Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. É por isso que gosto de imaginar que desenvolver a inteligência quer dizer eventualmente invadir de maneira brusca as próprias convicções e ser capaz de ultrapassar as camadas desconhecidas do poder que nossas ideias prontas exercem sobre nós.
No contexto atual, isso torna-se extremamente difícil. Primeiro porque, de modo geral, nós não temos a coragem de meditar profundamente sobre a origem das nossas ideias.
Aceitamos que somos apenas respostas do meio cultural em que vivemos. Nunca nos perguntamos porque vemos o mundo da maneira que vemos, porque percebemos a politica de apenas um viés, o que nos leva a julgar a sociedade a partir de um olhar e entender as relações conforme queremos.
Não estamos disponíveis a refletir de maneira honesta diante do espelho. Isso quer dizer que conforme vamos conhecendo o mundo temos um sentimento de concordância e discordância e vamos adotando aquelas convicções como verdade ou não.
A ignorância não pertence só aos ignorantes
Por um lado, engana-se quem pensa que isso acontece somente na ignorância rasteira. Os diplomados são as vítimas mais comuns justamente pelos seus recortes hiper-parciais e estritos da realidade.
Basta perguntar a eles qual é a origem de determinada ideia que defendem para notar que quase nunca tiveram interesse em investigar profundamente suas raízes, apenas empilharam seu conhecimento como quem monta uma biblioteca cheia de um livro só.
Na sua grande maioria, os “intelectuais” — com aspas propositais — responderão tentando justificar suas ideais a partir de suas perspectivas pessoais ou contextuais. Criam argumentos em favor de si, mas se esquecem que não lhes perguntamos sobre razão das ideias, mas sim sobre a origem delas. Eles não sabem porque pensam o que pensam.
Ai vai uma denuncia agravante: Se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que elas exercem sobre você. Isso quer dizer que desconhecer a raiz faz com que não seja capaz de saber quem foi que colocou essas idéias dentro da sua cabeça. (Isso explica os papagaios ideológicos, por exemplo).
Esse rastreamento quase que biográfico dos próprios pensamentos torna-se um exercício fundamental para entender a raiz e a maneira com que sua formação da consciência trabalha.
Faça um exercício intelectualmente honesto
Você precisa compreender a história das suas ideias e ter um interesse no nascimento delas. Precisa conhecer a origem pessoal, familiar, sociológica e cultural das suas ideias e ser capaz de identificar claramente as correntes culturais e de pensamento que estão presentes em você.
E não só isso, mas prescrutar como exatamente elas estão moldando seu pensamento no presente e no futuro. É só a partir daí, que pode-se trabalhar a inteligência e ter a condições de julgar a realidade com a criticidade respeitável. Se você não é honesto com sua mentalidade não terá condição de saber se o caminho intelectual adotado é sadio.
A burrice começa quando absorvemos qualquer ideia majoritária a esmo.Mesmo aqueles ditos instruídos incorrem neste erro crasso de não conhecer e confrontar suas maiores seguranças intelectuais. Pelo contrário, blindam-se dos controversos.
A pergunta fundamental a qualquer um que queira pensar diferente
Fazer essa “psicanálise intelectual” é ser capaz de deitar no divã e tentar lembrar onde foi que você teve contato com suas ideias.
Você sabe onde foi que suas ideias sobre todas as áreas da sua vida nasceram na sua mente?
Frequentemente, o sujeito medíocre, acredita piamente que ele pensa com própria cabeça. Qualquer tolo saber que isso é praticamente impossível em decorrência das inúmeras correntes culturais e o poder imenso delas sobre nós.
O que estou causando aqui não é só uma provocação por esporte, mas um convite para que você seja capaz de entender melhor que sua vida é repleta de oportunidade e maneiras diversas de aprender e entender o mundo. Mas nem todas são sadias. Nem todos precisam ser aceitas. Nem todas são minimamente inteligentes.
Quando levado as última consequências, esse papo de que cada um tem sua verdade não se sustenta. O inteligente é justamente o sujeito que abandona o orgulho bobo de dizer : “Eu penso com a minha própria cabeça” e passa a reconhecer que mais importante que ter uma opinião própria, é ser capaz de ter a opinião verdadeira, sensata e palpável.
Isto é, o sujeito inteligente deve aprender a ver que nem tudo que ele pensa corresponde a verdade mais essencial. O papel do inteligente não é conversar com todas as possibilidades, mas sim abraçar os fatos com responsabilidade.
Pouco importa se uma ideia é própria, se tem personalidade, se é mais aceitável, se é mais popular, toda ideia tem que ser fiel ao que somos e também ao que o mundo se diz ser.
O que ninguém te fala sobre pensar diferente é que isso não garante nada. Não há glamour em ter as próprias opiniões. Ser coerente é mais honesto. É por isso que o inteligente crível é cada vez mais raro.
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