2022

2022, terapia, dificuldade e trabalho

Vinte, vinte e dois

É a primeira news do ano. Nada mais justo que abrir meu coração. A primeira coisa que queria contar é que eu botei na cabeça que eu precisava de um tempo para pensar mais a maneira pública que eu estava levando a minha vida nos últimos anos. Por isso eu dei uma sumida. Mas o foco nem é a justificativa, é mais em dizer como as coisas vão rolar daqui para frente.

Desde 2015, eu nunca mais tive uma vida no total anonimato. Eu acabei tendo uma vida pública quase que sem querer. Desde que bombei no primeiro blog sobre relacionamentos que tive com minha ex-esposa, até os tempos gloriosos dos conteúdos bem reconhecidos dentro do LinkedIn, eu sempre tive que me expor muito na internet. “Tive” é modo de falar, eu sei que foi uma escolha minha e ninguém me obrigou, mas meio que fui empurrado para este mundo.

Parando para pensar hoje, eu vejo que fiquei refém dessa coisa de aparecer porque acreditava ser realmente obrigado a estar lá. No fundo, eu usava de desculpa que “era meu trabalho aparecer”, por isso, acabei vivendo uma vida com muita exposição nas redes sociais porque tinha medo de que se não fizesse isso, eu perderia minhas fontes de renda.

Por outro lado, eu sempre achei legal poder ser reconhecido como escritor e ter um monte de gente dizendo que os meus conteúdos impactavam de verdade a vida delas de um jeito decisivo e que eu podia realmente influenciar coisas boas na vida das pessoas. Essa é a parte boa.

Mas, em 2022, eu resolvi apagar o Instagram. Assim, do nada. Abandonei meu perfil com milhares de seguidores da noite pro dia. Isso mesmo. Desativei minha conta e abri mão de ter que ser “obrigado” a aparecer para me sentir vivo, realizado e útil.

Foi uma decisão impulsiva no começo, mas eu já vinha pensando muito sobre a necessidade de estar num lugar onde eu tinha que ser o herói com meus conselhos, tinha que dar conta de publicar sempre, tinha que aparecer constantemente. Eu só decidi e fui lá e fiz porque eu sabia que se pensasse melhor eu me convenceria que isso é uma péssima ideia, ainda mais porque vendo cursos online. Mas sabe, eu precisava arrumar isso em minha vida.

Eu fiz esse assassinato no começo do ano. E nesse primeiro mês sem essa vida, eu posso dizer que sinto uma paz enorme que não sei nem explicar. Meu celular não apita tanto mais, minhas neuroses com a aparência sumiram, me sinto grato por ter o que tenho sem a necessidade de querer mais, aproveito melhor o tempo com familiares e amigos, e o principal, não fico mais atrás de informação para me sentir por dentro do mundo.

O meu Instagram agora são meus olhos. E neles não há filtros ótimos. Eu estou vivendo o meu mundo.

Terapia

Essa semana, depois que sai da terapia, fiquei pensando uma coisa. A terapia só existe porque tivemos que nos obrigar a abrir um espaço na nossa própria agenda para gastar neurônios, emoções e dinheiro pensando na gente.

Isso quer dizer que estamos tão ocupados e cheios de tarefas que chegamos ao ponto de nos obrigar a gastar dinheiro e tempo para alugar uns minutos na semana dentro do nosso próprio tempo para destinar a gente mesmo. O que deveria ser natural, ou seja, cada um examinar a sua vida, o seu dia, suas relações e atitudes, acabou sendo uma tarefa periódica na agenda lotada da gente.

Longe de mim menosprezar a terapia ou uma assistência psicológica assistida por um profissional, mas é que esse pensamento me veio a cabeça e achei interessante chegarmos a loucura de que nós temos que alugar um tempo dentro do nosso tempo útil para nós pensarmos na gente mesmo.

Sou a favor de que todos os seres humanos gastem esse tempo e esse dinheiro consigo. Sempre fui desse time, mas isso não deixa menos insano pensar que compramos uma cota do nosso tempo da gente mesmo para destinar a saúde. É como um carro que destina um pouco do seu valor na FIPE para colocar gasolina nele mesmo e manter-se rodando pela cidade. Só eu achei isso curioso?

Nada fácil

Toda benção tem origem na dor. Eu cheguei a essa conclusão ainda jovem. Repare em como a vida das pessoas que mais admiramos sempre tem algumas marcas dolorosas. Eu sei que a gente sabe, no fundo, que afastar-se da dor é deixar de aprender, mas mesmo assim, a gente tem o ímpeto de se esconder dela. Não estou falando de masoquismo, estou falando da capacidade de enfrentar ameaças.

Sempre que tem algo muito marcante na nossa vida, a gente acaba se lembrando do que é prazeroso. Se o ensino não vem na sua dor específica, vem na exposição a algo que passou ou no sofrimento de alguém que se relaciona.

Agora, é verdade também que toda dor é por enquanto. Tenho minha fé e não abro mão do que penso, percebo e acredito, mas nada me tira da mente que a pedagogia da vida se baseia não na ausência da dor, mas no ensino que o impacto dela própria causa na nossa realidade.

O lance não é se esquivar da dor com toda destreza, mas é criar resistência frente a ela. Principalmente emocional. É por isso que faz anos que peço duas exclusivas coisas a Deus como uma oração verdadeira: lucidez (no sentido de sanidade) e esperança (no sentindo de confiança no melhor).

Sem essas duas coisas, não se pode nem atravessar a rua, nem levantar para trabalhar, nem começar nada novo, nem insistir nos seus sonhos mais distantes. Assim como toda benção, um amor é fruto de uma dor.

Em algum momento esse amor que sentimos por algo ou por alguém era ansiedade, era frustração, era medo, era receio, era falta de coragem, mas depois que ele se revelou e deu as caras, ele trouxe sentido para a nossa vida. Pense nisso.

Trabalho

Eu desconfio com força de todas as pessoas que só trabalham, só falam de trabalho ou só se refere a si como profissional. É muito fácil fazer da sua personalidade o seu crachá da empresa, difícil é realmente esconder de todos o belo egoísta, individualista, interesseiro que somos no mundo político do trabalho.

Eu já convivi com pessoas que acreditam que sua identidade está no exercício do seu trabalho, na posição que ocupa e até no reconhecimento que pensa ter adquirido, mas, no fundo, esta é apenas uma coisa que serve como ponto de partida para se autovalidar.

Eu até entendo gente que faz do trabalho a sua maior prioridade, e tem alegria na conquista, nas metas atingidas e até se entende como útil no processo, mas quando flagram que estão diante da parcela de pessoas que fizeram do trabalho uma religião, ela não se denunciam a si, mas arrumam desculpas para continuar na jornada maluca em volta de prestígio, de validação, de ganância e até mesmo de conquistar respeito e admiração de pessoas que não estão nem aí para ela.

Quando posta na cadeira do réu pela consciência, ela não reflete e nem toma atitude alguma. Quando toma, é pensando novamente só nela. Finge que os outros não a entendem, se colocam como mais determinadas, mais espertas e mais focadas para esconder que, no fundo, são apenas pessoas que se tornaram escravas de si mesmo e das aparências.

Essas pessoas precisam encarar a verdade. Precisa mudar a maneira de observar a vida, tem que aprender a respeitar os limites físicos, sociais e emocionais, tem que abandonar vínculos com pessoas, ideias e negócios que não atribuem nada, tem que assumir que podem estar desesperadas para encontrar sentido na coisa errada, e precisam parar de manter um nível de exigência fora da realidade consigo e com os outros.

O único jeito de parar de patinar no gelo seco é entender que ela não pode usar o trabalho, o dinheiro, o que tem e a posição para se validar como pessoa, mas focar em realizar-se como parte de um mundo que faça sentido para elas, mas também para os outros.

Talvez eu seja apenas um doido, sei lá, mas trabalho para mim, é tornar-se parte de algo bem maior do que a si mesmo. Trabalho para mim, é servir ao outro enquanto podemos nos dar ao luxo de ser quem a gente é e ser valorizado por isso.

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