Todos experimentamos traumas enquanto fomos apresentados a vida. Os efeitos deles podem ter um longo alcance na nossa própria noção de si, na nossa capacidade de acreditar, confiar e apostar no custo emocional e físico das coisas.
É por isso que estamos sempre nos blindando do impacto que os sofrimentos, angústias e ansiedades causam em nossa mente, corpo e emoções.
Sem termos ferramentas para escolher diferente, somos ensinados a nos relacionar com a dor de nos sentirmos invalidados como algo normal. A partir daí, começamos a ver os impulsos naturalmente tóxicos das ocasiões e relações como algo familiar e vamos desenvolvendo uma convivência com o cruel que pode até parecer confortável.
Essa reação faz com que cresçamos acreditando na hipocrisia como verdade, no disfarce como solução dos constrangimentos e vamos nos sentindo invisíveis, anulados e impotentes tentando agradando aos outros transformando essa atitude como algo mais importante para sobreviver. Preferimos não estabelecer limites para essa busca para nos sentir aceitos.
Nesse cenário, aprendemos a dar respostas automáticas para situações corriqueiras, mas sem se dar conta de que estamos causando mais mal ainda a nós mesmos.
Você precisa parar de pensar demais
É comum viver num ciclo de paralisia apenas por se questionar sobre tudo. O medo de errar, de passar vergonha ou de ter uma experiência desagradável que não possa dar conta, causa um impulso de pensar demais sobre tudo antes de agir.
Nesse caso, é comum criarmos um universo inteiro na nossa mente mesmo que ele não tenha nenhuma raiz na realidade, mesmo que não haja evidências de que aquilo já aconteceu antes, tudo isso acontece devido a certas experiências desastrosas que possamos ter passado, mas também porque pensamos demais.
Esse mecanismo nos faz ficar presos em uma situação traumática que se desenrolou, então, vamos tirando conclusões precipitadas sobre algo, projetando futuros que não existem, nos culpando no processo enquanto ficamos presos e imóveis sem perspectiva de mudanças reais.
Pensar demais é uma maneira de tentar encontrar algo errado ou “validar” o que fomos condicionados a acreditar sobre nossos medos. É assim que a vergonha e o medo surge como resposta aos traumas.
Quanto mais pensamos, mais vergonha e medo sentimos. Podemos tentar esquivar ou compensar esses sentimentos sendo perfeccionistas ou viciado em produtividade (acredtando que isso é até qualidade) mas acabamos sendo incapazes de realizar escolhas saudáveis por nós mesmos. O outro se torna gigante nessa tomada de decisão e tudo gira em torno do que está fora da gente.
Na maioria das vezes pensar muito se transforma em uma forma de “ tentar descobrir” o que é desejado ou esperado de nós pelos outros. Pensar demais anda de mãos dadas com a auto-sabotagem e comportamentos autodestrutivos. Podemos nos encontrar ruminando em tentar ser o que pensamos que os outros querem que sejamos, o que pode levar a uma estagnação intensa.
Quem pensa demais geralmente não sabe lidar com a inconsistência ou a imprevisibilidade, com a escassez, com situações de agressividade ou negligência e ficam presos pensando como evitar isso e procurando ângulos perfeitos para se comunicar, para expressar o que pensa como uma forma de autopreservação.
É isso que precisa acabar. Entender que podemos errar e nos frustrar. Pensar demais é diferente de planejar, mas é não esconder que as coisas podem dar errado e mesmo assim, conseguirmos recomeçar. Pensar demais não é cautela, é defeito.
Você precisa parar de compartilhar tudo
O compartilhamento excessivo também é uma resposta ao trauma baseado na auto sinalização de virtude como resposta a necessidade de auto-validação.
Embora as pessoas que vivem a super exposição se defendam dizendo serem reféns das suas condições, da nova maneira de se comunicar e ser, no fundo, não medem as consequências de viver na vitrine do mundo digital.
No seu interior sabem que essa situação pode expressar um medo de rejeição, e por isso, tem a necessidade de evidenciar os méritos e qualidades construindo de si um herói para um público tão sedento de figuras simbólicas de sucesso, mesmo que raramente consiga entrega o que promete sem negligenciar a si próprio.
Ainda que viver querendo ser importante seja um objetivo, elas não assumem a falsificação da intimidade ao criar um universo mentiroso para disfarçar a dependência emocional por atenção e relevância que tem em si.
Quando o medo da insignificância é a razão para o compartilhamento excessivo, podemos impulsivamente tentar compartilhar coisas de maneira compulsiva, o que pode nos levar a parecer platicamente ser socialmente adequados.
Há também um truque muito sútil para esconder determinadas intenções narcísicas na nossa mente como esconderijo para a proteção da nossa vontade de aparecer. Podemos não perceber os traquejos sociais perigosos que criamos para servir como artimanha de entramos na ilusão de estimação sem qualquer clareza sobre o motivo fundamental daquela busca por reconhecimento.
É isso que realmente que nos leva a exposição contínua. Queremos esconder de todos os nossos problemas mais agudos e criar uma vulnerabilidade seletiva que dê retorno em marketing pessoal. Toda exibição é feita de uma humanidade parcial transformando até os dramas e dificuldades em um grande show.
Por medo de ser rejeitados pelos outros, caso eles nos vejam por inteiro, criamos uma espécie de personagem auto-realizável. Quando o medo da insignificância é escondido atrás do compartilhamento excessivo, evitamos os detalhes mais importantes dos eventos traumáticos que carregamos, desfocando as experiências dolorosas para um lugar de entretenimento e não para uma zona terapêutica.
Queremos aproximar e cativar os outros antes que eles tenham a chance de nos rejeitar. Ao compartilhar demais com as pessoas uma vida, podemos estar inconscientemente tentando afastar delas a percepção dura que temos de nós mesmos para evitar nos sentirmos rejeitados ou para evitar que os outros vejam nosso lado mais natural.
Esse comportamento também está ligado ao vício emocional de aproximar-se de pessoas que acreditamos serem perfeitas. Associação por imitação. Nossos impulsos de transformar nossa vida em entretenimento parece aceitar uma idealização acerca de si e do mundo em que transita.
Isso é, a realidade acaba se tornando toda aquela fantasia que acostumamos a acreditar, dai, a propensão a compartilhar cada vez mais perdendo o limite entre o privado e o público se torna um vício. Fique esperto com isso.
Você precisa parar de confiar ou desconfiar demais
É comum em pessoas criadas em ambientes que são imprevisíveis, ou que tem pessoas egoístas e negligentes como referência, que aprendam ou a se blindar por completo de certas situações ou aceitar a toxicidade a ponto de se sentir confortável diante de lugares e pessoas não confiáveis.
Normalmente, se alguém sofreu trauma frequente por experiências adversas, podem se tornar pessoas que oscilam em uma extremidade do espectro de confiança.
De um lado, estão aqueles que acreditam que só podem confiar em si mesmos e se tornar excessivamente desconfiados de outros. Por baixo dessa dor, há um sentimento de não ser bom o suficiente, ou sentir-se sempre “errado”, em um medo constante de que as pessoas em sua vida vão abusar de sua confiança.
Por causa disso, eles podem sentir uma profunda vergonha por não serem capazes de ser emocionalmente vulneráveis com aqueles em sua vida por medo de serem feridos novamente.
Quando passamos por um trauma significativo, muitas vezes gravitamos inconscientemente em torno de pessoas tóxicas ou narcisistas e, eventualmente, traímos nossa confiança porque isso foi condicionado como comportamento “normal”. Esse mundo, adiciona ainda mais força a nossa armadura emocional e nos torna muito mais desconfiados dos outros em nossas vidas.
No outro extremo do espectro, estão aqueles que também sofreram traumas, mas tornar-se excessivamente confiante. Normalmente, aqueles que têm o hábito de confiar demais nas pessoas concretizarão uma conexão imediata com uma pessoa acreditando serem gentis, amorosos ou que desejam cuidar deles como negação de que todos que se relaciona o traem.
Confiar demais e se abrir muito andam de mãos dadas. Na raiz de confiar demais estão as necessidades básicas não atendidas de serem amadas e aceitas incondicionalmente, o que os coloca em risco ser alvo de pessoas que, em última análise, os usam, abusam deles, traem sua confiança e desencadeiam mais vergonha.
Esse ciclo inevitavelmente se repetirá várias vezes até que a pessoa reconheça o padrão e estabeleça seus limites. Falta de confiança não aponta só para uma certa solidão, mas também para uma sensação de medo de tudo e todos.
Confiar demais, por outro lado, acaba matando a possibilidade de tornar-se interessante para as pessoas uma vez que não há mais coisas a serem desvendadas. Ambas são problemáticas e você precisa parar de agir assim.
Você precisa parar de pedir desculpas demais
Para começar este ponto, há uma diferença entre quebrarmos acidentalmente uma norma social, como jogar o carro na frente de outra pessoa sem dar seta, faltar com respeito por descuido ou esquecer um compromisso importante.
Isso faz parte da condição humana. Somos imperfeitos, somos falhos e podemos errar de vez em quando. Para isso, um pedido de desculpas se faz necessário.
Do outro lado, está a tendência de se desculpar demais. Esta é uma resposta ao trauma aprendido quando somos moldados em um ambiente em que temos que assumir responsabilidades demais para o que podemos oferecer de verdade. Há mais cobranças que entregas.
Esse comportamento é fruto de pessoas que exerceram sobre essas pessoas a sua autoridade para cobrar perfeição, para condicionar amor ou afeição mediante acertos, ou para criar culpas até que desculpas sejam sua aforria.
Existe também a possibilidae de termos tido pessoas em nossas vidas que nos deram muitos impulsos injustos e geraram na gente a mentalidade de culpa constante ou podemos ter aprendido a pedir desculpas excessivamente para evitar nos sentir abandonados.
Pedir desculpas demais tem a ver um desequilíbrio de poder, geralmente de uma figura de autoridade que fez uso dela para fazer a outra pessoa se desculpar e suavizar as coisas.
Em nossos relacionamentos adultos, se nos ensinaram o hábito de pedir desculpas demais, geralmente nos pegamos pedindo desculpas por tudo o que dá errado no relacionamento desde a falta de comunicação, situações de conflitos, tudo para tentar evitar ser abandonado ou até mesmo idealizar o outro.
Na presenção de qualquer problema essas pessoas pensam ser suas culpa. É aqui que entra o problema. Se estamos carregando o peso do poder duradouro do relacionamento em nossos ombros, também estamos carregando o peso de tudo ser nossa “culpa” se as coisas não derem certo.
Independentemente do tipo de trauma que podemos ter experimentado, devemos a nós mesmos aprender quando esses padrões começaram e identificar o quanto eles estão profundamente arraigados nos nossos comportamentos diários.
Saber como quebrar esse ciclo na hora que ele aparecer é fundamental e apenas isso poderá nos ajudar a reconhecer que precisamos parar de pensar demais, compartilhar tudo, confiar na medida certa e para de pedir desculpas demais.
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