Acredito que quase todo mundo já se deu conta de que existem alguns medos bobos que acabam tirando um pouco a gente do lugar da sanidade. Falo “medos bobos” porque a gente sempre tende a pensar que aquilo que temos medo nunca é nada de mais. E, se for pensar, isso já é uma maneira de medo: o medo se sentir medo.
Não sei bem se toda essa situação têm solução, mas tenho a impressão que tentar se livrar o tempo inteiro do medo vai deixando a gente no estado oposto de alerta e a cabeça pifa de tanto querer manutenção. Apesar disso, alguns dos medos mais comuns a gente pode aprender a lidar de maneira saudável quando temos os seus gatilhos identificados e a coragem de mudar as coisas na gente.
O meu jeito de olhar melhor para o que estou sentindo é escrevendo. A minha escrita sempre foi uma terapia coletiva. Na verdade, descobri que, às vezes, ela até acaba fazendo mais bem para as pessoas do que para mim próprio. Ah não! Tô sendo injusto. Falar com coragem sobre algumas coisas sempre me fez descobrir mais de mim, mesmo que eu tenha que portar uma voz de denúncia igualmente importante para os outros.
Em mais um movimento desses de abrir a caixa de pandora para expulsar demônios, resolvi compartilhar sobre alguns dos meus maiores medos na vida sem querer criar um cenário enfeitado que ignora como atuam nossos limites nessa auto-análise. A ideia nessa edição da newsletter é conversar sobre pequenas ideias que acabam passando pela nossa vida e que a gente não acostuma pensar.
O medo de ser um impostor
Penso que é o primeiro que precisamos citar. Todo mundo já teve aquele receio de que, na verdade, as nossas habilidades são apenas temporárias, ocasionais ou não-naturais. Como se a sorte tivesse atuado algumas vezes a nosso favor, mas se precisássemos mesmo acionar certos talentos, não teríamos o mesmo resultado ou a segurança de antes.
É como se tudo desse certo de maneira inexplicável caracterizando uma fraude pronta a ser descoberta a qualquer momento. É comum ter medo de não encontrar as habilidades necessárias para ter sucesso quando não notamos o caminho que percorremos.
Imagine uma viagem para praia. Seu amigo resolve dirigir e colocar um GPS para você cuidar. As funções estão bem distribuídas, mas você foi apenas confiando no equipamento e conversou durante a viagem inteira no banco do passageiro. Se por acaso, na volta, ficam se bateria no GPS, aquilo te traz uma segurança enorme. E o motivo é obvio: você conseguiu chegar na praia, mas não sabe como parou lá e nem como voltar.
Você fica parado na estrada porque não sabe por aonde ir? Não, terá que elaborar um plano. É exatamente isso que nos assusta. Não saber o caminho. É por isso que grande parte do que fazemos se apoia justamente no processo de desenvolvimento dessas habilidades por meio da tentativa e erro, planos de contingência e até mesmo o desenvolvimento de um método.
O medo da insegurança
Desde que comecei a perceber que a origem dessa insegurança estava no fato de que eu era mal-planejador (para não dizer procrastinador), liguei um alerta. Por muitas vezes, notei que ao precisar fazer uma tarefa — especialmente as criativas — eu confiava demais no meu GPS no impulso de me sentir desafiado, e por isso, deixava tudo para a última hora. Apostava tudo no “brilhante impulso criativo da urgência”.
Algumas vezes, precisava correr para conseguir entregar a tempo aquela atividade, e isso me fazia sentir mais genial, mais preparado para improvisos, mais solucionador, e quando a coisa apertava mesmo, acabava atribuindo meu sucesso à sorte e não à minha própria habilidade.
O medo de flagrar-se sendo um impostor pode estar no fato de que a maioria das suas escolhas funciona numa randomização da tentativa e erro. A maneira melhor de lidar com isso é encontrar um fator treinador que te exponha a métodos, que te faça aperfeiçoar responsabilidades, melhorar atribuições e organizações para assim, se tornar realmente bom em algo para ajudá-lo a navegar na jornada da segurança mais firme.
O medo de ser um fracasso
Percebi que algumas vezes, acabava desistindo de determinadas coisas porque colocava um caminhão de desculpas esfarrapadas que me jogavam para fora das possibilidades de um objetivo. E mais, percebi que isso era um lugar vicioso e confortável.
Com o tempo notava sempre que fracassar para mim, era algo alocado na minha mente como um barulho enorme, e não como uma derrota factual. Diante de tudo que me exigia um desafio, comecei a olhar para as consequências reais de um fiasco verdadeiro, e pude perceber com clareza que a maioria deles apenas ganhou voz porque tinha a ver com a satisfação que eu teria que dar para as pessoas, e não com o sentimento concreto que eu ia sentir.
Nesse contexto, o inatingível era, na verdade, as expectativas que todos iam ter sobre mim e não necessariamente os danos de um possível fracasso. A distância entre o sucesso de algo e o fracasso dele era exatamente essa imagem de desastre social criada na minha cabeça.
Criei um alerta e percebi que fracassar, para mim, na maioria das vezes, significava reprovação social. Notei a força que essa droga de “satisfação ao mundo” tinha sobre mim, sobre minhas escolhas, sobre meu caminho e sobre tudo que eu ia fazer ou deixar de fazer. Foi aí que ganhei uma dimensão diferente para mudar isso.
Precisei decidir terminar com isso. Escolhi agir de qualquer maneira, em qualquer ocasião, por quanto tempo precisar. E quando enfrento um revés, me preocupo mais em adotar novas estratégias e novas soluções para continuar procurando o caminho certo do que me preocupar com explicação, causa ou razão. Aprendi a não perguntar “por quê?” mas a olhar para o “para quê?”
O medo de tomar a decisão errada
Eu me peguei demais adiando decisões difíceis simplesmente por tentar encontrar respostas que me causassem menos danos ou que me comprometesse menos em uma situação complicada. O medo de tomar a decisão errada leva a gente a desconfiar da nossa capacidade de escolha.
Mais uma vez, vi que a verdade — por mais dura, cruel e imutável que seja — é ainda a melhor maneira de lidar com as coisas nada fáceis. Andar na esteira do compromisso com a verdade, deixa a gente não só mais pé no chão, como faz com que possamos jogar todas as cartas na mesa com transparência.
Nem tudo num jogo é sobre blefar, criar truques e escolher as melhores cartas. Às vezes, o melhor jeito de diminuir prejuízo é sair de uma mesa de apostas dizendo a verdade e assumindo que não pode apostar mais alto do que tem em caixa. É essa a inteligência de quem não faz da mentira uma máscara.
O poder da transparência e da verdade não é só nos colocar na página certa quanto a nossa realidade, e nos fazer ser mais firmes com os pés no chão, mas é também gerar mais confiança em como as pessoas nos percebem.
Decisões difíceis faz parte da vida de todos. Fugir ou ficar hesitante é o que nos paralisa. Não decidir é provavelmente mais prejudicial do que qualquer escolha que você possa fazer.
Faça a ligação entre pesquisa e seu instinto. O importante é saber assumir danos. Antes mesmo de querer só escolhas corretas.
O medo de que o que os trouxe aqui não os mantenha aqui
À medida que minha vida começou a acontecer, eu pude perceber que as minhas habilidades e conhecimentos foram tendo que se adaptar e me levaram a ter que adquirir outras possibilidades.
Este um dos grandes medos das pessoas, constatar de que por mais que você esteja em um ponto tão alto da vida, nunca mais você conseguirá partir do mesmo ponto. É o medo de crescer, de mudar, de evoluir, de assumir lugares diferentes e ter que abandonar velhas coisas, hábitos, pessoas, modos de observar o mundo.
Esse medo gera inicialmente um certo congelamento. Tentamos sempre nos manter escondidos porque associamos isso a proteção. É um resposta automática ao medo.
Outra reação comum é fugir em direção oposta ao desafio de ter que ir em frente, e fazemos isso como um instinto de evitar exposições sem necessidade ao perigo. Não se trata de covardia, mas de um receio de que as coisas saiam do controle rapidamente.
E por último, há na gente um medo saudável que acaba nos obrigando a enfrentar essa ampliação da coragem como uma espécie de expansão da mente em direção de outras oportunidades ou até mesmo por não conseguir mais fugir da ameaça. É o momento do tudo ou nada.
É assim que nossos medos acabam tendo um papel importante para crescer e evoluir. É por isso que fingir que os medos não existem numa cultura que parece criar uma autoimagem imbatível vai, na verdade, criar um falta de oportunidade para desenvolver mais habilidades e ir buscar mais conhecimento.
Então, de certa forma, assumir esses medos, sem fazer deles uma maneira de vitimar-se ou de fazer marketing pode ser válido, necessário e até mesmo fundamental para pequenos avanços emocionais.