psicologia

Como fui ajudado a lidar com as crises frequentes de cada dia

Se você não quer ler um texto longo como esse, saiba que eu também enrolei muito para começar a escrever ele. E é sobre este nosso problema que quero conversar sério. Bem, no final dele tem coisas que pode te ajudar, mas eu não conseguirei se você mesmo não quer. Não quero ser seu salvador, mas quero te contar umas paradas sobre a gente.

Você provavelmente se sente cansado agora. Mesmo que tenha dormido uma boa noite de sono, que esteja empregado, bem-vestido ou alimentado e que até mesmo não tenha passado por privações enormes diante do mundo inteiro que parece que está caindo aos pedaços.

Pode ser que mesmo assim, se sinta esgotado de tudo. Ainda que não saiba por onde começar a apontar. O pior disso tudo é que você sente culpa por se sentir assim. É como se os seus sentimentos mais ocultos não pudessem aparecer porque você não tem o direito de reclamar. E isso te oprime mais.

Durante um longo período do meu dia, considero que tudo está bem. Faço o que tenho que fazer, mas, ao mesmo tempo, passo metade do dia sem vontade de fazer boa parte das coisas, e a outra metade pensando que uma hora não conseguirei dar conta da intensa agenda de atividades. Essa é a crise de tempo.

Quando falo de muita coisa para fazer não me refiro apenas a atividades como ir ao mercado, responder e-mails de trabalho, cuidar das crianças ou até mesmo levar o cachorro para fazer xixi, mas daquele esgotamento mental que você não conhece direito a origem. Mesmo quando não está em horário produtivo, a gente sente que está com tudo atrasado.

Então, descobri (ainda que não seja um segredo) que a minha exaustão mental acontece quando meu cérebro recebe muito estímulo ou precisa manter um nível intenso de atividade sem descanso.

O pai tá on e roteando o tempo inteiro

Reparei que frequentemente trabalho por longas horas com poucas ou nenhuma pausa e existem momentos que fico bom tempo assistindo filmes inúteis. Ou seja, ou tudo, ou nada. E é esse o motivo do meu esgotamento.

É como se fosse viajar e tivesse momentos que eu gostaria de diminuir e aproveitar a paisagem e em seguida tivesse que correr porque preciso chegar logo no destino.

Quando gastamos muito tempo lidando com responsabilidades além daquelas que são realmente nossas, unidas a uma condição ainda esmagadora de viver com sintomas de saúde mental, acabamos dedicando muita energia mental para pensar em problemas, preocupações ou outras fontes de estresse.

Somos frequentemente afetados na capacidade de pensar, resolver problemas ou processar e regular emoções. E por vezes, vai nos levar a mais problemas na vida e nos relacionamentos. Tudo está interligado.

Estar bem mentalmente é um fetiche

Geralmente, estamos referindo a ter uma boa condição para desenvolver habilidades cognitivas, como pensamento, memória, tomada de decisão e resolução de problemas e conseguir identificar, processar e expressar-se bem.

Isso não quer dizer não experimentar sentimentos difíceis, dolorosos ou indesejados como pesar, tristeza, raiva, solidão, ansiedade, desapego, desmotivação, sentir-se apático a tudo e preso a sua condição limitada.

Talvez, assim como eu você pode estar enfrentando um constante humor volátil, expectativas baixas ou permanecer boa parte dos momentos sem esperança.

É comum, relatos de pessoas que se sentem obrigadas a conviver com os sentimentos persistentes de ansiedade, com muita dificuldade para se importar com algo, por isso, mantém um certo cinismo ou pessimismo com tudo que o cerca.

Também não é difícil ouvir pessoas confessando que percebem uma alta taxa de irritabilidade ou raiva nascendo, mantendo uma dificuldade para processar e controlar emoções mais pontuais ou sentir pavor por algo que não conhece.

Muitos de nós até percebe uma queda na motivação e na produtividade como um todo em decorrência de um sentimento de letargia, de poucas respostas imediatas a movimentos agressivos e dificuldade em concentrar, pode apresentar dificuldades em lembrar de informações, agrupar ideias e até finalizar projetos importantes, inclusive os que podem mudar isso tudo.

Sem falar nas dores de cabeça e no corpo, problemas de estômago, de sono como fadiga crônica, sonolência, ou insônia mesmo. Gente que lida com alterações no apetite e no peso, carregam cartelas de remédios como um talismã de saúde. Todo mundo já teve uma sensação geral de mal-estar.

Você só precisa parar de ser viciado em você

A realidade é que não podemos mais viver uma vida em que ficamos constantemente adiando tarefas, aceitando um declínio não-natural no desempenho, que muitas vezes é descontado no álcool ou até mesmos em substâncias para ajudar a controlar isso tudo.

Não dá para viver uma vida evitando pessoas com quem você normalmente gostaria de passar o tempo, se irritando com tudo ou se distraindo com coisas que não te mostram um caminho de recuperação.

Não é possível apenas continuar tendo dificuldade em prestar atenção durante as interações, ou se condenar a uma vida gerenciando problemas e responsabilidades para manter compromissos pessoais ou de trabalho, ou até mesmo descontar frustrações em trabalho, estudo ou qualquer atividade como essa.

Não estou falando que a gente tem que resolver tudo de uma vez só, e nem que existe uma cura única para todas essas questões, mas podemos olhar para alguns gatilhos e causas dessa exaustão.

Me denunciei para mim mesmo

E mesmo que varie de pessoa para pessoa, alguns podem ser mais comuns como ter um trabalho exigente ou de alta pressão que te coloque numa longa exposição resultados sem tirar tempo para descansar, enfrentar estresse financeiro, pode ser uma insatisfação na cultura de trabalho, no ambiente, nas relações, na natureza das atividades.

Você pode estar assim porque precisa cuidar de um familiar que está doente ou tem necessidades especiais, conviver com uma doença cronica ou ter uma condição desfavorável de saúde mental, pode ter resquícios de uma perda de familiar, ter tido a rotina mudado pela entrada de um filho ou pode até mesmo ser apenas uma falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal sem apoio emocional.

Eu não vim salvar sua vida e nem te prometer que ficará tudo bem. O que eu queria é te convocar a sair mesmo desse local nebuloso em que desconfiamos que somos reféns, não para ser um grande case de nada, mas, porque sei o que você está sentindo.

Fazer algumas mudanças no estilo de vida pode ajudá-lo a lidar com isso na origem, enquanto as estratégias de enfrentamento podem ajudá-lo a tomar medidas para se sentir mais descansado e renovado ao enfrentar desafios que causam estresse significativo na vida.

Pare de ler texto como esse e não mudar nada

Encontre um caminho possível, invista em uma terapia profissional ou saiba que você está fodido se não fizer nada.

Limpe sua agenda de tarefas não essenciais. Tirar férias prolongadas. Reserve uma hora para si mesmo diariamente. Saia do escritório durante o almoço. Tire uma hora inteira para uma refeição. Caminhe ou faça outra atividade não relacionada ao trabalho. Reserve uma ou duas noites por semana para jantar. Abandone o Netflix e vá ver um filme no cinema com os amigos.

Faça ioga ou só sente no chão da sala sem fazer nada. Jogue video-game ou marque uma massagem no mês. Descubra mais sobre aromaterapia ou leia um livro bobo. Pratique relaxamento muscular progressivo ou corra até seu coração quase sair pela boca.

Tome um banho quente antes de dormir. Brinque de abandonar o telefone ou computador quando chegar em casa. Diminua ou desligue a iluminação desnecessária.

Pense no que come com cuidado. Faça a dieta, mas não leve ela tão a sério. Beba álcool, mas beba o dobro de água. Mesmo que você não esteja com vontade de malhar, faça outra coisa nem que seja uma caminhada pela vizinhança.

Acostume-se a procurar luz natural diariamente, especialmente pela manhã. Crie um suporte social para além das afinidades. Compartilhe sua experiência com os entes queridos. Fique eventualmente em posição de oferecer assistência para alguém com algo importante para ela.

Estabeleça limites mais firmes em torno do horário de trabalho. Pergunte para as pessoas que trabalha e vê mais sobre possíveis de mudanças no local de trabalho. Reserve algumas horas por semana para procurar um novo emprego, mesmo que já ame o seu. Reserve minutos por dia para fazer contatos e explorar oportunidades novas. A cada dois sim, diga um não.

Como eu disse antes, não quero me colocar como um salvador da pátria, apenas quero te provocar (como eu sempre faço por aqui) a fazer algo para reagir a isso tudo. Não sei direito da sua vida, não faço ideia como te ajudar verdadeiramente, mas pelo amor de Deus, encontre algum caminho e trilhe nele. Agora. Leia mais uma vez isso aqui, mas anotando ideias para sua vida, e quando acabar de ler novamente essas palavras, faça algo. Agora.

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Às vezes, é preciso ir embora de si, mas voltar sempre

Só por algumas vezes, precisamos nos ausentar um pouco dos nossos pensamentos mais frequentes. Não digo fugir, mas tomar aquela distância proposital. Achar um jeito viável de partir pra longe sem avisá-los. E voltar quando der.

No ambiente que mora nossas ideias não tem uma sacada grande para escorar uma cadeira, abrir a janela por inteiro e ficar tomando um ar sem pretensão alguma. Está sempre lotado, precisando de limpeza e apertado.

Talvez eu esteja errado a respeito da vida, mas talvez essa coisa toda de viver seja apenas um jogo no qual eu ainda não comecei a jogar. Parece-me bastante exaustivo estar sempre lutando contra algo, mas por todos os lados, vemos gente em conflito. Agem como um cão de guarda na porta de um cofre frágil.

E nessa batalha inglória por parecer mais nobre, mais inteligente, mais valoroso, mais influente, a gente acostuma a importar-se apenas em como nessa imagem deveria ser para os outros.

A verdade é que nunca seremos capazes de transmitir nada aos outros além do que as outras pessoas querem ver a nosso respeito.

Ninguém nunca vai nos conhecer de verdade. Não na nossa totalidade. E a razão mais óbvia e simples é que estão ocupadas demais sendo aquilo que projetaram sobre si. Sem renegociações. Sem abrir exceções. Sem o direito de repensar-se.

Aqueles que têm a melhor chance de nos conhecer, e que poderiam tentar nos entender, limitam-se a ouvir seus egoísmos e preconceitos, estão preocupados convivendo apenas com suas próprias ideias. Tomando um chá de comadre com suas certezas solúveis.

Algumas pessoas não suportam e se vão. Quando a gente começa a ser a gente mesmo, uma quantidade enorme de pessoas passam a nos conhecer verdadeiramente. E temem. Morrem de medo de não sermos o que elas acreditavam que fôssemos. Escondem-se no porão da sua arrogância.

Deixamos elas irem. Nós mesmo perdemos o contato de pessoas por preguiça, por descuido, por escolha ou por falta de paciência com coisas pequenas. E ganhamos uma dúvida monumental sobre como foi que estivemos ali antes. Quase nunca sabemos responder.

Eu escrevo porque, às vezes, quero apenas ir embora de mim. Esta é a melhor maneira que encontrei de saber como eu mesmo sou.

Talvez seja por isso que escrevo tanto — eu provavelmente faço muita coisa até mais do que eu mesmo imagino — para me descobrir aos poucos, mas sem a pretensão de controlar a percepção que as pessoas têm de mim. Eu tento.

Não me importo em expôr as dores mais singelas que me invadem, mas também em dizer categoricamente as pequenas bençãos do dia-dia. Escrever é vomitar para curar. É ser capaz de espelhar-se para si.

Tudo que faço é tentar fazer dessa merda toda de alinhar palavras e reunir parágrafos um reflexo de quem eu sou. Na maioria das vezes, eu consigo chegar perto. Quando estou longe demais, eu volto.

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O valor mental que custa ter um sonho

Quem sonha carrega dentro de si uma esperança teimosa. Insistente no que não há mais o que acreditar. Todo mundo tem dentro de si uma voz-guia que quer sair do cárcere, mas não importa quanto ela esperneie dentro da gente, é sempre arrancada dela a possibilidade de falar.

Como uma criança chorona e birrenta, o sonhador dorme no canto do quarto de tanto se debater. Vencido pela insignificância de quem não pode ser visto. É penalizado pelo castigo de ter uma obsessão.

Despeja na pia um litro inteiro de qualquer coragem. Em água corrente, desperdiça a valentia que se mistura na inconstante liquidez do que ainda não existe. Assiste o anseio ir embora num anonimato de quem nunca existiu. Fraqueja e deixa os enrolados tapetes das etiquetas acabar consigo. Deixa um ruína lacunar lhe arregalar os olhos.

Como um pai severo, deixa o ânimo se divertir um pouco nos melhores dias, em que se distrai da evidente e robusta marca do cansaço. Implora para que a fadiga não fique parada na frente, impedindo-o de sentir um pouco do som do lado de lá.

Depois, coloca cada pedaço da própria petulância de volta em seu lugar. Canta um pouco, mesmo rouco. Assovia para ter lá dentro um pouco de vida. E num pacto secreto com sua alma, combina que é isso que um homem tem de fazer. Não deixa a vida ser esmagada pelas frias constatações.

Fica atento para qualquer caminho. Ainda há luz. Pode não ser muito, mas clareia a escuridão. Vagarosamente, ela oferece oportunidades de ver a si mesmo. Reconhece e agarra-se. Desarmado, luta do próprio punho para vencer a morte durante a própria vida.

E quanto mais anda em direção de um sonho mais aprende a fazer disso um caminhar calmo. Um soco em câmera lenta surge. Enquanto ela ainda é sua, aproveita a vida. Recolhe os ossos inconsumíveis e coloca na mente, às vezes, um alento para sua alma. Não faz mal blasfemar, mas contra a parede ninguém é totalmente são.

Rasteja-se para dentro do que realmente o protege enquanto lá fora não tem calmaria. Faz do leito, um confessionário à céu aberto. Dorme sobre a sua própria carne cobrindo os olhos do espelho ao lado, mas ao levantar pela manhã, tem o brio de reparar cada detalhes da sua alma.

Não está amarrado ao destino. A chance de escolher é sua fatalidade. Ninguém nunca encontra, na primeira oportunidade, um par ideal par sua aventura. Vasculha as lixeiras atrás de reciclar o que ainda dá. Procura nos hospícios qualquer razão, e nas sepulturas, qualquer lição.

Frequenta-se. Nada mais indicado que tomar um chá consigo. Se não sair de si entre uma bicada e outra do copo, pega uma colher e mexe até dissolver o resto do açúcar no fundo. Nem tudo precisa ser insosso.

Acalma o traseiro no assento enquanto todo mundo corre. E a menos que te perguntem, finge loucura. Cai no mais absoluto cinismo. Ouve o coração, mas nem tanto. Fuça na sua cabeça atrás de aparar arestas. Nunca. Nunca traiu sua boca. Deixa suas entranhas retorcerem.

Procura palavras, mas não confia nas primeiras ideias. Se o dinheiro vier lhe assombrar, manda ele ir à merda. Rascunha novas direções todo dia. Não copia. Reescreve. Cada parágrafo. Outra. Outra vez. Mesmo que dê trabalho.

Se tem que esperar algo acontecer, trai a voz do mundo. Pacientemente, sai gritando ciente de que a loucura é seu novo selo. Ignora o primeiro amor para amar. Desdenha das más experiências. Nunca consulta seus pais, se não está preparado.

Não é como todos. Não acompanha os milhares que se consideram qualquer coisa importante. Vira chato com quem lhe aborrece. É invariavelmente pedante com quem se acostuma com a auto-devoção. Esconde-se em algum lugar. De preferência na biblioteca.

Não dispara mísseis em direção de inocentes, sobre nenhuma hipótese cria uma guerra, mas não esconde o arsenal. Deixa-o como enfeite. Porque a obsessão o levará a loucura. Não faz nada, a menos que tenha uma varanda para deixar o sol entrar e queimar as suas involuntariedades.

Quando pensa na altura que quer estar, é arrogante. E faz da mesquinharia um esporte escolhido. Não acredita em nenhum elogio para que não morra em si. Nunca aplaude um discurso sobre si próprio. É ferrenho contra si.

E durante os piores momentos, mantém um bem-estar suficiente para contentar-se com quem quer que esteja diante de si. Visita um psiquiatra só para contestá-lo de vez em quando. Omite-se do mundo, mas nunca do seu confidente.

Desiste da fábrica de paranoias que alimenta. Arruma brigas proporcionais às ressacas. Está ocupado com o que vale a pena. Dorme no tapete como quem é vencido pelo cansativo modo de aprender. Esqueça este monte de coisa nenhuma que todos valorizam.

O custo mental de um sonhador é saber que é muito fácil parecer idiota tentando ser alguém que não se é. Por isso, tenha um resto de honestidade interior que não o obrigue a fingir que é aquilo que não é. Se você é um sonhador, saia logo dessa merda de lugar e vá. Seja quantos fracassos precisar ser. Tenha consistência.

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O que não te dizem sobre a complexidade do outro

Na mesa dos cafés começam muitas coisas importantes, mas também muitas injustiças. Entre os goles, há sempre um sujeito a ser malhado. E todo mundo tem o seu próprio Judas de estimação.

Cheguei mais cedo do que o combinado. Escolho a mesa mais perto da porta por puro capricho, peço o meu já tradicional suco de laranja sem açúcar ratificando a formalidade do meu estômago que anda recusando cafeína como um cão enjoado de biscoito.

Dispenso o líquido preto, mas nunca recuso um pão de queijo acompanhado de uma boa conversa em volta da mesa. Chamo de boa conversa apenas aqueles papos que saímos de lá com a impressão de que ganhamos uma biblioteca nova para explorar. Pois bem, esta era a cena ordinária em questão.

Chega um velho amigo de longa, dobra o guarda-chuva todo atrapalhado, me cumprimenta com a informalidade de uma amizade sólida, queixa-se da falta de estacionamento, toma sua posição na cadeira em frente a minha e reclama do lugar que escolhi como de praxe. Apenas sorrio da sua inconfundível azedume cômico. Ele pede o seu café forte e rígido, sem ornamentos carnavalescos.

Não demora muito para começar as arbitrariedades. Antes que eu molhasse o bico, ele começa o papo criticando os comportamentos indecorosos de uma outra pessoa em comum que frequenta nosso círculo de amigos — todo mundo tem um amigo daqueles que só a gente mesmo aguenta. Vai logo me questionando como é que ainda mantemos o tal fulano na amizade.

A indignação era tanta que, descrevia-o como um diabo de rabo e tudo mais, concluindo: 

 — Olha só, cara, eu acho que ele precisava era realmente se dar um pouco mal na vida para aprender a ser diferente com as pessoas. Eu acho que ele tinha mesmo que passar uns apuros graves para aprender a ser menos filho da puta.

Pacientemente, esbocei um sorriso incólume, e disparei:

 — Olha, somos amigos dele certo?

Esperei a resposta verbal que por teimosia não veio. No lugar, uma expressão de dúvida e incerteza no rosto talvez almejando onde é que eu queria chegar com aquilo. Prossegui cuidadosamente:

 —  Então, acho que como amigos dele, precisamos entender que: se ele age, fala, pensa, faz e vive de um jeito complicado é porque ele tem uma história. Você conhece a história dele?

A minha pausa proposital agora exigia uma resposta verbal.

 — Sei um pouco, mas não tudo..

 — Tá bem, vou te contar algumas delas…

Aproveitei que ele já tinha me dado toda a atenção dele para contar algumas coisas realmente problemáticas na vida dessa terceira pessoa que, não justificava, mas explicava algumas coisas denunciava a sua postura rude diante da vida. 

Ele me confessou que não fazia ideia daquilo tudo. Via o espanto e o arrependimento dele flagrante.

As pessoas são complexas por motivo de: Elas são pessoas

Não temos como saber ao certo o que está passando na cabeça das outras pessoas. E mesmo que você conviva já há algum tempo com elas, em um dado momento, acaba por descobrir que não a conhecia tanto como imaginava. 

Não só porque as pessoas são complexas, mas porque elas seguem mudando. É por isso que, naturalmente, acabamos analisando pessoas sem levar em conta aquilo que elas viveram. Não podemos nos acostumar a imaginar que alguém simplesmente é cruel por esporte — embora exista sim essa dimensão.

Outro dia uma amiga teve que ouvir o chefe justificar suas atitudes grosseiras com a frase: “Eu fui forjado na dor”. Quando ela me contou, recomendei que ela respondesse: “Mas, meu anjo, essa é sua história. Você tem que dar conta de aprender a lidar com ela. Não deposite nos outros os seus encargos emocionais.”

Quando nem a gente mesmo aprende a olhar para nossa história e encontrar os buracos que nos transformam e nos direcionam em todos os sentidos da vida, atuamos em uma superfície áspera completamente desnecessária. O amargor da vida traz para nossa rotina apenas mais um elemento estressante.

 A complexidade do outro é a nossa própria, mas com detalhes diferentes

Nosso cérebro pode até comprar a ideia de que se a gente se comporta de uma determinada maneira, estaremos sempre condenados a repetir esse padrão, e essa mentalidade facilmente reforça comportamentos viciado e acaba se fixando hábitos ruins. 

Esse é ao mesmo tempo um labirinto sem saída no qual permanecemos perdidos, mas pode se tornar um esconderijo sentimental diante da covardia da mudança de mente. 

Talvez seja essa ideia de traços de personalidade imutáveis que reforça o corpo emocional. Isso explica a origem da violência, por exemplo. 

É justamente essa ideia que justifica, sermos rudes com pessoas, xingarmos desconhecidos no trânsito, sermos mal educados com pessoas que só estão fazendo seus trabalhos e ignorar pontos de vistas importantes mas distintos do nosso que acabam cruzando com a sensibilidade do outro de maneira bélica. 

Todo mundo, no fundo, é bem mais complicado do que acha que é

Ter uma simples empatia intencional de imaginar-se no cenário do outro, pode desenvolver na gente muito mais compreensão e identificação com aquilo que as pessoas estão vivendo.

Fazer o esforço mental para tentar entender o momento em que pessoas estão tem que ser um exercício recorrente. Buscar capturar elementos da história de pessoas nas entrelinhas das suas ações não só nos ajuda a ser mais compassivos como elas, como também desenvolve na gente uma noção empática das realidades distintas. 

O que não te contam sobre a complexidade do outro é que entender e se fazer entendido nessa guerra de lados diversos, pode resultar em uma aderência maior à compreensão de que a coletividade e a flexibilidade são uma obrigação fundamental na convivência. 

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