chega. Esconderam deles que teriam que criar-se diante da dor. Até o mertiolate é Nutella.

A coisa piora no caso da classe média e da alta. Acostumados com a mãe passeando na diretoria dos bons colégios particulares, aprenderam o verbo To Be antes mesmo de decorar Bhaskara, tiveram a chance de ver a Monalisa de perto e ao vivo ainda aos 20 e poucos, mas não aprenderam a ter conversas sérias a não ser via mensagem de texto e preferem relacionar-se com o outro virtualmente. Até o tradicional “te pego na saída” é raro de ouvir.

Um segundo exame se faz necessário

A culpa não é deles, muito menos dos seus pais. A geração que teve muito mais oportunidades que a genealogia inteira, criou-se com a sensação de que a vida é uma linha reta e crescente, por isso, eles se sentem gênios não compreendidos que o mundo ainda não descobriu.

Nas suas profissões, acreditam que não podem encontrar seus sonhos trabalhando para qualquer pessoa. Olham sempre para uma maneira de não depender de instituições, de não ter que aguentar aquilo que julgam não merecer, de lutar pelo que querem — ainda que na maioria das vezes não saibam o que seja.

Acreditam que passar perrengue é trair sua vocação. Ficam perdidos, empacados e estacionados em sua própria falta de humildade. Eles têm dificuldade de lidar com a velocidade das coisas. Sofrem as mais terríveis ansiedades.

Negociam com tudo e todos, mas não dão conta de lidar com os degraus da vida sendo subidos um a um. Demitem-se por qualquer razão, rompem relacionamentos por comodidade, arriscam tudo sem responsabilidade. Colocam-se sempre em primeiro plano crentes que um mundo ideal está para chegar.

Como todo estreante, eles tentam forçar as regras, ganhar debates na histeria, conquistar tudo no grito, a fazer-se ouvido nos empurrões nada éticos. Vivem como se alguém estivesse lhes devendo a felicidade tão sonhada.

A crise da autoridade e de si mesmo

Nesta onda, os pais acabam negligenciando a postura de autoridade dentro de casa realizando manobras para poupá-los das angústias e para garantir conforto que eles próprios não tiveram, os professores têm perdido sua voz e mal conseguem realizar seu papel de educador, os patrões têm perdido o cabelo apavorados com uma geração que reage a tudo de maneira imprevisível.

Estamos diante do mundo lotado de direitos sem que haja responsabilização, maturidade e reciprocidade.

Os jovens vivem temendo o fracasso pessoal, sendo perseguido pela ideia contínua de que o futuro deve estar garantido sob qualquer circunstância. Acontece que demoram para entender que a vida não é a historieta que os seus pais contaram.

Foram treinados para ser uma máquina de habilidades como ferramentas completas, mas ninguém falou que teriam que estar preparados para enfrentar a dor e a decepção. A todos, cabe fingir felicidade. E calado para não ser ridículo.

A pílula de realidade

Precisamos entender que melhor do que ter um bom emprego, ter uma condição razoável, falar inglês fluente ou até mesmo ter qualquer produto da Apple, é aprendermos que vão ter horas que precisaremos nos virar sozinhos.

É como se a vida dissesse em alto e bom-tom: “Daqui para frente, bicho, é com você”. E ao invés de nos recolhermos ao desespero, pudéssemos responder: “Sabe, eu estou com medo disso, tenho essas dúvidas aqui, me sinto confuso quanto a isso e não faço a menor ideia de onde isso vai me levar, mas vou tentar descobrir.”

A vida adulta é partir de um ponto em que você terá que conquistar um cantinho nela mesmo que não haja qualquer garantia de sucesso e ter a coragem de escolher ir a luta mesmo assim.

É saber que nada vai sair como planejado, que nada é tão completo como parece, que nenhuma pessoa pode nos garantir a vida de sucesso e nenhuma coisa no mundo vai nos completar por inteiro, e saber que já que estamos aqui, e essa vida é única, curta e intransferível, é melhor não ficar choramingando por aí, porque o último minuto de vida pode ser agora.

O que ninguém te fala sobre ser jovem é que você vai se dar muito mal na vida, mas não tem nada de errado com isso. Apenas siga até que tudo fique bem.

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O que não te contam sobre morar em São Paulo

A selva de pedra mais famosa do Brasil é a nova residência fixa deste jornalista que vos escreve. Estou ajeitando as últimas coisas.

Mas não vou iludido, sei bem que São Paulo não tem disciplina alguma.Ela não está nem aí para seus planos. É aquele adolescente rebelde que faz o que quer a hora que quer e não consulta ninguém.

Se tenho medo? Ah, São Paulo não é tão perigosa como o Datena diz. Mas também, não é uma Nova Iorque que tem seus próprios super-heróis. Aqui, é você, sua coragem e mais nada. A sorte aqui é um mantra.

Está todo mundo sempre fazendo negócios. E a gente nunca sabe direito o que e quais são esses tais, mas a palavra “negócio” é propositalmente informal. Então, tudo bem. Às vezes, é melhor nem saber. Só sei que o dinheiro é uma divindade respeitada aqui.

“Deus me livre morar num lugar desses!”, dizem meus amigos do Paraná que reclamam inocentemente de um atraso de 3 minutos num almoço de domingo. Deus te livre, amigo? Se você precisar de Deus em uma cidade como São Paulo, é melhor que seja antes da hora de rush.

Agora preciso dizer, não há do que reclamar sobre os paulistas. Principalmente das suas padarias. A Unesco deveria oficializar o pão na chapa com um pingado como patrimônio mundial. Depois do Ibirapuera, pão com manteiga paulistano é o local mais lindo que já visitei.

Além dos inúmeros carros, tem aqui uma espécie de zumbis de terno. A maioria com um iphone na mão vagando com um olhar distante de um lado para o outro. Nem sei do que se alimentam. Talvez seja de insônia.

No meio de muita agitação, festas e shows, o sol é um evento a parte. Não é sempre que ele visita SP. Já a pichação é bastante comum. Assim como o uso de “mano” e “pode crê” nas frases. É realmente um dos únicos lugares no mundo onde a bagunça é legalizada e a organização desafiada.

Por aqui, é comum a perna perder a passada, o carro perder a entrada e o motorista perder a paciência. “Trânsito igual a esse nunca vi”, estou até agora pensando se o taxista estava se gabando ou não. Aliás, todo cara do Uber sabe muito de economia e política.

Curioso que aqui distância é contada em minutos. Pode-se andar 10 km em 12 minutos ou demorar 2 horas no mesmo percurso. Você pode chegar um dia em casa e descobrir que fizeram um shopping entre seu criado mudo e a cama. Ir no banheiro no meio da noite, só se passar pelo viaduto novo.

Estava acostumado a ver mais árvores do que prédios, a receber mais “bom dia” e menos olhares desconfiados. Em Sampa, todo mundo está sempre indo, mas também sempre vindo. Para onde? Sei lá. Talvez nem eles saibam direito. Duvido que tenha terra embaixo daquele asfalto todo.

A cidade realmente não dorme. Mas, quem que é que dorme com essa luz toda acessa? Aqui, perde-se a vida tentando ficar rico e a riqueza tentando recuperar a vida. Tem gente de todo tipo, mas não tem tipo para toda gente.Achar um amor, só vale a pena desde que tenha o mesmo CEP.

Já sei. Você quer saber o que foi que eu vim fazer aqui? Bem, vim ver de perto se o paulista é só um folclore cínico da cultura brasileira ou se existe mesmo gente de verdade no meio desse cimento todo.

Depois te conto.

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O que ninguém te contou sobre sua percepção equivocada do amor

O jeito mais fácil de afastar uma pessoa da sua vida hoje é dizendo a ela que você tem interesse em ficar com ela. É irônico, eu sei, mas é real.

Experimente conhecer uma pessoa, sair com ela e depois dizer o quanto tem gostado de conhecê-la, que sua companhia sempre o deixa feliz, que gosta do jeito com que ela joga o cabelo para trás enquanto conversa, que lembra-se dela cada vez que come uma nova refeição, que acorda e pensa no seu sorriso, que diariamente sente-se bem ao lado dela e que gostaria de passar mais tempo com ela se fosse possível. Em alguns casos, é tiro fatal. Elas somem.

Demonstrar amor tornou-se o jeito mais comum de jogar alguém para fora da sua vida

Quando paramos para olhar a geração dos nossos avós, vemos que eles consideravam o beijo praticamente um pedido de casamento, mas hoje, perguntar o nome do outro é só no final e se sobrar um tempo. Não faço a linha do romântico nostálgico, eu sei que tudo mudou.

Ainda assim, é impossível não notar que andar de mãos dadas, naquela época, era considerado uma declaração pública de união, hoje, é artigo de luxo mesmo entre aqueles que já se conhecem bem.

Temos medo dos dedos entrelaçados, do cafuné gratuito, da ligação inesperada no meio do dia, do “passei aqui só para te dar um beijinho rápido”.Que nada! A gente não consegue mais amar dessa forma.

Medo de amar é real. Descobri que já existe até um nome para isso: Filofobia.É considerado um dos transtornos de ansiedade e resume-se naquele medo irracional de apaixonar-se por alguém ou aquele medinho do que o amor pode trazer consigo. Somos talvez a geração mais carente de todas, mas a mais covarde que já existiu para o amor

O problema de carregar pesadas bagagens antigas

Eu até entendo porque vivemos assim, desconfiados do amor natural. Temos sobre nós, nossas bagagens emocionais que nos levam para um lugar de desconfiança.

Todo mundo conhece pessoas que sofreram muito com relacionamentos abusivos ou que tiveram de enfrentar convívios turbulentos no passado. O amor moderno tornou-se uma arma contra a confiança. Eis aí a razão do medo.

Este choque paralisante pode ter origem pelo receio de ser rejeitado, pelotrauma de uma expectativa não alcançada ou pelo simples desejo de não perder o controle das emoções. Isso tudo está nos deixando doentes e tem nos transformado em pessoas acostumadas a manter uma distância emocional considerável diante das possibilidades reais de amor.

Quando passamos a projetar paranoias sem enfrentá-las, trememos diante da possibilidade de uma amor arrebatador. Nos acostumamos com a ideia de ter o pavor de se misturar a alguém,alimentamos por meio da cultura a fobia de unir-se, domesticamos o horror de depender de outro, preservamos o terror de perder o controle dos sentimentos.

Adotamos de maneira aceitável o pânico de privar-se de si, vivemos constantemente o temor que nossa cultura nos deixou sobre a irrealidade da vida a dois. Perdemos o privilégio de tomar sustos positivos diante do amor.

O maior perigo que corremos é de nos deixar levar pela ideia de que todos querem apenas nos usar. Isso não é verdade. Alimentar-se desse tipo de ideia fará com que sempre tenhamos medo de alguém nos deixar e ir embora, construiremos assim, uma fortaleza de pensamento enorme para a melhor das desculpas para fugir do comprometimento.

Amar é foda, mas ainda é possível

Um bom modo de tentar amenizar essas ideias equivocadas sobre os relacionamentos é evitar comparações como um amor passado e saber quecada história se reserva a cada indivíduo, ter sempre em mente que não existe perfeição e que precisará trabalhar mesmo a sua confiança em outras pessoas.

É necessário não deixar os desapontamentos serem capazes de excluir contato com uma nova realidade, o medo de estar perdido diante de um sentimento é bastante comum, ninguém nunca vai saber exatamente o que quer viver até que experiencie uma realidade.

É besteira ter um medo antecipado de perder a liberdade, de não ter a imunidade alta para precauções ou desconfiar que o amor sempre lhe trará grandes prejuízos. Não deixe com que a ideia de que ao estar unido com alguém você terá a obrigação de privar-se da liberdade, da independência ou dos seus desejos pessoais.

Deixar-se guiar pela imagem do ideal ou nortear um futuro a partir de uma realidade já vivida é o que nos deixará imóveis.

Somos afetados pelo imaginário formado pela cultura, como músicas, livros e filmes.

A imagem coletiva de um amor fracassado recorrente é o principal responsável pela formação de crenças limitantes em nós.

Aprenda a controlar sua timidez diante do novo, disponha-se a suspeitar da incerteza convencional, fuja da ideia de complexidade e tenha em mente que sua ansiedade diante de contatos é comum, essa é a graça da coisa. Pule nesse penhasco.

Não tenha medo da sua imperfeição física. Trabalhe melhor consigo a ideia de que você pode sim sempre estar melhor consigo, de que pode aprender a se cuidar mais, a ver-se com mais empatia, que pode mostrar sua realidade exterior sim e que, às vezes, precisará cuidar dela também.

Terá que percebe-se melhor. Não deixe com que sua mente te diga que você é sua roupa, seu carro, sua carreira, seu corpo, sua doença ou as palavras rudes que o disseram.

Meu último conselho para você que tem medo de apaixonar-se é:

Não lute para manter-se isento deste sentimento de amar. Não deixe a sua percepção equivocada da realidade, sua ideia criada sobre amores fracassados definir o futuro do seu potencial de amor. Ame sem medo de errar, até que erre e tenha que recomeçar sempre.

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O que ninguém te fala sobre cobrar muito de si mesmo

Você não sabe bem dizer quando foi que começou a sentir-se mal. Falo de conviver com aquela sensação de que não conseguiu dar conta da vida. E a resposta é simples: Você tem cobrado muito de si mesmo.

É louco como conseguimos fazer um imenso esforço para sermos generosos, agradáveis e menos combativos com as pessoas ao nosso redor, mas quando isso precisa voltar para nós mesmo, aí não vemos condições. Este é meu caso, pelo menos.

Quando alguém nos confessa que está em uma situação complicada, vamos logo nos adiantando e dizendo: “Tudo vai ficar bem”. Mesmo se não soubermos se vai mesmo. Quando somos nós a pessoa com problemas, nossa mente funciona exatamente oposto. Somos especialistas em auto sabotagem.

Ficamos nos culpando, por exemplo, quando alguém simplesmente vai embora sem se despedir, pelo trabalho que não está dando certo, pelo projeto que teve caminhos não esperados. Vivemos com um sobrepeso das bagagens que carregamos na vida, andando com um fardo extra nas costas. Como se todas as contingências da vida, sejam elas positivas ou danosas, fossem exclusivamente nossa incumbência e responsabilidade.

Ser duro não é bater-se.

Ser duro consigo mesmo em tempos confusos pode até ser um exercício de disciplina necessário, mas quando deixamos a vida tornar-se dura demais ao ponto de experimentarmos apenas o lado negro, tudo fica completamente mais complexo de absorver e remediar.

Tenho aprendido, mesmo que a passos lentos, que não precisamos entender tudo que acontece na vida. Eita lição complicada! Por vezes, tentamos encontrar uma razão palpável que explique porque as pessoas são tão vaziasou porque algumas coisas simplesmente saem da nossa alçada.

Depois, quando a maré abaixa, percebemos que não importa quanto nos dedicamos a alguém, a algum projeto, a alguma nova empreitada, não interessa o quanto podemos ser agradáveis, organizados e planejadores, nem o quanto tentamos nos entregar para fazer tudo acontecer, as palavras que dizemos e ouvimos, uma hora qualquer, na aleatoriedade, determinadas coisas não estão no nosso controle.

Algumas coisas não dependem da gente

Mesmo que carregue no peito o maior amor do mundo, a maior disposição possível, o máximo desejo de que tudo saia bem, é preciso que haja uma contrapartida mínima para que esse investimento de tempo, dinheiro, mental, sentimental, físico, realmente valha a pena.

Aprender esta lição é muito difícil porque não cabe qualquer lógica possível. Viver é um tiro no escuro. Este é o cenário comum. Ninguém pode ser obrigado a permanecer. Isso é tudo, menos amor real.

A partir daí, podemos apenas optar por reconhecer nossa parcela de culpa sem medo de se descobrir, sem cobrar, mas sabendo que não podemos carregar toda a culpa sozinho. Basta entender que ver o final de algo sempre vai ser a pior coisa do mundo, mas ainda é possível reinventar a vida, sabendo que pessoas e projetos vêm e vão.

Não seja exigente consigo, nem com os outros

O coração é como a nossa casa. Muitas pessoas podem entrar, dividir um pedaço da nossa história, sentar no nosso sofá só de meia e colocar o pé na mesa de centro, comer, rir e ir embora sem lavar a louça. E outras vão simplesmente chegar de ultima hora com o desejo de ficar, vão aprender a zelar pela boa convivência, derrubar pipoca no tapete, mas vão sempre nos ajudar a deixar as coisas organizadas por toda vida.

O que não dizem sobre pessoas que se cobram demais é que elas geralmente não saem da inércia por depositar toda a sua vida à terceiros. Temos o direito de cobrar-se sim, no entanto, é fundamental termos o olhar para a vida como quem observa uma situação com muito cuidado. Tratar-se com respeito pode mudar nossa vida para sempre. É preciso ser generoso consigo antes de tudo. É preciso cobrar menos e ter amor para com você.

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Só mais cinco minutinhos...

Nunca senti tanta dor. Alguns já sabem, mas há 7 anos perdi meu primo mais novo, com apenas vinte anos de idade e que era praticamente meu irmão. Crescemos juntos e até tinha quem nos confundia. Ele era o mais novo dos quatro netos da minha avó.

A morte é algo bizarro. Sei da naturalidade da sua ocorrência, mas não concordo com a frieza da sua expressão. Como já escrevia o humorado Millôr: “O que eu penso sobre a morte? Sou contra!” É estranho. Um dia determinada pessoa está conosco e no outro seu rosto é visto apenas em fotografias. O sentimento que tive é inexplicável ao receber a notícia pela madrugada. 

Primeiro vem a esperança de que a realidade dos fatos não exista. Depois, o desespero diante da crueldade da finitude. Em seguida, a negação da concretude da morte. Após isso, a conformação de que os olhos confirmam o vazio que o coração sente.

Mas por que essa resenha toda?

Escrevo aqui com outro propósito que não é descrever o que houve ou tentar entender. Apenas vejo nessa oportunidade a condição de realizar um desejo que tive durante esse processo todo de luto: ajudar pessoas a verem a vida que importa.

Hoje me peguei pensando: “Eu só queria mais cinco minutos com ele!”. Mas como me foi roubada esta oportunidade, decidi escrever aos outros tantos jovens que diferente do meu primo, tem a condição de ler esta “conversa de cinco minutos”.

Desde aquele dia, declarei minha guerra contra o sistema que quer engolir os jovens como se a vida acontecesse apenas quando temos vigor e coragem o suficiente pra quebrar regras.

Bem, não sei a sua idade, não sei a sua nacionalidade, não sei onde você mora, com quem você anda, o que você faz e nem o que você pensa sobre seu futuro, mas existem algumas coisas que eu preciso lhe falar:

A verdade é que você não é dono da sua vida

Pois é, embora você pense que quem decide sua vida é você, isso não é verdade. Ninguém pode determinar o seu próprio caminho simplesmente porque não conhece todos eles.

Este mundo quer te enganar colocando sobre você uma falsa ideia de liberdade. Ele diz que você é livre, mas livre mesmo é quem tem a opção de não ser como todos.

Ele diz a roupa que você tem que vestir, as músicas que você tem que ouvir, a profissão que você tem que ter para ser feliz, quem você tem que namorar, como tem que agir para ser feliz, mas isso tudo é balela. Eles não sabem de nada. Faz parte do jogo para te deixar achando que é livre.

Fuja disso, fuja dessas correntes invisíveis. Você não precisa ser aceito por ninguém. Não se deixe levar pela maioria, ela é burra. Você não precisa ser um zumbi que anda em direção para onde todos vão. Você já é aceito em Cristo e isso pode modificar sua vida inteira!

Somente Deus, com seu olhar do todo tem o conhecimento de todos os caminhos diante dos Seus olhos e é por isso que somente quem anda com Ele pode ver com clareza toda a realidade desse mundo caído, constatar a sua brutalidade, notar seus absurdos e perceber que a morte deseja ser a imperatriz das nossas vidas, e mesmo assim não deixar-se ser governado por este sistema que quer te esmagar, mas poder ter a certeza que aqui neste tempo somos passageiros e que há esperança, pois existe uma realidade maior a qual Deus quer nos oferecer.

O dono da sua vida é o Deus-pai, que enviou seu Filho amado, Jesus, para que a morte não nos causasse danos eternos. Você pode tentar ignora-lo, fugir Dele, mas saiba que até o seu fôlego para correr, foi Ele quem deu. Ele tem que ser o dono das nossas vidas. E reconhecer isso, nos coloca para fora dessa estrutura que nos engana. Siga com Cristo e terá uma vida nova!

Você não sabe o que é melhor para você

Sua felicidade não está ligada a condições financeiras e materiais que você tem. Você não precisa ter o melhor emprego, passar na melhor universidade, ter a melhor família, a melhor namorada, a maior conta no banco, ser sócio da melhor boate da cidade, ser o mais popular, ir nas melhores festas para tentar ser alguém. Você pensa que isso é correr atrás da felicidade, mas não é. É só Ele, só com Ele que a vida pode seguir.

Você pensa que tem o controle sobre sua vida, mas não é assim. Você não pode dizer o que vai acontecer daqui até a próxima palavra que vai ler. Você não pode colocar sobre você o peso da sua felicidade, porque não vai encontrar nem dentro e nem fora do seu coração essa plenitude.

Nem se você for o maior, o mais bem sucedido ou o mais glorioso homem que já existiu, sem conhecer a Deus você é pó de chão! A morte é a única coisa democrática nessa vida. Você não pode buscar a felicidade sem se relacionar com Deus. E relacionar-se é se envolver intimamente, é conhece-lo, é conversar com ele, é aprender a amar como Cristo amou, a viver com a cabeça de Cristo.

Nele temos total contentamento! E por causa do que Ele fez na cruz, que já não somos infelizes! Você quer mais o que? Emprego nenhum, bem nenhum, pessoa nenhuma pode completar esse vazio de vida. Somente Deus é o tamanho perfeito do seu vazio.

Seus sentimentos não são mais importantes que de outros

Você não pode dizer que é vítima de pessoas e situações. Só se faz vítimas quem é a pior das causas. Mas para isso, tem remédio. Perdoe, não seja rude consigo mesmo. Jesus nos ensina que o perdão não tem a ver com esquecer o que houve, mas tem a ver com fazer com que o peso da ofensa e da diferença não nos separe das nossas comunhões com o outro.

Não existe tempo nessa vida para a falta de perdão. Não existe nenhuma ofensa que possa me separar dos outros. A própria vinda de Jesus na história é a reconciliação de Deus para com seus Filhos. Deus enviou seu Filho para que nós fossemos também perdoados e curados. Se Deus te buscou, busque o outro.

Só existe uma verdade e ela não vem da religião

Estamos submersos em uma realidade de mundo em que parece que cada um tem direito a sua própria verdade, mas não é assim. Deus é essa verdade. Quem quiser viver fora dela vai para o caminho de morte. E nessa morte, nem estou falando somente de caixão, estou falando de falta de significado.

Satanás não quer que você faça a vontade dele, mas quer que você não faça a vontade de Deus, e o jeito mais fácil disso acontecer é você fazer a sua própria vontade. Nós andamos em direção oposta de Deus, mas sua misericórdia para conosco nos coloca na sua dependência.

Você não crê em Deus porque diz crer, assim como não é médico porque acredita que é. Estamos acostumados a ver Deus como uma ideia legal ou como alguém que funciona como uma bengala para os momentos difíceis.

Pois é, essa também não é toda a verdade sobre Ele. Deus é uma pessoa. E para provar isso, mandou Cristo. E não há nenhuma experiência que tenhamos passado, ruim ou boa, que seu Filho, Jesus, também não tenha enfrentado.

A religião quer nos ensinar a nos comportar, mas Cristo quer nos ensinar a viver. A religião quer nos castrar, Cristo quer nos ensinar a produzir vida. A religião quer nos adestrar, Cristo quer tocar em nossas consciências.

A religião quer nos disciplinar, Cristo quer nos ensinar. São coisas diferentes, percebe? Comportamento não nos leva para o céu. Deus não é dez regrinhas. Deus é toda a verdade. Cristo nos leva para a vida plena, real, com significado. E hoje há tempo para você notar isso. Essa é a vida eterna. Cristo nos coloca no jeito certo de viver a vida, não é conduta, é vida.

Você acha que sabe o que é vida? Deus a criou e Ele mesmo nos deu. Essa vida é uma vida que faz sentido independente da condição, da realidade, dos fracassos e até da morte.

Antes de terminar esta conversa…

Se você leu até aqui, considere tudo isso que eu estou lhe dizendo. Por favor, não perca tempo. Viva para isso. Diga isso a seus amigos. E nunca se esqueça de que Cristo não vai desistir de você! 

E que hoje, não tenho mais meu primo para dizer tudo isso, mas Deus através desse infortúnio quer dizer a você: “Eu quero você andando comigo, e quero agora!” Deus não é uma ideia bem formatada, Ele é uma pessoa que decidiu não abandonar ninguém. Mesmo que não mereça, mesmo que não queira, mesmo que não se dê conta.

Eu sei, passei dos meus cinco minutinhos, mas o que é esse tempo diante da oportunidade de passar a eternidade com Cristo? Não quero que diga que não sabe onde está a felicidade, que não sabe como viver mais.

Cristo é tudo em todos, por todo tempo e em todo lugar. E Ele chegou a seu coração hoje. Procure por Ele e você vai voltar para os braços Dele, aqui, agora, e também no porvir.

Espero que seu próximo passo seja um passo em direção Dele. E seja agora. Se precisar, estou aqui. Se não souber como fazer, ainda estou aqui.


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O que ninguém te conta sobre perder uma pessoa

Meu celular toca de madrugada. A minha mente me sugere: “Nesta hora, nunca é boa notícia”. E não era mesmo. Deu um frio inexplicável na espinha. “Alô!”, eu disse com uma angustia na alma. Nunca havia sentido isso antes.

Do outro lado, era a voz do meu tio mais engraçado e divertido, mas dessa vez atipicamente amedrontada. Veio o tiro no meio do peito. Ele contou que seu filho - meu único primo por parte de pai - havia morrido tragicamente. Como somos somente três irmãos e ele na família, era praticamente o caçula da nossa família. Nunca mais a gente ia ver a típica gargalhada escandalosa do nosso Rominho.

Uma curva mal sucedida na estrada jogou aquele rapaz de apenas vinte anos diretamente de frente com um caminhão que vinha na outra pista. Sem chance de sobreviver. (A gente não sabia, mas quando ele estava um pouco estressado, tinha costume de dirigir para acalmar-se. Eu sei, é uma combinação perigosa. Eu teria falado se soubesse disso.)

Talvez você já tenha me ouvido contar essa história em minhas palestras e como isso mudou completamente a minha vida, mas hoje, realmente é um dia que não tem como esquecer. Há quatro anos atrás, aconteceria este que foi, sem dúvida, o pior dia da minha vida.

Esta imagem acima eu mesmo que fotografei alguns dias antes dele partir. A gente combinou tomar uma caldo de cana no lago da cidade, rimos demais neste dia e eu registrei essa foto. A mesma que tive que imprimir dias depois para colocar sob seu caixão lacrado.

Todo mundo tinha uma história com ele e sua gargalhada escandalosa, os amigos do curso de psicologia fizeram homenagem na formatura, os colegas de trabalho lembravam das suas inúmeras caretas e risadas, os amigos do colégio contaram histórias engraçadas sobre ele, outros amigos contavam-me que ele estava sob muita pressão no trabalho e outras dificuldades pessoais o atingiam. Ele não estava bem.

Eu fiquei dias pensando que mesmo sendo muito próximos, ninguém conseguia ver a angústia dele. Perguntava-me a razão pela qual eu não mesmo consegui notar suas dificuldades e ajudá-lo efetivamente. Eu não tinha uma resposta e estava longe de obtê-la. Na verdade, nunca a terei.

Dalí, em diante, prometi para mim mesmo que não ia deixar mais ninguém passar pela minha vida sem ter algum impacto. Esta foi a maneira que encontrei de trazer um outro significado a minha tragédia pessoal.

Passei a olhar para a vida de uma maneira bem diferente da maioria das pessoas. Como se tivesse virado uma chave na minha alma e mente, como se eu tivesse recebido um choque de realidade tão grande que nada mais na minha vida estava igual antes. E realmente tudo mudou depois.

Passei a observar mais as pessoas a minha volta e procurar entender suas necessidades, a identificar suas tristezas comuns com mais facilidade e oferecer ajuda sem me preocupar com o que vão pensar, afastei minha timidez social e perdi a vergonha de falar sobre mim e sobre tudo que vivo, passei a ser mais sensível para o próximo, a não ter vergonha pública de ajudar pessoas, a não deixar para dizer, fazer, reclamar, agradecer e experimentar depois. Tudo virou emergencial. Era como se a vida tivesse me dito: “Hey, estou aqui agora!”

No entanto, ter mudado a maneira com que encaro a vida, por vezes, me custa muito caro. É bastante comum eu me senti um E.T por onde vou. Aprendi a não ser uma pessoa habitual. Não tenho menor apego com o dinheiro, bens e aquisições, não me importo em passar horas conversando com pessoas de idade, faço tudo que está a meu alcance para contribuir com quem está a minha volta, aprendi nunca ignorar ninguém, a ligar no meio da tarde para trocar uma ideia sem assunto pré-definido, a não hesitar em falar que ama alguém, a não planejar muito meus futuro distante, a escolher fazer piadas o tempo todo, mesmo nos momentos ruins e me divertir com as situações mais complicadas e principalmente, a não me levar tão a sério assim.

Embora pareça que viver dessa maneira é positivo, boa parte das pessoas não entendem esse meu modo de ver a vida. Às vezes, elas me julgam como alguém sem ambição porque eu não tenho interesse em galgar lugares altos em grandes empresas, me acham muito depressivo porque eu simplesmente gosto de tirar sarro da brevidade da vida.

Muita gente jura que sou fútil porque eu troco um papo de política por um meme enviado no Whatsapp, podem ter a impressão de que sou arrogante porque invento todo tipo de desculpa para não frequentar lugares com música alta e de péssima qualidade, não faço questão de estar com gente que não sabe o real valor de um momento compartilhado de vida e naturalmente e esqueço o celular no meio de uma refeição com alguém. Eu prefiro ter momentos de valor com gente que me inspira.

Muita gente não se conforma com o fato de que eu não tenho aproveitado a oportunidade de ter ganho uma relevância e ser um destaque na minha profissão para focar em maneiras de gerar dinheiro e riqueza ou conquistar mais sucesso. Eu prefiro não trocar minha paz por dinheiro.

A maioria das pessoas não entende porque eu não tenho o hábito de viver no meio de gente mediana que tem como mote da sua vida simplesmente estudar muito, trabalhar o dobro do que precisa, alcançar a maior posição da sua empresa, comprar um carro esportivo bem legal para ostentar entre os amigos, adquirir um apartamento bem maior do que precisa. Eu tenho preferido gente comum. Daquelas que invertem a lógica.

A lição que o Rominho me deu ao ir embora para sempre foi que a vida é curta demais. E se a gente não se importar com o que realmente é essencial, estamos apenas vivendo sem razão real. Hoje, depois de tanta tragédias e momentos sem volta, é realmente importante não ser comum.

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O que ninguém te fala sobre ter 30 no RG

Completo 30 anos hoje. Os fios brancos do cabelo se multiplicam e os amigos reduzem numa velocidade assustadora. Os poucos que ficam sempre me dizem que apesar de ser considerado jovem, parece que já vivi mais que uma pessoa de 40.

Olhando para trás, vejo o tanto de coisa que já vivi e até me assusto. Pô, vovó estava certa quando disse que depois dos 18, a vida anda depressa demais que nem conseguimos acompanhar.

Tem gente que se importa mesmo em receber congratulações — aliás, esta é uma palavra de velho. Não sou ingrato. Sei que é bom saber que lembrarem da gente, mas receber “Parabéns” é um pouco estranho para mim. Soa algocomo: “Meus cumprimentos por ter apenas não morrido mais um ano”. Sei lá, este mérito nem parece ser meu. Enfim… é bom saber que fazemos parte da vida das pessoas e que elas valorizam a gente.

Lembro exatamente do dia desta imagem acima. Nossas festas de aniversários eram completamente diferentes das de hoje. Não tinha buffet. Quem quisesse fazer uma festa temática tinha que aprender a enrolar brigadeiro na mão, fazer decoração de isopor e aprender a rabiscar os desenhos da TV numa cartolina — Nem sempre dava certo, mas valia a pena.

A família era a principal empenhada na festa. O tio vestia-se de palhaço, o primo escolhia as músicas, a tia fazia a lembrancinhas, a avó cuidava da cozinha. Era uma mobilização familiar. E nem grupo de Whatsapp existia.

A indústria da festa infantil surgiu bem depois. O glamour era ter a família reunida e pronto. Não ganhávamos presentes caríssimos, mas éramos completamente gratos pelo que nossos pais podiam nos dar.

Nenhuma passagem para o Hope Hari era mais legal que o copinho de café com gelatina colorida enfiada na boca, o bolo decorado sempre com muito glacê, os salgadinhos fritos e açúcar eram liberados. A criançada em volta da mesa era considerado uma família de sucesso. A gente andava sempre em um bando de crianças, e se via como tal.

Naquele dia, a gente usava a melhor roupa, e às vezes, uma fantasia bem brega de um super-herói que uma vizinha costurava, chorava na hora de cantar parabéns de pura vergonha, detestava o momento do “com quem será” — aquilo parecia um casamento sem volta — e fazíamos de tudo para apagar a vela primeiro que o primo infeliz. A gente brincava com qualquer criança. O bexigão de doces era o momento mágico.

Não me considero abençoado pelo sucesso que conquistei a cada dia, pelo bom trabalho, mas sim porque sei que boa parte do que sou aconteceu porque sempre soube da onde vim, sempre valorizei pessoas que me transformaram em quem sou, sempre acreditei que a simplicidade era o elemento chave para nunca perder de vista o propósito da vida.

Hoje, nos quase 30, o que ninguém te conta é que completar mais um ano só vale a pena se for com das pessoas que amamos. Sem virtualidade, sem impessoalidade, sem emoticons. Festas surpresas nunca são realmente surpresas.

Naquela época, a gente não ligava para coisas fúteis, a gente só queria ganhar um beijo, um abraço e torcer para que dentro do pacote tivesse brinquedo e nunca roupa. A gente era tão feliz sendo simples.

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O que ninguém te fala sobre ser engraçado

Tenho uma amiga que sempre me diz que sair comigo para tomar um café é como estar no Jimmy FallonSão sempre perguntas não-óbvias, a cada pausa um comentário cômico improvisado, e no final, ambos sentem que aquilo tem que repetir mais vezes.

Depois que ela me disse isso, comecei a observar e fiz uma descoberta grave sobre mim: Eu realmente sou um viciado em fazer pessoas rirem.

O meu desinteresse pelo sério é antigo

Lembro que ainda garoto não me dava bem com pessoas que levam-se a sério demais. Tive uma chefe que gostava de ser vista como a melhor profissional do mundo, e, pelas costas, eu organizei um concurso de imitação dela com os colegas.

O mais curioso sobre isso tudo é que nunca fui o palhaço oficial da turma.No colégio, sempre soltava comentários baixinhos para que alguém com mais coragem falasse alto. Sempre acontecia e essa outra pessoa levava o crédito pela gargalhada da sala de aula. Dei inúmeras piadas para outras pessoas.

Hoje, como um observador cirúrgico que sou, acabo sempre arrancando gargalhadas das pessoas com comentários comicamente pontuais. Talvez seja esta a minha graça particular: Extrair do dia-dia uma graça despretensiosa.

A graça de todo dia nos dai hoje

Meu tipo de humor predileto tem a ver com as situações-limite. Aprendi a rir dos piores momentos. É o absurdo da vida que me faz gargalhar.

Qualquer um diria que este é um raro dom de Deus. Na verdade, penso exatamente o oposto.Se os convidassem para conhecer meus pensamentos mais profundos, chegariam a conclusão que Deus não pode estar por trás disso. Algumas piadas guardo para mim como aquele último Trident que você não quer repartir. Você quer deliciar-se sozinho. Agora entende o nível da coisa?

Eu não faço esforço. Automaticamente, minha cabeça torna-se uma máquina de pensamentos. Ela já está naturalmente condicionada a fazer trocadilhos involuntários, a realizar conexões cômicas com facilidade, a encontrar graça no óbvio e construir graça mesmo num papo mole de boteco. As piadas simplesmente surgem.

A vida é a melhor piada de mau gosto

Há poucos dias, eu cai da escada durante uma mudança de casa e tomei quatro pontos no rosto. Enquanto a doutora me anestesiava mandei: — Mais dois pontos, eu acerto na mega sena. Ela riu gostoso, mas me deu uma bronca. O humor pode estar numa tragédia

Aprendi a rir do intenso. Foi o hilário Mark Twain que disse: “A fonte secreta de humor em si não é alegria, mas a tristeza.” — Segundo ele: “Não há humor no céu”. Concordo com ele que as melhores piadas surgem em situações e momentos mais constrangedores.

Tenho pesquisado sobre pessoas tidas como engraçadas para tentar encontrar a razão deste meu vício. Desconfio que isso surge do meu interesse em ter um bom feedback das pessoas sempre rindo ao meu redor. A segunda opção é que criei um mecanismo de fuga necessário para afastar o tédio comum da minha vida. Aposto mais na segunda opção. Não é a toa que os melhores comediantes são judeus.

A graça está justamente em identificar o elemento que ninguém olhou ainda e satirizar. O humor reside especialmente no embaraçoso. Às vezes, até mesmo as melhores piadas podem te levar a indiscrição, ao desconforto e a aflição. Acontece.

Ser um cara engraçado dá trabalho

O que não te contam sobre ser engraçado é que provocará sempre nas pessoas uma expectativa altíssima a seu respeito.

Às vezes, sinto como eu fosse o único alívio para o ambiente, como se sempre tivesse que me auto superar nos comentários, como que fosse um escravo da minha criatividade ilimitada.

Esta coisa de fazer as pessoas rirem tem me deixado preocupado ultimamente. Pode ser realmente alarmante. Já pensei até que poderia ser uma espécie de doença com direito a diagnóstico, tratamento e medicação.

Já pensou? Um dia você vai ao médico e ele diz: “Péssimas notícias, senhor. O que o senhor tem é síndrome de Monty Phyton, mais conhecida como piadose aguda. Perdemos um paciente na semana passada disso. Falência múltipla de anedotas.”

Talvez neste dia faça mais sentido a expressão morrer de rir. Sei lá.

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O que ninguém te fala sobre a solidão ser uma coisa de adulto

Lembro que quando eu era criança fazia amizade com meia dúzia de palavras. Bastava levar um brinquedo para um lugar que logo arrumaria um amigo para brincar comigo. Criança tem muita facilidade para conectar-se às pessoas. Solidão é coisa de adulto.

Somos um mar de solitários e não há nada que possamos fazer para mudar isso de maneira rápida. Não adianta entrar no Tinder, ter milhares de seguidores no Instagram, fazer Happy Hour toda sexta, pedir um combo devodka ewhisky de dentro de um camarote ou ter muitos contatinhos no celular. A vida adulta é lotada de solidão.

Já repararam que, quanto mais velhos ficamos, menos pessoas vão aos nossos aniversários? Nosso círculo fica reservado apenas a pai, mãe, irmão e talvez meia dúzia de pessoas que sempre fazem os mesmos rolês de sempre.

Você já se vê sem muita pretensão de fazer questão das pessoas, acostuma-se com o edredom e o Netflix, não se importa em tomar um sorvete sozinho, em ir no cinema porque ninguém mais podia ir, em almoçar sua comida preferida sem ninguém para papear.

Não quero dizer que temos que estar acompanhados o tempo todo como se não tivéssemos nossas particularidades. É bom saber suporta-se, saber conhecer-se, ficar em silêncio sozinho olhando para o teto branco, ir viajar só com seu roteiro, comprar aquele ingresso para o show mesmo que ninguém possa ir contigo, correr pelo parque de fones na companhia apenas da sua playlist predileta do Spotify. É possível estar sozinho e em boa companhia.

No entanto, não ignore que, às vezes, a sua cama se transformará em uma grande campo de futebol e parecerá enorme só para você, que na sua mesa do almoço não terá nenhuma pessoa para dividir aquele prato enorme ou roubar sua batata frita, que seu inverno será bem mais frio por não ter com quem dividir um cappuccino no meio da tarde e o cobertor a noite, que não terá ninguém para xingar quando ver que a roupa espalhada pela casa é só culpa sua.

Você dará conta de que a vida adulta tem uma solidão tão particular. E que mesmo que corra atrás de companhia, poucas pessoas realmente estarão interessadas em quem você é. Todos são tão solitários quanto você, e nada mais vai mudar isso. Você será refém de outro solitário viciado e perdido.

A vontade do abraço parecerá utópica. O desejo de que alguém se preocupe contigo será uma ilusão impossível. Você estará na iminência de um perigo ainda mais danoso: Acreditar que somente com outra pessoa é que poderá ser feliz por completo.

Nessas horas, é melhor abrir as janelas da casa e deixar a luz entrar, tentar se esquivar de pensamentos ruins e pessoas que sejam apenas temporárias, de gente que não valoriza a permissão que deu para que ela seja tudo em você.

Ali, enquanto a solidão faz de você seu maior escravo, resista. Abra bem seu coração para escolher não se entregar por migalhas, mas principalmente abra os olhos para aquilo que está ao seu redor. Não menospreze a oportunidade de conhecer gente e ideias novas, de mudar de ambientes de vez às vezes, ou transformar seus hábitos, viciar-se em uma coisa inédita, trocar tudo que precisa ser trocado sem dó de dar embora. Assim mesmo, no impulso de mudança.

As melhores companhias são sempre aquelas que a gente menos espera. A solidão sim é uma companheira fiel, amigo.

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O que ninguém conta sobre o jeito que pensamos os relacionamentos hoje

Estou na mesa comendo com amigos. Ouço alguém dizer que ficar apenas com uma pessoa é ser ingênuo e que reservar-se a exclusividade é coisa de gente burra que não sabe o que o mundo tem a oferecer.

Mais uma vez, escolho me calar. Aquele olhar volta-se sobre mim. Sorrio sozinho diante do silêncio e continuo minha garfada como se nada tivesse acontecido.

Passa pela minha cabeça que a maioria adepta a esse discurso procura apenas justificar sua imensa falta de habilidade em dedicar-se a alguém.Faço essa acusação séria na mesa e complemento que estamos diante de uma geração completamente descompromissada, sem a mínima paciência, que age de maneira inconsequente e que não tem o desejo de crescer conjuntamente.

Mais uma vez, o silêncio paira. Concluo que temos por aí, de maneira nada exagerada, pessoas com sentimentos confusos, de idade emocional infantil e viciadas em si mesmo. Enterro o assunto. O clima de luto é visível.

Alguém sugere que penso isso porque meu relacionamento antigo fracassou. Termino de engolir sem levantar a cabeça. Arrumo os óculos, largo o talher e pergunto para o cidadão quais são os aplicativos que ele mais utiliza no celular. Ele faz cara de quem não entende.

Antes dele responder, disparo:

“Sim, a pergunta faz sentido. Basta uma voltinha nos aplicativos instalados no seu celular para descobrir que você os usa para resolver suas carências, problemas e ansiedades.”

Ele tenta me interromper, mas eu aumento a voz:

“Basta abrir o Instagram, para ver uma coletânea de melhores ângulos ao lado de paisagens invejáveis pagas a prestação do cartão, para notar os pequenos recortes fotográficos dos pratos bem enfeitados, as filmagens das suas bebidas caras do último final de semana. O rosto sempre maquiado das meninas e o cabelo e barba bem cortadas dos rapazes proporcionalmente tão enganoso como as suas vidas altamente felizes, bem resolvidas e agitadas.”

Dou um gole na água com gás e limão, prossigo:

“Se tivermos o trabalho de ver o Whatsapp notaríamos que fizeram dele um refúgio para momentos solitários. Basta acessar a lista de contatos para que o fim de semana não fique empatado. Imagens, vídeos e troca de mensagens nos dão a sensação de que estamos sempre acompanhados ou na companhia de qualquer um que quisermos e que nunca dormiremos sozinhos. E o Tinder?”

Ele engole seco, termino a pausa:

“É a maior marca que do ápice do desespero de qualquer um. Resolvemos olhar para as pessoas e avaliá-las apenas pelos olhos. A maneira que o amor recruta hoje é praticamente online, sem contato físico inicial, sem conversas longas, sem olho-no-olho, sem sorrisos intervalados e nervosismo antecipado.”

Ele, a essas alturas já fisgado, acaba dizendo que as redes sociais também podem ajudar muito. Tenho explicar:

“Esse modelo de procurar amor sem compromisso não favorece as pessoas que não estão em uma academia, que não frequentam restaurantes conceituados, que não viajam para lugares lindos, que não são consumidores inteligentes e que não se preocupam com uma vida virtual interessante. É nitidamente coisa de quem se preocupa apenas com aparência.”

Antes de deixá-lo falar, concluo didaticamente:

“Aliás, já que citou, preciso dizer que, desde meu último relacionamento, conheci pessoas ótimas. No entanto, todas elas estavam sempre tão cheias de pré-requisitos particulares, a maioria não queria conversar sobre coisas importantes, grande parte vivia usando suas desculpas esfarrapadas para fugir de responsabilidades, muita gente era completamente viciada em sua própria personalidade, de modo geral, nenhuma delas parecia querer ser madura suficiente para aprender a construir algo junto sem ressalvas. Elas tinham funis absurdos que revelavam um grande medo de envolver-se. A verdade é que sempre será um desafio encontrar alguém que esteja minimamente disponível a envolver-se sem que esteja com um zilhão de quilos de bagagens, mas junto disso, muita gente quer ser amada, mas não está pronta para amar. Você acha que tudo isso e culpa da ideia de exclusividade nos relacionamentos?”

Espetei o último pedaço de carne com agressividade, coloco-o inteiro na boca e mastigo como quem espera uma resposta.

Sentia de longe o medo de me dar uma resposta sincera àquilo.

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O que ninguém te fala sobre o bar virar o tribunal do amor

A mesa de bar é minha àgora. Quem me conhece sabe que sou daqueles que falam pelos cotovelos num canto da mesa. Tenho uma amiga que diz que sair só comigo é como participar de um talk show do Jimmy Fallon.

Eu realmente gosto muito de conversar e raramente não tenho assunto com pessoas. Para mim, essa prosa festiva de mesa de bar é parte de uma terapia comunitária. (É por isso que prefiro bares à baladas. Podemos sentar, comer algo e conversar sem competir com as músicas altas e repetitivas.) Conversar cara a cara é ainda o melhor jeito de passar um tempo com qualidade.

Pois bem, há dias, fui jantar com um grupo de amigos. Dado momento, o assunto proposto na mesa tornou-se o amor. Prometi não participar. Quando eu falo desse assunto sempre causo espanto nas pessoas. No bom sentido, eu acho.

Para ser mais exato, naquela ocasião, alguém falava da sua dificuldade em encontrar alguém sério. Comentava que até queria ter alguém e ser amada por ela, mas que ao mesmo tempo não estava afim de algo sério no momento. Fiquei confuso com o conceito dela de relacionamento. Isso já era o suficiente para quebrar meu silêncio, mas insisti em ficar na minha.

Cada palavra que saia da boca dela, ficava evidente que queria estar feliz ao lado de alguém, mas que também não queria o compromisso com essa decisão no momento. Era aquele teatrinho típico de pessoas que não conseguem se decidir entre envolver-se ou não na vida.

Por causa dos meus inúmeros textos sobre isso, olharam para mim como se fossem ouvir o pronunciamento de um Papa que recém assumiu o cargo. Era como se eu tivesse que dizer algo. Respirei e fui logo desembuchando sem medo:

Acho que essa constante promoção de guerra entre sexos e o sentimento de que somos o centro do mundo está arruinando tudo. De um lado, fica um tentando fazer com que o outro se adapte a ele sempre, tornando tudo o que ele mesmo projetou numa gincana para quem se envolve com ele. E de outro, não fazem questão de andar seus 50% em direção do outro. E mais: Esses constantes joguinhos psicológicos do tipo: ‘Não vou demonstrar interesse’ estão nos afastando de maneira rápida e danosa. Sinceramente, não tenho mais paciência para isso. Estamos vivendo um tempo difícil. Estamos desinteressando numa velocidade absurda das pessoas por puro capricho. E por fim, eis aí, o nosso maior medo: Quando estamos expostos a um relacionamento, não podemos mais pensar só em nós mesmo. E isso nos apavora.

Pausa longa até que uma das pessoas engole seco e concorda com a cabeça. A outra ri de nervoso e uma terceira fica totalmente sem resposta, mas pensativa. Imediatamente, a mesa mudou de assunto.

Eu posso até confessar que o amor é um réu difícil de ser defendido, mas isso não quer dizer que ele seja culpado por tudo, apenas que existe sobre ele milhões de culpas e acusações que na verdade cabe a nós. Alguns indícios reais, outros nem tanto. O coitado mal consegue defender-se de toda essa gente que o usa para esconder suas indelicadezas e sandices.

O amor raramente merece a sentença, é a gente que não dá conta de assumi-lo com toda sua bagagem na maioria das vezes. Somos nós que escolhemos ser frios, não se importar com o outro e acreditar que somos vítimas de acasos. Constatar isso é um passo para crescer, ignorar é dois para conformar-se.

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O que ninguém te fala sobre não se importar com a verdade

Ser jornalista me faz ficar preocupado com a ideia atual de que não existe mais verdade e mentira. Tentar relativizar ou moldar — para não dizer distorcer — conceitos à uma realidade pessoal parece algo bem perigoso.

Decidimos, sem pensar nas consequências disso, assumir que a verdade é tudo que está a nosso favor. E, aquilo que não nos apoia deverá ser rotulado como mentira. O truque é antigo, mas hoje fica evidente.

Quanto os fatos ocorridos em si, que são quem realmente merece atenção, eles pouco importam. Se algo está em lado oposto àquilo que pensamos, vemos abundar os eufemismos. Agora, se caso algo faça-nos sentir ameaçados, expostos ou desconfortáveis, a gente abandona os acontecimentos concretos e passa a adaptá-los.

A razão deste texto é entender que o problema não são mentiras que circulam.Somos nós. Um estudo diz que A desonestidade é inerente a nossa realidade humana e transpassa por todas as esferas da nossa vida. Até aí, não há muita novidade, mas e quando isso torna-se insuportável por ter permeado todas as esferas da vida? Estamos definitivamente na era da pós-verdade.

Pós-verdade quer dizer o que?

Ralph Keynes em seu livro A Era da Pós-Verdade: Desonestidade e Decepção na Vida Contemporânea (2004) traz o conceito daquilo que ele chamou de pós-verdade.

Este termo foi também eleito pelo Oxford Dictionaries como a palavra do ano em 2016. E o site oficial pontuou que, no caso do termo em inglês, post-truth, a palavra “post” não está ligado a um tempo posterior de um acontecimento, como quando alguém diz pós-guerra, mas sim tem a conotação de superação, como se aquilo já não tivesse muita importância.

Segundo o editor do dicionário, a pós-verdade foi usada pela primeira vez nesse sentido em 1992, em um dos ensaios do sérvio-americano Steve Tesich na revista The Nation. O contexto era que ele estava refletindo sobre o escândalo contra o Irã a Guerra do Golfo. No texto, Tesich relatou que “nós, como pessoas livres, decidimos livremente que queremos viver em algum mundo pós-verdade”.

Mas o que nós temos a ver com isso?

Por mais que o termo tenha sido usado mais recentemente no âmbito político, hoje é totalmente visível que não estamos mais atentos ao que, de fato aconteceu. Assumimos discursos sem se importar com aquilo que está por trás, sem ter condições de checar muitas vezes, sem a preocupação de certificar-se que a verdade assumida é o mais próximo da realidade.

E isso não é exclusividade da imprensa, este é o nosso dia-dia. Estamos sempre compartilhando mensagens caluniosas sobre os políticos que não somos simpáticos, modificando discursos de pessoas que não aprovamos determinados comportamentos, substituindo significados para responder as nossas demandas ideológicas, ocultando elementos de uma história para vender outras. Somos parte da gênese deste monstro que criticamos.

A grande discussão sobre as Fake News e como elas impactam a política é a maior prova de como esse conceito afeta a realidade a nossa volta. Além disso, há uma tentativa enorme de mudar a linguagem e os significados dos seus verbetes apenas para servir realidades ideológicas, existe uma grande tentativa de trazer significâncias modificadas a terminologias que antes era bem consolidadas.

O resultado dessa mudança no discurso lotado de pós-verdades é que passamos a adotar um perigo eminente de justificar qualquer horror em nome do relativismo. Os flagrantes já não provam mais nada, todo fato concreto precisará driblar as versões alternativas para se sustentar, ainda que ele seja comprovado.

As redes sociais ampliaram ainda mais essa discussão. Qualquer figura pública pode hoje fornecer opiniões em praticamente tudo sem que haja investigação. Sem contar que qualquer pessoa hoje pode se tornar um emissor de opinião sem que haja responsabilidade. Os algoritmos também não contribuem fortalecendo uma burrice monocultural que transforma o mundo em um grande condomínio fechado e agrava mais ainda os radicalismo.

Para fechar, em uma cultura de culto à personalidade, a identidade ultrapassa os argumentos. Sem contar a crescente perda de interesse nas evidências. Estamos mais abertos a receber aquilo que nos ajuda a propagar nossas ideias, e totalmente agressivos com o oposto. O resultado disso tudo é uma sociedade radical, que emite mentiras sem medo do que podem estar fazendo, que vivem cada vez mais em guetos mentais e que perderam de vista totalmente a noção de confiança e credibilidade.

A verdade já não importa. Importante mesmo é como ela pode servir a nós e ao grupo que pertencemos. O resto, a gente apenas ignora.

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O que ninguém te fala sobre lidar com a ansiedade

( Antes de qualquer coisa, consulte uma ajuda médica. Aqui é só um relato e pitaco pessoal!)

Curiosamente, começo o texto ansioso para saber como ele vai repercutir. Esta é a única angústia do escritor. Na verdade, todo mundo que produz qualquer coisa, de certa maneira, sofre da ânsia dos resultados. Alguém disse que a ansiedade é o excesso de futuro. E acertou na mosca!

Nada me tira da cabeça que o motivo de termos um amplo surto de ansiedade crônica na atualidade é este ambiente que criamos desesperadamente suscetível à preocupação. Isso nos coloca em um paradigma complexo bem próprio da modernidade: Não sabemos lidar com questões relacionadas ao amanhã.

Sinto-me na obrigação de explicar: Estamos acostumados a pensar nossas vidas a partir de um benefício imediato e a vida moderna tende a nos orientar a olhar para o momento futuro. Daí, o evidente climão.

O cenário instável e a recompensa do depois

Já notou que a maioria das escolhas que fazemos hoje não irão nos beneficiar imediatamente? Vamos a alguns exemplos:

  • Na vida profissional, de modo geral, a recompensa financeira do trabalho que fazemos hoje virá apenas no fim do mês.

  • O diploma que nos dará direito a uma posição social melhor está a pelo menos quatro anos de distância.

  • O resultado da dieta que começamos agora, será visto somente no futuro.

  • A relação amorosa sólida, precisará enfrentar a imaturidade, as fases e dificuldades do momento atual.

Eis o drama: Não sabemos esperar.

Como lidar com o imediatismo moderno

A ansiedade é nada mais que visitar corriqueiramente os problemas que ainda teremos. Fatalmente, viver neste ambiente de retorno futuro nos leva a insegurança, ao estresse e a sensação constante de medo.

Nosso cérebro parece não ter sido projetado para viver com olhos na frente. Naturalmente, a mente animal parece estar mais adaptada para viver em um ambiente de experiências à flor da pele. Lá vai um exemplo:

Se uma ovelha sente-se ameaçada por um lobo, ligeiramente, tem que dar um jeito de escapar. De modo geral, o estresse no mundo animal é pontual. Depois que a ameaça não existe mais, não corremos o risco de ver animais perdendo o sono da noite por causa de uma nova possível ameaça. Entende aonde quero chegar com isso?

Apenas como uma especulação - nada científica - a minha hipótese é que: Nosso cérebro acabou sendo obrigado a se desenvolver na marra, mas se recusa a venerar um estilo de vida de retorno futuro.

Há um século atrás, por exemplo, havia muita instabilidade e preocupação também, mas mesmo assim encontramos uma dinâmica muito diferente da nossa. Essa pequena janela de evolução no modo em vivemos, criou um hiato entre nosso cérebro primitivo e este jeito moderno de encarar a vida.

Estamos vivendo, a maneira mais aguda de uma sociedade que foi projetada para recompensas futuras enquanto desejamos, naturalmente, experimentar o aqui agora mais intensamente. Sacou?

A ansiedade é a vilã, então?

Não acho que ela seja sozinha. O estresse por não conhecer o futuro não é o único grande vilão.

Penso que a ansiedade acabou se tornando uma força a mais que ajudou neste tempo de retorno instantâneos.

O estresse pontual dos nossos ancestrais colaborou para que tomassem atitudes mediante a problemas imediatos. A nossa versão de humano mais primeva simplesmente tinha de resolver problemas de curto prazo como comer, se defender, dormir… Enfim, não havia a mesma frequência de estresse crônico em um ambiente de retorno imediato.

Sociedades menos modernas não sofriam com o futuro como sofremos hoje.

Não vamos encontrar um homem das cavernas se perguntando se vai ter recurso suficiente para ter fogo e comida. Posteriormente, criamos a energia elétrica e o supermercados, mas juntamente com elas, a ideia de valor e também de acúmulo.

Nenhum homem primitivo cortava lenhas e caçava pensando em ser promovido. Não temos informações de um casal das cavernas tendo longuíssimas discussões de relacionamentos. O problema central dos ambiente de retorno atrasado, é que eles raramente poderão resolver-se no momento presente.

A ansiedade ganha corpo justamente porque não temos a menor garantia de que ser um excelente aluno nos garantirá um bom emprego e um bom salário, ninguém pode prometer que se investirmos nossas economias na moeda nacional elas irão dar bons retornos, não temos a menor segurança de que se amarmos alguém por completo teremos uma reciprocidade na mesma intensidade e frequência.

Parece-me que, diferente dos nossos antepassados, estamos cercados de incertezas e damos muita importância para elas.

Olhando para a treta

Obviamente, não podemos simplesmente retornar para uma mentalidade que já não faz mais sentido, mas podemos sim aprender a analisar a realidade de uma maneira menos conturbada. Esta é a nossa vantagem cognitiva sobre nossos antepassados.

A questão central é mudar a preocupação para ação.

  • Ao invés de preocupar-se como será a relação sua com o dinheiro no futuro, que tal implantar uma ação de prevenção financeira?

  • Ao invés de preocupar-se como seus relacionamentos futuros serão, que tal começar a valorizar as que já existem?

  • Se algo no seu companheiro te preocupa, que tal conversar abertamente com ele sobre as expectativas que têm um com o outro?

  • Ao invés de matirizar-se a escolha da profissão, porque não ganhar tempo arrumando na cara de pau um estágio ou entrando em contato com alguém da área?

  • Ao invés de ficar preocupado com sua dieta de perda de peso, porque não concentra-se em cozinhar uma comida mais saudável a cada dia?

A maneira com que encaramos as coisas é que é a chave. Quando temos uma tarefa que possa ser recompensada de maneira futura, devemos transformá-las de algum modo em uma recompensa imediata.

Um bom exemplo é escrever um livro. É uma tarefa longa, trabalhosa e detalhada, não existe a chance de escrever tudo de uma vez, mas podemos nos bonificar com um jantar da comida preferida por cada capítulo terminado, por exemplo. É como damos novo significado as coisas.

Não adianta preocupar-se. É preciso agir.

Vamos direto ao ponto central do texto. Se sabemos que temos um problema de saúde, precisamos focar naquilo que podemos fazer hoje para amenizar. Se estamos em dúvida entre ficar com a loira ou com a morena, precisamos entender que se não escolhermos viver com alguém hoje, vamos ficar sem ninguém. Se não sabemos que proposta de emprego aceitar, precisamos apenas escolher o que mais nos faz bem agora.

Eu nunca tive como proposta aqui resolver seus problemas com a ansiedade, com o medo do futuro, com a sua impaciência diante da vida, com seu estresse por não saber escolher, com sua insegurança do que pode acontecer. Queria apenas debater e ouvir o que tem a dizer.

Minha esperança é que saiba que é preciso mudar suas preocupações por ações.

E se der errado ao final, pelo menos ainda há tempo de recalcular a rota. O que fazer com a ansiedade? Procurar ajuda médica e tentar transformar em práticas diárias aquilo que sabe que colherá somente a longos prazos. Acredito que este seja um meio de reduzir a incerteza e o estresse crônico que estamos metidos nesta sociedade moderna.

Se nada de certo mesmo, pelo menos não terceirizou suas escolhas. Viveu, aprendeu e seguiu. Acredite, um mundo sem ansiedade é um mundo chato para caralho. Mas um mundo dominado por ela, é pesado.

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O que ninguém te fala sobre a crítica

Eu acreditava ser imune demais às críticas. E na realidade, até era mesmo. Sempre escrevi publicamente, mas com um pouco de investigação, flagrei-me num delito inocente: Descobri que não era imune as desaprovações, apenas era um ignorante demais para ouvir quem pensa diferente.

Sinto-me obrigado a explicar. Sempre achei-me superior a qualquer oposição. Por causa disso, deixei de aprender coisas importantes sobre mim que poderiam ter me levado mais longe ou me ajudado a evitar muitos dos erros que cometi.

Colocar as críticas dentro da nossa convivência pode aparecer completamente sádico. Todo mundo sempre fala apenas de como espantar o lado destrutivo da crítica, mas a primeira coisa que aprendi é que lidar com críticas exige primeiramente que deixemos o lugar do rei para aceitar a nossa humanidade.

Temos vivido tempos de convicções rígidas que cada vez mais tem gerado uma quantidade absurda de pessoas que se acham muito autossuficiente. Temos dificuldade em aceitar, principalmente em uma realidade extremamente competitiva, que não estamos nunca acima de todos.

Agora, é verdade que aprendi com muito custo a saber diferenciar entre aquelas discordâncias que nos ajudam a perceber-se e aquelas que são realmente maldosas e com objetivo destrutivo.

Lembro que quando eu era criança uma garoto dividiu a bola comigo no futebol e no ímpeto da desordem, acabou xingando minha mãe com a clássica obscenidade de garoto. Fiquei enfurecido. A professora — que tenho quase certeza que era a tia Amélia já conhecida dos meu leitores — me disse algo essencial.

Na verdade, ela me fez uma pergunta básica, mas cirurgicamente precisa: — “Sua mãe é essa coisa feia que ele disse?”. Fiquei pasmo. Ninguém nunca tinha abordado dessa maneira. Lembro de sentir a fúria diminuir e a frequência do meu coração baixar fazendo meu ânimo acalmar. Eu disse quase inaudivelmente: — “Não, tia. Não”. Ela completou com uma voz doce: — “Então, não temos com que nos preocupar, certo?”. Queria apenas dar um abraço nela.

Aprendi que precisamos ser menos sensíveis e mais concretos. Entender a história do seu agressor ajuda a compreender a intenção dele. É fundamental saber o endereço de origem e o destino final de uma crítica. Não fazemos essa reflexão “Amelística” porque o lugar da vítima é ainda o lugar mais venerado da nossa geração.

Agora, quando recebo críticas, aprendi a focar na mensagem e fazer uma paralelo com a verdade. Nunca me importar com a repercussão dos meus sentimentos ruins diante de tudo e observar honestamente se há verdade no que dizem sobre mim para deixar de me esconder no martírio ou agir com agressividade.

Chamo pessoalmente essa condição de colocar numa balança a crítica e julga-la de “ fator tia Amélia”. Tem me ajudado a crescer quando necessário e abstrair quando possível.

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O que ninguém te conta sobre ser um gênio nada genial

Naquele tempo, tudo que tínhamos eram os já falecidos Orkut e MSN. Se você não faz idéia do que estou falando, talvez seja melhor dar um Google rápido. Eu espero. Vai lá.

Pronto? Já imaginou um mundo em que a internet ainda não cabia direito dentro de um telefone? Pois é, tínhamos “malemá” uma rede bem mequetrefe para ver e-mails. E olha lá. Mandávamos muito SMS. Ok, não fique com vergonha, pode dar Google de novo.

“Estou a caminho”, dizia a mensagem pré-definida. Naquele tempo a gente se falava apenas por mensagem de texto e nem tinha certeza se ia chegar para o destinatário. Era uma roleta russa.

Se quiséssemos saber aonde seria a festa de aniversário do nosso amiguinho da escola tínhamos que recorrer a mapas mentais dos pais e um pouco de sorte. Saímos de casa sem saber da chuva surpresa no fim da tarde. Não podíamos desmarcar nada de última hora com ninguém.

Acho que fui a última geração que usou uma Barsa. Essa eu explico. Era uma enciclopédia britânica em doze volumes que custava o preço de um carro popular. Era o Google que tínhamos. Passei muito tempo copiando mapas numa folha manteiga, verificando verbetes e seus significados, fazer trabalho em grupo dava realmente trabalho. A Barsa lá era uma espécie de Deus, um oráculo, e ficava inclusive na prateleira — para não dizer altar — mais alta e segura da casa.

Teve um tempo em que namorei uma garota à distância e cansei de ficar acordado até tarde para falar um pouco com ela via MSN, não podíamos ficar conectados uns aos outros o dia todo como hoje. Era tudo que tínhamos.

O telefone fixo ainda tocava. A hora do ônibus era um mistério. O vídeo game ainda “estragava” a televisão — pelo menos era isso que nossos avós diziam. Ninguém tinha muitas informações sobre muita coisa.

Também acredito que fui a última geração que sabe o que significa “1,2,3 lá vou eu”, “Tô de figas”, “Lenço atrás, corre mais”, “O stop é…”. Tínhamos discussões intermináveis para saber se a bola passou por cima do Raider ou não — o que tecnicamente era considerado trave ou gol no jogo.

Raros são aqueles que tem arquivos filmado dos seus primeiros passos, que conseguiram gravar suas festas de aniversários com o bolo de glacê da tia que manja de doces, poucos tem imagens se lambuzando na gelatina verde no copinho de café ou feliz embaixo daqueles bexigões cheios de doce.

A gente não era mais feliz, muito menos infeliz, a gente era apenas uma geração que não tinha fixação por informação.

Não pensávamos em um mundo com todas esse conhecimento disponível. Não pensávamos que os jovens teriam tanto acesso a leitura, a conteúdo, a diversidade de pessoas, a cinema de boa qualidade, a cartão de crédito pessoal e um aparelho em que nossos pais soubessem tudo sobre a gente em qualquer momento. Era um mundo muito dependente de coincidências, organização e um pouco de imprevistos.

Não faço aquele papel do tiozão nostálgico completamente convencido de que sua geração foi a melhor que existiu. O mundo nunca teve melhor. Nunca produzimos tanto. No entanto, acredito piamente que não estamos nos tornando mais geniais, apenas temos informações demais sobrando por aí.

Não somos gênios, apenas estamos num overload de informações. (Se você não sabe o que é isso, dá uma última googlada sem medo.)

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