( Antes de qualquer coisa, consulte uma ajuda médica. Aqui é só um relato e pitaco pessoal!)
Curiosamente, começo o texto ansioso para saber como ele vai repercutir. Esta é a única angústia do escritor. Na verdade, todo mundo que produz qualquer coisa, de certa maneira, sofre da ânsia dos resultados. Alguém disse que a ansiedade é o excesso de futuro. E acertou na mosca!
Nada me tira da cabeça que o motivo de termos um amplo surto de ansiedade crônica na atualidade é este ambiente que criamos desesperadamente suscetível à preocupação. Isso nos coloca em um paradigma complexo bem próprio da modernidade: Não sabemos lidar com questões relacionadas ao amanhã.
Sinto-me na obrigação de explicar: Estamos acostumados a pensar nossas vidas a partir de um benefício imediato e a vida moderna tende a nos orientar a olhar para o momento futuro. Daí, o evidente climão.
O cenário instável e a recompensa do depois
Já notou que a maioria das escolhas que fazemos hoje não irão nos beneficiar imediatamente? Vamos a alguns exemplos:
Na vida profissional, de modo geral, a recompensa financeira do trabalho que fazemos hoje virá apenas no fim do mês.
O diploma que nos dará direito a uma posição social melhor está a pelo menos quatro anos de distância.
O resultado da dieta que começamos agora, será visto somente no futuro.
A relação amorosa sólida, precisará enfrentar a imaturidade, as fases e dificuldades do momento atual.
Eis o drama: Não sabemos esperar.
Como lidar com o imediatismo moderno
A ansiedade é nada mais que visitar corriqueiramente os problemas que ainda teremos. Fatalmente, viver neste ambiente de retorno futuro nos leva a insegurança, ao estresse e a sensação constante de medo.
Nosso cérebro parece não ter sido projetado para viver com olhos na frente. Naturalmente, a mente animal parece estar mais adaptada para viver em um ambiente de experiências à flor da pele. Lá vai um exemplo:
Se uma ovelha sente-se ameaçada por um lobo, ligeiramente, tem que dar um jeito de escapar. De modo geral, o estresse no mundo animal é pontual. Depois que a ameaça não existe mais, não corremos o risco de ver animais perdendo o sono da noite por causa de uma nova possível ameaça. Entende aonde quero chegar com isso?
Apenas como uma especulação - nada científica - a minha hipótese é que: Nosso cérebro acabou sendo obrigado a se desenvolver na marra, mas se recusa a venerar um estilo de vida de retorno futuro.
Há um século atrás, por exemplo, havia muita instabilidade e preocupação também, mas mesmo assim encontramos uma dinâmica muito diferente da nossa. Essa pequena janela de evolução no modo em vivemos, criou um hiato entre nosso cérebro primitivo e este jeito moderno de encarar a vida.
Estamos vivendo, a maneira mais aguda de uma sociedade que foi projetada para recompensas futuras enquanto desejamos, naturalmente, experimentar o aqui agora mais intensamente. Sacou?
A ansiedade é a vilã, então?
Não acho que ela seja sozinha. O estresse por não conhecer o futuro não é o único grande vilão.
Penso que a ansiedade acabou se tornando uma força a mais que ajudou neste tempo de retorno instantâneos.
O estresse pontual dos nossos ancestrais colaborou para que tomassem atitudes mediante a problemas imediatos. A nossa versão de humano mais primeva simplesmente tinha de resolver problemas de curto prazo como comer, se defender, dormir… Enfim, não havia a mesma frequência de estresse crônico em um ambiente de retorno imediato.
Sociedades menos modernas não sofriam com o futuro como sofremos hoje.
Não vamos encontrar um homem das cavernas se perguntando se vai ter recurso suficiente para ter fogo e comida. Posteriormente, criamos a energia elétrica e o supermercados, mas juntamente com elas, a ideia de valor e também de acúmulo.
Nenhum homem primitivo cortava lenhas e caçava pensando em ser promovido. Não temos informações de um casal das cavernas tendo longuíssimas discussões de relacionamentos. O problema central dos ambiente de retorno atrasado, é que eles raramente poderão resolver-se no momento presente.
A ansiedade ganha corpo justamente porque não temos a menor garantia de que ser um excelente aluno nos garantirá um bom emprego e um bom salário, ninguém pode prometer que se investirmos nossas economias na moeda nacional elas irão dar bons retornos, não temos a menor segurança de que se amarmos alguém por completo teremos uma reciprocidade na mesma intensidade e frequência.
Parece-me que, diferente dos nossos antepassados, estamos cercados de incertezas e damos muita importância para elas.
Olhando para a treta
Obviamente, não podemos simplesmente retornar para uma mentalidade que já não faz mais sentido, mas podemos sim aprender a analisar a realidade de uma maneira menos conturbada. Esta é a nossa vantagem cognitiva sobre nossos antepassados.
A questão central é mudar a preocupação para ação.
Ao invés de preocupar-se como será a relação sua com o dinheiro no futuro, que tal implantar uma ação de prevenção financeira?
Ao invés de preocupar-se como seus relacionamentos futuros serão, que tal começar a valorizar as que já existem?
Se algo no seu companheiro te preocupa, que tal conversar abertamente com ele sobre as expectativas que têm um com o outro?
Ao invés de matirizar-se a escolha da profissão, porque não ganhar tempo arrumando na cara de pau um estágio ou entrando em contato com alguém da área?
Ao invés de ficar preocupado com sua dieta de perda de peso, porque não concentra-se em cozinhar uma comida mais saudável a cada dia?
A maneira com que encaramos as coisas é que é a chave. Quando temos uma tarefa que possa ser recompensada de maneira futura, devemos transformá-las de algum modo em uma recompensa imediata.
Um bom exemplo é escrever um livro. É uma tarefa longa, trabalhosa e detalhada, não existe a chance de escrever tudo de uma vez, mas podemos nos bonificar com um jantar da comida preferida por cada capítulo terminado, por exemplo. É como damos novo significado as coisas.
Não adianta preocupar-se. É preciso agir.
Vamos direto ao ponto central do texto. Se sabemos que temos um problema de saúde, precisamos focar naquilo que podemos fazer hoje para amenizar. Se estamos em dúvida entre ficar com a loira ou com a morena, precisamos entender que se não escolhermos viver com alguém hoje, vamos ficar sem ninguém. Se não sabemos que proposta de emprego aceitar, precisamos apenas escolher o que mais nos faz bem agora.
Eu nunca tive como proposta aqui resolver seus problemas com a ansiedade, com o medo do futuro, com a sua impaciência diante da vida, com seu estresse por não saber escolher, com sua insegurança do que pode acontecer. Queria apenas debater e ouvir o que tem a dizer.
Minha esperança é que saiba que é preciso mudar suas preocupações por ações.
E se der errado ao final, pelo menos ainda há tempo de recalcular a rota. O que fazer com a ansiedade? Procurar ajuda médica e tentar transformar em práticas diárias aquilo que sabe que colherá somente a longos prazos. Acredito que este seja um meio de reduzir a incerteza e o estresse crônico que estamos metidos nesta sociedade moderna.
Se nada de certo mesmo, pelo menos não terceirizou suas escolhas. Viveu, aprendeu e seguiu. Acredite, um mundo sem ansiedade é um mundo chato para caralho. Mas um mundo dominado por ela, é pesado.
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