A única coisa que ninguém pode te tirar na vida

Imagine um cenário em que você esteja enfrentando uma crise de credibilidade, seus amigos e familiares ignoram sua existência, todo o seu prestígio profissional foi colocado em cheque, seus recursos se esgotaram do dia para noite e tudo que você pode contabilizar nesse momento são as situações que viveu até hoje.

Apesar dessa ser apenas uma hipótese, diante desse cenário, você vai precisar manter a lucidez sobre tudo que conheceu, sentiu, experienciou, adquiriu e suportou na vida. E sabe por quê? O motivo é simples essas são as únicas coisas intransferíveis na sua vida.

Nesse contexto, você precisaria acessar essa biblioteca com tudo que aprendeu na vida, rememorar todas as lições que teve durante a sua existência e conhecer como ninguém a realidade sobre você mesmo e sobre o mundo limitado a sua volta. Absolutamente ninguém pode arrancar isso de você.

O lugar da curiosidade no conhecimento

O conhecimento que adquiriu através de compilações dessas experiências — boas ou ruins, danosas ou vantajosas, duras ou sutis — é o melhor banco de dados de valores que permanecerá inalterado na sua mente.

É por isso que quando me dei conta de que é mais que necessário tornar prazeroso o ato de compreender pessoas, descobrir pensamentos, construir relacionamentos e reconstruir o conhecimento, passei a valorizar a curiosidade mais do que qualquer coisa.

Ela é ainda um dos poucos caminhos para a autonomia visível e para o progresso permanente. Não basta colecionar livros, pendurar diplomas e simular uma rede de referências, mas se faz necessário a todos perseguir o desejo de expansão com ações concretas na busca pelo inédito.

É claro que nesse repertório vasto, você ainda precisará dar espaço para pensar o novo, sem abandonar o tradicional e com a mente preparada para repaginar uma nova realidade de possibilidades.

Não basta querer enfrentar novas situações com velhas iniciativas, é preciso uma nova intuição com a inserção gradual de certas doses de risco e exposição, sempre buscando resolver conflitos, encontrar caminhos de respostas com uma flexibilidade estimuladora.

Para onde os desafios nos levam?

Praticamente tudo que conhecemos sobre o ser humano é fruto da mais pura combinação entre a curiosidade a capacidade humana de lançar-se à desafios.

Estes dois elementos não são só complementares para a construção de conhecimento, como também são os endereços exatos do aumento de potencial da humanidade. O curioso é alguém imparável e novos desafios exigem curiosidade para acontecer.

O sujeito que alimenta a indiferença ao desconhecido perde a oportunidade de ter uma vantagem muito clara sobre os outros: o constante desejo forte de saber, ver, conhecer ou desvendar emancipa o poder de ação, o próprio conhecimento e o progresso em todos os sentidos.

Estamos falando não da bisbilhotice fútil, mas daquela curiosidade natural que faz parte do instinto humano, um interesse contínuo por tudo e que leve alguém ao desejo de explorar realidades desconhecidas compilando informações adquiridas com as que já possui em sua biblioteca experiencial.

Conforme vamos conhecendo tudo acabamos ampliando a nossa própria independência, vamos superando paradigmas e acrescentando novos estímulos que nos levam para um novo repertório de informações, experiências e habilidade.

É por isso que sempre entendi que unir curiosidade e a provocação promove uma espécie de refinamento do conhecimento. Não há como promover conhecimento para si, para o outro e nem para o mundo se vivemos diante de uma conformação.

Como construir conhecimento hoje?

Existem certas particularidades na maneira como entendemos as coisas ao nosso redor atualmente. A principal delas é que os desafios atuais são cada vez menos regionalistas, pontuais e parciais e se tornam cada vez mais globais, público e universais.

Culpar a massificação da informação é uma solução fácil. Apesar dela ter alargado as fronteiras da noção de conhecimento em uma espécie de ideia de que quanto mais estamos expostos à informação, mas somos conhecedores do mundo, ela também sintetiza adversidades comuns.

Os desafios que, antes eram restritos a uma pessoa ou grupo, passam a se tornar cada vez mais influenciadas por uma sociedade altamente conectada, virtualmente ativa e globalmente artificiais. Como gerenciar desafios amplos diante de uma sociedade diversa, volátil e complexa?

Há incertezas por todo lado. As demandas de conhecimento são crescentes e velozes. Como desenvolver um repertório cultural básico que garanta um pouco de robustez intelectual?

E como agravante, temos uma queda na credibilidade antes inquestionável das instituições formadoras da tradição como a família, o comportamento social, o ensino linear e cultura heterogênea tornando-se ineficiente na tarefa de desenvolver as diretrizes sociais e individuais.

Existem perguntas que realmente não conseguimos responder hoje. Com quem fica a responsabilidade de informar, esclarecer, advertir, prevenir, conscientizar e entreter se a mídia, o governo, o poder público, as empresas e os agentes sociais perdem o papel principal de instrução?

E como as pessoas e as instituições reagem ao novo mundo? O poder do conhecimento é a única coisa que pode governar o novo papel do cidadão na sua função social. Por incrível que pareça, ninguém tem as respostas, mas tem caminhos.

Prateleira cheia não enche cérebro

Quando estamos movidos pela curiosidade ficamos diante de dos desafios que nos colocam em situações de aprendizado contínuo. Novos conhecimentos nos auxiliam a lidar com situações reais.

Você consegue dizer que aprendeu algo quando é capaz de reconhecer um rigor técnico que vai para além das teorias e metodologias, mas que nos coloquem de fato em ações que estejam alinhadas com que acreditamos e que nos empurra em direção de um engajamento para além da estética.

Aprender tem que passar pelas dúvidas e necessidades, independente dos nossos desejos. No fim, aprendemos quando vamos além. Mais do ir atrás de informação, temos que comunicar. Mais do que engajar e preciso estimular a pensar. Mais do que formar ideias, é preciso transformar.

É claro que estamos numa constante revolução tecnológica, mas não podemos esquecer que o desafio de aprender é cada vez mais obrigatório num mundo interdisciplinar. Todo conhecimento adquirido tem que ganhar implicações sociais, históricas e antropológicas.

Diante das diversas configurações da nova educação, os novos arranjos e possibilidades de aprender, temos que agarrar a oportunidade de absorver o maior número possível de informações, porque ainda que nos tire todas as coisas a volta, jamais qualquer sistema conseguirá arrancar aquilo que aprendemos a ser, pensar e conhecer.

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