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O que ninguém te fala sobre a morte

A morte é implacável. Não negocia. Já reparou que somente ela tem o poder de nos acordar para sentimentos escondidos?

Conheço homens durões — tipo aqueles de pestana larga, cenho intenso e peito estufado — que só vi chorar como criança diante de um luto. A morte nos coloca no divã da vida.

O fim permanente sempre nos salta os olhos para o amor. Os que não estão mais aqui são sempre os mais amados, aqueles que já não podem nos ouvir são quem nós mais admiramos, aqueles que não podemos mais ver são justamente quem devotamos às nossas mais sinceras homenagens.

Levamos flores em seus novos endereços. Tijolo, cimento, tinta e poucos metros quadrados. Sem sacada. O jazigo é um apartamento eterno. Enterrar alguém faz a generosidade aumentar e o motivo pode ser muito menos nobre do que se parece: Com os mortos já não precisamos mais lidar com reações. A coisa fica totalmente passiva. Sem esperneio, sem protesto, sem possibilidade de contrariedade.

Não se pode fazer mais nada diante da brutalidade que a vida tem de nos arrancar uma pessoa amada. Daí em diante, todas as frustrações e desapontamentos se tornam secundários. Parece que é irrecuperável a vida perdida. E, de igual modo, o tempo passado.

A morte não pode nos congelar

A morte é um trem desgovernado. É um sinal vermelho furado. É um tiro que saiu pela culatra. Um escorregão durante o banho e até uma escalada no Everest. A morte não faz acepção.

Os amigos, familiares e conhecidos vão indo embora e deixando aquele vazio sufocante na gente, mas na verdade o que não suportamos é a realidade de que pessoas incríveis também morrem.

Não é a falta que nos fere, mas é a incerteza do que fica. A gente se vê sem armas, sem possibilidade qualquer de prosseguir, sem um corrimão para escorar, mas logo aprende, na marra, que a gente morre junto quando perde o gosto, ou melhor, o sabor de insistir.

Quando o término da vida chega temos que fazer um dever de casa sem ter lido uma linha dessa matéria obscura. Aprendemos que, se realmente desejarmos suportar a vida, temos que estar prontos para tolerar o óbito.

A morte tem um rosto menos terrível quando se é esperada. Agora, basta ela vir sem avisar, como aquele parente no almoço de domingo, que a gente logo se vê perdendo completamente o juízo.

A morte é democrática

Precisamos nos dar conta de que estamos em direção do instante em que os maiores intelectuais catedráticos e as pessoas mais idiotas do mundo precisam fazer o mesmo brinde.

A morte fala mais sobre a gente que fica. Ao invés de ter receios com a morte, precisamos ter medo da vida insuficiente. Dizem por aí que ninguém tem a capacidade de compreender do que é feito a morte, mas isso não interessa, afinal, a gente também não faz ideia do que é a vida.

Quando a morte colocar suas mãos frias cascudas sobre meu ombro e anunciar que é hora de partir, vou olhar bem para a cara dela e dizer: “Vou sim, mas queria registrar em ata, por favor, o meu protesto.”

Porque pior não é morrer, pior é não ter vivido o suficiente e ainda ter que dividir condomínio com as baratas.

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