juventude

O que você gostaria de ter aprendido sobre si próprio antes dos traumas

Penso que uma das maiores habilidades que ganhei com a idade — mesmo tenho apenas 32 anos — foi conseguir tatear um pouco e perceber coisas que antes ficavam no meu ponto cego da arrogância precipitada da juventude que acredita que sabe das coisas do mundo só porque conquistou algumas coisas, leu alguns livros e viveu determinadas experiências ruins.

Seria estranho se fosse diferente. Quando aprendi que precisava entender melhor as próprias emoções com a cabeça fixada em encontrar verdadeiramente o impacto que elas tem na minha mente, minha vida mudou. 

Normalmente, ou nos colocamos num caminho de esperneio e protesto diante do que sentimos ou fazemos o caminho oposto de encarar os problemas da vida como se fossemos uma grande vítima sem conseguir fugir de um carma. Nada mais infantil emocionalmente que isso.

Acredito que ao ganhar essa dimensão de autoavaliação precisa, não só ganhamos ferramentas para nos ajudar a crescer e avançar, como também podemos botar o foco de luz exato sobre situações que fortalecem nossos pontos fortes diante do mundo — mesmo que não o observemos no momento — como também nos colocamos cara a cara com as limitações.

Só que para conseguir trilhar esse caminho, precisamos recorrer a um recurso quase escasso nos dias de hoje: autoconfiança. É claro que todo mundo vê essa palavra apenas como uma capacidade de ser corajoso e enfrentar coisas, mas a verdade, é que isso tem mais a ver com reconhecer seus próprios valores sem construir muros e se esconder nas máscaras e assumir as nossas possibilidades e habilidades. Isso vale ouro para o amadurecimento.

Normalmente quando falamos de autocontrole emocional, as pessoas desistem de pensar uma realidade em que estão fora desse enlace. A maioria não se vê em um universo em que consegue domar, mesmo que em partes, os seus impulsos mais destrutivos. 

Controlar seus próprios impulsos, mesmo os emocionais, tem a ver com encarar tudo com transparência, isso é aprender a dizer a verdade custe o que custar para si, para o outro e para o mundo. Cartas na mesa. É ter o hábito de se mostrar verdadeiramente, o que acaba criando um ambiente de características confiáveis.

Ao mesmo tempo, isso exige da gente uma certa adaptabilidade. Temos que conseguir mudar nossas ações rapidamente sem ficar sentindo prejuízos com as alterações que sabemos que conduzem bem para nós. Mudar não só para melhorar o ambiente ao redor, mas para recriar um ambiente confortável para a mente.

A maior das nossas frustrações estão justamente por não se sentir competente para fazer o melhor que podemos fazer em qualquer situação que estamos. E isso vem muito da nossa sensação de incapacidade para a realização. Nossos medos sempre estacam as nossas iniciativas, nos impedindo de estar prontos para agir se uma situação exigir isso. Tudo isso está na mente. Ou melhor, naquilo que acostumamos a mente a se acostumar.

Não estou falando de otimismo barato. Estou falando em criar uma consciência pessoal que consiga elaborar mapas de ação que sejam possíveis e que nos colocam a agir conforme precisamos. Muito do otimismo que estamos acostumados a lidar não advém da construção de uma narrativa positiva sobre tudo, mas sobre entender que manter-se no jogo é sempre uma possibilidade viável. Não é fugir para fora da possibilidade do soco, é recebê-lo e absorver o impacto.

Por outro lado, estar na mira da sua própria reflexão não anula o poder que os outros têm sobre a gente e o quanto exercermos força sobre eles. Sentir e compreender as emoções dos outros, considerando as suas perspectivas nos ajuda também a ver o mundo para além do que conhecemos.

É preciso olhar para si, enxergando além do que precisamos, mas ampliar a nossa consciência para o ambiente, sem se sentir vítima dele, sem lhe dar um amplo espaço para atuar sobre a gente. É manter-se atualizado sem a ânsia de absorver tudo que existe, mas sobre estar ciente do que é suficiente para nos alimentar. 

Quando estamos com os olhos voltados para o outro também ganhamos uma dimensão de se relacionar com tudo de uma maneira mais concreta. Não dá para esconder-se o tempo inteiro dos males que a vida pode apresentar, nem acreditar na ideia tola de que uma vida blindada de tristezas e decepções é o rumo certo para a felicidade. Acredito que perdemos muito com isso.

Ser e se cercar de pessoas, pode nos apresentar um mundo de novas possibilidades que nos arrasta para o encontro de pequenas inspirações, pode nos colocar diante de exemplos interessantes e nos dar algo novo pelo que lutar.

Suponho que você esteja entendendo o que quero trazer aqui. Não adianta almejar influencia sobre as ideias, sobre as pessoas, sobre a vida sem ao menos usar essa capacidade para construir desenvolvimento contínuo. Nos tornamos influentes quando estamos trabalhando sempre com a verdade sobre o que o outro também consegue ver.

Não adianta criar histórias sem pontes na realidade perceptível. Não tem sentido centrar-se naquilo que você pensa, sente, realiza ou vive. Você não é ponto de partida para nada quando falamos do macro. A vida não é sobre a gente, e quanto mais cedo descobrimos isso, mais rápido crescemos.

Esse material só está te prendendo aqui até agora devido a uma coisa: A verdade une pessoas. Quando estamos comprometidos em desenvolver juntos, a orientar-se uns aos outros e a crescer em suas nossas inabilidades, incapacidades e olhar para as limitações claras, ganhamos força para montar um catalisador de mudanças importante. 

Não basta ter uma iniciativa para seguir em uma nova direção, é preciso aprender a gerir nossos conflitos e construir vínculos com a realidade, com o outro, com as nossas relações mais profundas e buscar manter relacionamento com aquilo que já fomos, com o que estamos sendo e com aquilo que queremos nos tornar. 

Não tem jeito. Por mais que eu também, assim como você, sempre acreditei ser hora de focar somente em mim, ou seja, valorizar o que penso e o que acredito ser bom, mas acabei descobrindo que reconhecer-se, amar-se e crescer é também um trabalho em equipe entre a verdade que admito e a coragem em ser cooperativo para mudar o que descubro de ruim em mim. 

Amadurecer é um trabalho constante de construir uma atmosfera que permita ser a si mesmo, enquanto ainda vamos nos revelando a nós. É obra sem prazo, mas não por ser inacabada, mas por perceber serem inúmeras as opções de ser sempre alguém, nem melhor e nem pior, mas diferente de ontem.

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O que ninguém te fala sobre lidar com a ansiedade

( Antes de qualquer coisa, consulte uma ajuda médica. Aqui é só um relato e pitaco pessoal!)

Curiosamente, começo o texto ansioso para saber como ele vai repercutir. Esta é a única angústia do escritor. Na verdade, todo mundo que produz qualquer coisa, de certa maneira, sofre da ânsia dos resultados. Alguém disse que a ansiedade é o excesso de futuro. E acertou na mosca!

Nada me tira da cabeça que o motivo de termos um amplo surto de ansiedade crônica na atualidade é este ambiente que criamos desesperadamente suscetível à preocupação. Isso nos coloca em um paradigma complexo bem próprio da modernidade: Não sabemos lidar com questões relacionadas ao amanhã.

Sinto-me na obrigação de explicar: Estamos acostumados a pensar nossas vidas a partir de um benefício imediato e a vida moderna tende a nos orientar a olhar para o momento futuro. Daí, o evidente climão.

O cenário instável e a recompensa do depois

Já notou que a maioria das escolhas que fazemos hoje não irão nos beneficiar imediatamente? Vamos a alguns exemplos:

  • Na vida profissional, de modo geral, a recompensa financeira do trabalho que fazemos hoje virá apenas no fim do mês.

  • O diploma que nos dará direito a uma posição social melhor está a pelo menos quatro anos de distância.

  • O resultado da dieta que começamos agora, será visto somente no futuro.

  • A relação amorosa sólida, precisará enfrentar a imaturidade, as fases e dificuldades do momento atual.

Eis o drama: Não sabemos esperar.

Como lidar com o imediatismo moderno

A ansiedade é nada mais que visitar corriqueiramente os problemas que ainda teremos. Fatalmente, viver neste ambiente de retorno futuro nos leva a insegurança, ao estresse e a sensação constante de medo.

Nosso cérebro parece não ter sido projetado para viver com olhos na frente. Naturalmente, a mente animal parece estar mais adaptada para viver em um ambiente de experiências à flor da pele. Lá vai um exemplo:

Se uma ovelha sente-se ameaçada por um lobo, ligeiramente, tem que dar um jeito de escapar. De modo geral, o estresse no mundo animal é pontual. Depois que a ameaça não existe mais, não corremos o risco de ver animais perdendo o sono da noite por causa de uma nova possível ameaça. Entende aonde quero chegar com isso?

Apenas como uma especulação - nada científica - a minha hipótese é que: Nosso cérebro acabou sendo obrigado a se desenvolver na marra, mas se recusa a venerar um estilo de vida de retorno futuro.

Há um século atrás, por exemplo, havia muita instabilidade e preocupação também, mas mesmo assim encontramos uma dinâmica muito diferente da nossa. Essa pequena janela de evolução no modo em vivemos, criou um hiato entre nosso cérebro primitivo e este jeito moderno de encarar a vida.

Estamos vivendo, a maneira mais aguda de uma sociedade que foi projetada para recompensas futuras enquanto desejamos, naturalmente, experimentar o aqui agora mais intensamente. Sacou?

A ansiedade é a vilã, então?

Não acho que ela seja sozinha. O estresse por não conhecer o futuro não é o único grande vilão.

Penso que a ansiedade acabou se tornando uma força a mais que ajudou neste tempo de retorno instantâneos.

O estresse pontual dos nossos ancestrais colaborou para que tomassem atitudes mediante a problemas imediatos. A nossa versão de humano mais primeva simplesmente tinha de resolver problemas de curto prazo como comer, se defender, dormir… Enfim, não havia a mesma frequência de estresse crônico em um ambiente de retorno imediato.

Sociedades menos modernas não sofriam com o futuro como sofremos hoje.

Não vamos encontrar um homem das cavernas se perguntando se vai ter recurso suficiente para ter fogo e comida. Posteriormente, criamos a energia elétrica e o supermercados, mas juntamente com elas, a ideia de valor e também de acúmulo.

Nenhum homem primitivo cortava lenhas e caçava pensando em ser promovido. Não temos informações de um casal das cavernas tendo longuíssimas discussões de relacionamentos. O problema central dos ambiente de retorno atrasado, é que eles raramente poderão resolver-se no momento presente.

A ansiedade ganha corpo justamente porque não temos a menor garantia de que ser um excelente aluno nos garantirá um bom emprego e um bom salário, ninguém pode prometer que se investirmos nossas economias na moeda nacional elas irão dar bons retornos, não temos a menor segurança de que se amarmos alguém por completo teremos uma reciprocidade na mesma intensidade e frequência.

Parece-me que, diferente dos nossos antepassados, estamos cercados de incertezas e damos muita importância para elas.

Olhando para a treta

Obviamente, não podemos simplesmente retornar para uma mentalidade que já não faz mais sentido, mas podemos sim aprender a analisar a realidade de uma maneira menos conturbada. Esta é a nossa vantagem cognitiva sobre nossos antepassados.

A questão central é mudar a preocupação para ação.

  • Ao invés de preocupar-se como será a relação sua com o dinheiro no futuro, que tal implantar uma ação de prevenção financeira?

  • Ao invés de preocupar-se como seus relacionamentos futuros serão, que tal começar a valorizar as que já existem?

  • Se algo no seu companheiro te preocupa, que tal conversar abertamente com ele sobre as expectativas que têm um com o outro?

  • Ao invés de matirizar-se a escolha da profissão, porque não ganhar tempo arrumando na cara de pau um estágio ou entrando em contato com alguém da área?

  • Ao invés de ficar preocupado com sua dieta de perda de peso, porque não concentra-se em cozinhar uma comida mais saudável a cada dia?

A maneira com que encaramos as coisas é que é a chave. Quando temos uma tarefa que possa ser recompensada de maneira futura, devemos transformá-las de algum modo em uma recompensa imediata.

Um bom exemplo é escrever um livro. É uma tarefa longa, trabalhosa e detalhada, não existe a chance de escrever tudo de uma vez, mas podemos nos bonificar com um jantar da comida preferida por cada capítulo terminado, por exemplo. É como damos novo significado as coisas.

Não adianta preocupar-se. É preciso agir.

Vamos direto ao ponto central do texto. Se sabemos que temos um problema de saúde, precisamos focar naquilo que podemos fazer hoje para amenizar. Se estamos em dúvida entre ficar com a loira ou com a morena, precisamos entender que se não escolhermos viver com alguém hoje, vamos ficar sem ninguém. Se não sabemos que proposta de emprego aceitar, precisamos apenas escolher o que mais nos faz bem agora.

Eu nunca tive como proposta aqui resolver seus problemas com a ansiedade, com o medo do futuro, com a sua impaciência diante da vida, com seu estresse por não saber escolher, com sua insegurança do que pode acontecer. Queria apenas debater e ouvir o que tem a dizer.

Minha esperança é que saiba que é preciso mudar suas preocupações por ações.

E se der errado ao final, pelo menos ainda há tempo de recalcular a rota. O que fazer com a ansiedade? Procurar ajuda médica e tentar transformar em práticas diárias aquilo que sabe que colherá somente a longos prazos. Acredito que este seja um meio de reduzir a incerteza e o estresse crônico que estamos metidos nesta sociedade moderna.

Se nada de certo mesmo, pelo menos não terceirizou suas escolhas. Viveu, aprendeu e seguiu. Acredite, um mundo sem ansiedade é um mundo chato para caralho. Mas um mundo dominado por ela, é pesado.

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