humor

O que ninguém te fala sobre ser engraçado

Tenho uma amiga que sempre me diz que sair comigo para tomar um café é como estar no Jimmy FallonSão sempre perguntas não-óbvias, a cada pausa um comentário cômico improvisado, e no final, ambos sentem que aquilo tem que repetir mais vezes.

Depois que ela me disse isso, comecei a observar e fiz uma descoberta grave sobre mim: Eu realmente sou um viciado em fazer pessoas rirem.

O meu desinteresse pelo sério é antigo

Lembro que ainda garoto não me dava bem com pessoas que levam-se a sério demais. Tive uma chefe que gostava de ser vista como a melhor profissional do mundo, e, pelas costas, eu organizei um concurso de imitação dela com os colegas.

O mais curioso sobre isso tudo é que nunca fui o palhaço oficial da turma.No colégio, sempre soltava comentários baixinhos para que alguém com mais coragem falasse alto. Sempre acontecia e essa outra pessoa levava o crédito pela gargalhada da sala de aula. Dei inúmeras piadas para outras pessoas.

Hoje, como um observador cirúrgico que sou, acabo sempre arrancando gargalhadas das pessoas com comentários comicamente pontuais. Talvez seja esta a minha graça particular: Extrair do dia-dia uma graça despretensiosa.

A graça de todo dia nos dai hoje

Meu tipo de humor predileto tem a ver com as situações-limite. Aprendi a rir dos piores momentos. É o absurdo da vida que me faz gargalhar.

Qualquer um diria que este é um raro dom de Deus. Na verdade, penso exatamente o oposto.Se os convidassem para conhecer meus pensamentos mais profundos, chegariam a conclusão que Deus não pode estar por trás disso. Algumas piadas guardo para mim como aquele último Trident que você não quer repartir. Você quer deliciar-se sozinho. Agora entende o nível da coisa?

Eu não faço esforço. Automaticamente, minha cabeça torna-se uma máquina de pensamentos. Ela já está naturalmente condicionada a fazer trocadilhos involuntários, a realizar conexões cômicas com facilidade, a encontrar graça no óbvio e construir graça mesmo num papo mole de boteco. As piadas simplesmente surgem.

A vida é a melhor piada de mau gosto

Há poucos dias, eu cai da escada durante uma mudança de casa e tomei quatro pontos no rosto. Enquanto a doutora me anestesiava mandei: — Mais dois pontos, eu acerto na mega sena. Ela riu gostoso, mas me deu uma bronca. O humor pode estar numa tragédia

Aprendi a rir do intenso. Foi o hilário Mark Twain que disse: “A fonte secreta de humor em si não é alegria, mas a tristeza.” — Segundo ele: “Não há humor no céu”. Concordo com ele que as melhores piadas surgem em situações e momentos mais constrangedores.

Tenho pesquisado sobre pessoas tidas como engraçadas para tentar encontrar a razão deste meu vício. Desconfio que isso surge do meu interesse em ter um bom feedback das pessoas sempre rindo ao meu redor. A segunda opção é que criei um mecanismo de fuga necessário para afastar o tédio comum da minha vida. Aposto mais na segunda opção. Não é a toa que os melhores comediantes são judeus.

A graça está justamente em identificar o elemento que ninguém olhou ainda e satirizar. O humor reside especialmente no embaraçoso. Às vezes, até mesmo as melhores piadas podem te levar a indiscrição, ao desconforto e a aflição. Acontece.

Ser um cara engraçado dá trabalho

O que não te contam sobre ser engraçado é que provocará sempre nas pessoas uma expectativa altíssima a seu respeito.

Às vezes, sinto como eu fosse o único alívio para o ambiente, como se sempre tivesse que me auto superar nos comentários, como que fosse um escravo da minha criatividade ilimitada.

Esta coisa de fazer as pessoas rirem tem me deixado preocupado ultimamente. Pode ser realmente alarmante. Já pensei até que poderia ser uma espécie de doença com direito a diagnóstico, tratamento e medicação.

Já pensou? Um dia você vai ao médico e ele diz: “Péssimas notícias, senhor. O que o senhor tem é síndrome de Monty Phyton, mais conhecida como piadose aguda. Perdemos um paciente na semana passada disso. Falência múltipla de anedotas.”

Talvez neste dia faça mais sentido a expressão morrer de rir. Sei lá.

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