luto

Só mais cinco minutinhos...

Nunca senti tanta dor. Alguns já sabem, mas há 7 anos perdi meu primo mais novo, com apenas vinte anos de idade e que era praticamente meu irmão. Crescemos juntos e até tinha quem nos confundia. Ele era o mais novo dos quatro netos da minha avó.

A morte é algo bizarro. Sei da naturalidade da sua ocorrência, mas não concordo com a frieza da sua expressão. Como já escrevia o humorado Millôr: “O que eu penso sobre a morte? Sou contra!” É estranho. Um dia determinada pessoa está conosco e no outro seu rosto é visto apenas em fotografias. O sentimento que tive é inexplicável ao receber a notícia pela madrugada. 

Primeiro vem a esperança de que a realidade dos fatos não exista. Depois, o desespero diante da crueldade da finitude. Em seguida, a negação da concretude da morte. Após isso, a conformação de que os olhos confirmam o vazio que o coração sente.

Mas por que essa resenha toda?

Escrevo aqui com outro propósito que não é descrever o que houve ou tentar entender. Apenas vejo nessa oportunidade a condição de realizar um desejo que tive durante esse processo todo de luto: ajudar pessoas a verem a vida que importa.

Hoje me peguei pensando: “Eu só queria mais cinco minutos com ele!”. Mas como me foi roubada esta oportunidade, decidi escrever aos outros tantos jovens que diferente do meu primo, tem a condição de ler esta “conversa de cinco minutos”.

Desde aquele dia, declarei minha guerra contra o sistema que quer engolir os jovens como se a vida acontecesse apenas quando temos vigor e coragem o suficiente pra quebrar regras.

Bem, não sei a sua idade, não sei a sua nacionalidade, não sei onde você mora, com quem você anda, o que você faz e nem o que você pensa sobre seu futuro, mas existem algumas coisas que eu preciso lhe falar:

A verdade é que você não é dono da sua vida

Pois é, embora você pense que quem decide sua vida é você, isso não é verdade. Ninguém pode determinar o seu próprio caminho simplesmente porque não conhece todos eles.

Este mundo quer te enganar colocando sobre você uma falsa ideia de liberdade. Ele diz que você é livre, mas livre mesmo é quem tem a opção de não ser como todos.

Ele diz a roupa que você tem que vestir, as músicas que você tem que ouvir, a profissão que você tem que ter para ser feliz, quem você tem que namorar, como tem que agir para ser feliz, mas isso tudo é balela. Eles não sabem de nada. Faz parte do jogo para te deixar achando que é livre.

Fuja disso, fuja dessas correntes invisíveis. Você não precisa ser aceito por ninguém. Não se deixe levar pela maioria, ela é burra. Você não precisa ser um zumbi que anda em direção para onde todos vão. Você já é aceito em Cristo e isso pode modificar sua vida inteira!

Somente Deus, com seu olhar do todo tem o conhecimento de todos os caminhos diante dos Seus olhos e é por isso que somente quem anda com Ele pode ver com clareza toda a realidade desse mundo caído, constatar a sua brutalidade, notar seus absurdos e perceber que a morte deseja ser a imperatriz das nossas vidas, e mesmo assim não deixar-se ser governado por este sistema que quer te esmagar, mas poder ter a certeza que aqui neste tempo somos passageiros e que há esperança, pois existe uma realidade maior a qual Deus quer nos oferecer.

O dono da sua vida é o Deus-pai, que enviou seu Filho amado, Jesus, para que a morte não nos causasse danos eternos. Você pode tentar ignora-lo, fugir Dele, mas saiba que até o seu fôlego para correr, foi Ele quem deu. Ele tem que ser o dono das nossas vidas. E reconhecer isso, nos coloca para fora dessa estrutura que nos engana. Siga com Cristo e terá uma vida nova!

Você não sabe o que é melhor para você

Sua felicidade não está ligada a condições financeiras e materiais que você tem. Você não precisa ter o melhor emprego, passar na melhor universidade, ter a melhor família, a melhor namorada, a maior conta no banco, ser sócio da melhor boate da cidade, ser o mais popular, ir nas melhores festas para tentar ser alguém. Você pensa que isso é correr atrás da felicidade, mas não é. É só Ele, só com Ele que a vida pode seguir.

Você pensa que tem o controle sobre sua vida, mas não é assim. Você não pode dizer o que vai acontecer daqui até a próxima palavra que vai ler. Você não pode colocar sobre você o peso da sua felicidade, porque não vai encontrar nem dentro e nem fora do seu coração essa plenitude.

Nem se você for o maior, o mais bem sucedido ou o mais glorioso homem que já existiu, sem conhecer a Deus você é pó de chão! A morte é a única coisa democrática nessa vida. Você não pode buscar a felicidade sem se relacionar com Deus. E relacionar-se é se envolver intimamente, é conhece-lo, é conversar com ele, é aprender a amar como Cristo amou, a viver com a cabeça de Cristo.

Nele temos total contentamento! E por causa do que Ele fez na cruz, que já não somos infelizes! Você quer mais o que? Emprego nenhum, bem nenhum, pessoa nenhuma pode completar esse vazio de vida. Somente Deus é o tamanho perfeito do seu vazio.

Seus sentimentos não são mais importantes que de outros

Você não pode dizer que é vítima de pessoas e situações. Só se faz vítimas quem é a pior das causas. Mas para isso, tem remédio. Perdoe, não seja rude consigo mesmo. Jesus nos ensina que o perdão não tem a ver com esquecer o que houve, mas tem a ver com fazer com que o peso da ofensa e da diferença não nos separe das nossas comunhões com o outro.

Não existe tempo nessa vida para a falta de perdão. Não existe nenhuma ofensa que possa me separar dos outros. A própria vinda de Jesus na história é a reconciliação de Deus para com seus Filhos. Deus enviou seu Filho para que nós fossemos também perdoados e curados. Se Deus te buscou, busque o outro.

Só existe uma verdade e ela não vem da religião

Estamos submersos em uma realidade de mundo em que parece que cada um tem direito a sua própria verdade, mas não é assim. Deus é essa verdade. Quem quiser viver fora dela vai para o caminho de morte. E nessa morte, nem estou falando somente de caixão, estou falando de falta de significado.

Satanás não quer que você faça a vontade dele, mas quer que você não faça a vontade de Deus, e o jeito mais fácil disso acontecer é você fazer a sua própria vontade. Nós andamos em direção oposta de Deus, mas sua misericórdia para conosco nos coloca na sua dependência.

Você não crê em Deus porque diz crer, assim como não é médico porque acredita que é. Estamos acostumados a ver Deus como uma ideia legal ou como alguém que funciona como uma bengala para os momentos difíceis.

Pois é, essa também não é toda a verdade sobre Ele. Deus é uma pessoa. E para provar isso, mandou Cristo. E não há nenhuma experiência que tenhamos passado, ruim ou boa, que seu Filho, Jesus, também não tenha enfrentado.

A religião quer nos ensinar a nos comportar, mas Cristo quer nos ensinar a viver. A religião quer nos castrar, Cristo quer nos ensinar a produzir vida. A religião quer nos adestrar, Cristo quer tocar em nossas consciências.

A religião quer nos disciplinar, Cristo quer nos ensinar. São coisas diferentes, percebe? Comportamento não nos leva para o céu. Deus não é dez regrinhas. Deus é toda a verdade. Cristo nos leva para a vida plena, real, com significado. E hoje há tempo para você notar isso. Essa é a vida eterna. Cristo nos coloca no jeito certo de viver a vida, não é conduta, é vida.

Você acha que sabe o que é vida? Deus a criou e Ele mesmo nos deu. Essa vida é uma vida que faz sentido independente da condição, da realidade, dos fracassos e até da morte.

Antes de terminar esta conversa…

Se você leu até aqui, considere tudo isso que eu estou lhe dizendo. Por favor, não perca tempo. Viva para isso. Diga isso a seus amigos. E nunca se esqueça de que Cristo não vai desistir de você! 

E que hoje, não tenho mais meu primo para dizer tudo isso, mas Deus através desse infortúnio quer dizer a você: “Eu quero você andando comigo, e quero agora!” Deus não é uma ideia bem formatada, Ele é uma pessoa que decidiu não abandonar ninguém. Mesmo que não mereça, mesmo que não queira, mesmo que não se dê conta.

Eu sei, passei dos meus cinco minutinhos, mas o que é esse tempo diante da oportunidade de passar a eternidade com Cristo? Não quero que diga que não sabe onde está a felicidade, que não sabe como viver mais.

Cristo é tudo em todos, por todo tempo e em todo lugar. E Ele chegou a seu coração hoje. Procure por Ele e você vai voltar para os braços Dele, aqui, agora, e também no porvir.

Espero que seu próximo passo seja um passo em direção Dele. E seja agora. Se precisar, estou aqui. Se não souber como fazer, ainda estou aqui.


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O que ninguém te conta sobre perder uma pessoa

Meu celular toca de madrugada. A minha mente me sugere: “Nesta hora, nunca é boa notícia”. E não era mesmo. Deu um frio inexplicável na espinha. “Alô!”, eu disse com uma angustia na alma. Nunca havia sentido isso antes.

Do outro lado, era a voz do meu tio mais engraçado e divertido, mas dessa vez atipicamente amedrontada. Veio o tiro no meio do peito. Ele contou que seu filho - meu único primo por parte de pai - havia morrido tragicamente. Como somos somente três irmãos e ele na família, era praticamente o caçula da nossa família. Nunca mais a gente ia ver a típica gargalhada escandalosa do nosso Rominho.

Uma curva mal sucedida na estrada jogou aquele rapaz de apenas vinte anos diretamente de frente com um caminhão que vinha na outra pista. Sem chance de sobreviver. (A gente não sabia, mas quando ele estava um pouco estressado, tinha costume de dirigir para acalmar-se. Eu sei, é uma combinação perigosa. Eu teria falado se soubesse disso.)

Talvez você já tenha me ouvido contar essa história em minhas palestras e como isso mudou completamente a minha vida, mas hoje, realmente é um dia que não tem como esquecer. Há quatro anos atrás, aconteceria este que foi, sem dúvida, o pior dia da minha vida.

Esta imagem acima eu mesmo que fotografei alguns dias antes dele partir. A gente combinou tomar uma caldo de cana no lago da cidade, rimos demais neste dia e eu registrei essa foto. A mesma que tive que imprimir dias depois para colocar sob seu caixão lacrado.

Todo mundo tinha uma história com ele e sua gargalhada escandalosa, os amigos do curso de psicologia fizeram homenagem na formatura, os colegas de trabalho lembravam das suas inúmeras caretas e risadas, os amigos do colégio contaram histórias engraçadas sobre ele, outros amigos contavam-me que ele estava sob muita pressão no trabalho e outras dificuldades pessoais o atingiam. Ele não estava bem.

Eu fiquei dias pensando que mesmo sendo muito próximos, ninguém conseguia ver a angústia dele. Perguntava-me a razão pela qual eu não mesmo consegui notar suas dificuldades e ajudá-lo efetivamente. Eu não tinha uma resposta e estava longe de obtê-la. Na verdade, nunca a terei.

Dalí, em diante, prometi para mim mesmo que não ia deixar mais ninguém passar pela minha vida sem ter algum impacto. Esta foi a maneira que encontrei de trazer um outro significado a minha tragédia pessoal.

Passei a olhar para a vida de uma maneira bem diferente da maioria das pessoas. Como se tivesse virado uma chave na minha alma e mente, como se eu tivesse recebido um choque de realidade tão grande que nada mais na minha vida estava igual antes. E realmente tudo mudou depois.

Passei a observar mais as pessoas a minha volta e procurar entender suas necessidades, a identificar suas tristezas comuns com mais facilidade e oferecer ajuda sem me preocupar com o que vão pensar, afastei minha timidez social e perdi a vergonha de falar sobre mim e sobre tudo que vivo, passei a ser mais sensível para o próximo, a não ter vergonha pública de ajudar pessoas, a não deixar para dizer, fazer, reclamar, agradecer e experimentar depois. Tudo virou emergencial. Era como se a vida tivesse me dito: “Hey, estou aqui agora!”

No entanto, ter mudado a maneira com que encaro a vida, por vezes, me custa muito caro. É bastante comum eu me senti um E.T por onde vou. Aprendi a não ser uma pessoa habitual. Não tenho menor apego com o dinheiro, bens e aquisições, não me importo em passar horas conversando com pessoas de idade, faço tudo que está a meu alcance para contribuir com quem está a minha volta, aprendi nunca ignorar ninguém, a ligar no meio da tarde para trocar uma ideia sem assunto pré-definido, a não hesitar em falar que ama alguém, a não planejar muito meus futuro distante, a escolher fazer piadas o tempo todo, mesmo nos momentos ruins e me divertir com as situações mais complicadas e principalmente, a não me levar tão a sério assim.

Embora pareça que viver dessa maneira é positivo, boa parte das pessoas não entendem esse meu modo de ver a vida. Às vezes, elas me julgam como alguém sem ambição porque eu não tenho interesse em galgar lugares altos em grandes empresas, me acham muito depressivo porque eu simplesmente gosto de tirar sarro da brevidade da vida.

Muita gente jura que sou fútil porque eu troco um papo de política por um meme enviado no Whatsapp, podem ter a impressão de que sou arrogante porque invento todo tipo de desculpa para não frequentar lugares com música alta e de péssima qualidade, não faço questão de estar com gente que não sabe o real valor de um momento compartilhado de vida e naturalmente e esqueço o celular no meio de uma refeição com alguém. Eu prefiro ter momentos de valor com gente que me inspira.

Muita gente não se conforma com o fato de que eu não tenho aproveitado a oportunidade de ter ganho uma relevância e ser um destaque na minha profissão para focar em maneiras de gerar dinheiro e riqueza ou conquistar mais sucesso. Eu prefiro não trocar minha paz por dinheiro.

A maioria das pessoas não entende porque eu não tenho o hábito de viver no meio de gente mediana que tem como mote da sua vida simplesmente estudar muito, trabalhar o dobro do que precisa, alcançar a maior posição da sua empresa, comprar um carro esportivo bem legal para ostentar entre os amigos, adquirir um apartamento bem maior do que precisa. Eu tenho preferido gente comum. Daquelas que invertem a lógica.

A lição que o Rominho me deu ao ir embora para sempre foi que a vida é curta demais. E se a gente não se importar com o que realmente é essencial, estamos apenas vivendo sem razão real. Hoje, depois de tanta tragédias e momentos sem volta, é realmente importante não ser comum.

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