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O que não te contam sobre viver de escrever

Escrever é uma atividade involuntariamente solitária. Sua pousada constante é o isolamento do seu auto exílio emocional regado por um deserto de pessoas.

Um soco na primeira linha e já uma lição, caro leitor: É justamente da insociabilidade que vivem os escritores, das verdades mais impopulares e da sua mais covarde coragem de olhar para si, para o outro e para o mundo sem a misericórdia da inexatidão.

Quem insiste em permanecer na convivência de um escritor, encontra nas bandas de cá, outros tantos escritores, igualmente lunáticos e viciados em suas próprias neuroses de caligrafia num abecedário tão incomum aos olhos comuns. Aqui, tem um mundo a parte.

A vida da escrita leva o autor a agarrar-se no delírio insuportável e insistente de compor frases cheias de palavras calculadas. Uma chave necessária para tentar esvaziar a sua maior fraqueza: O desperdício da sua vaidade incontrolável.

A natureza do escritor

Os escritores pertencem a uma restrita fauna ilusória. Estão cada vez mais extintos por uma crueldade imbatível: A dolorosa obrigação de manter longe do seu habitat criativo devido a sua falta de condições de sobrevivência. É como aquele animal que, sendo um carnívoro voraz, aprendeu a contentar-se com ervas doces do campo na sua dieta diária.

Vive uma corrida constante contra o drama do papel em branco, e toda vez que diante dele está, mendiga uma ideia simples que seja espremendo a consciência para produzir qualquer coisa razoável. O seu ringue principal é encher laudas como quem enche os pulmões depois de um mergulho profundo.

Para todos que vivem de redigir, não existe angustia maior que o resultado pífio das objetividades e dos clichês. Há muita indecisão em produzir discursos e ordenar informações, e por vezes, esbarram na visita indesejada de um bloqueio aparentemente intransponível.

Só um susto imprevisível na gestação inesperada de ideias é capaz de partejar uma esperança alfabética. Dos sutis socos nos teclados, uma ideia absurda força os dedos a debaterem-se numa vertiginosa marcha rumo a fuga estonteante de uma entrega ponderável.

A poesia, o conto, o romance, a crônicas tornam-se tiranas ainda no berço, como os garotos fazendo birras diante dos pais frouxos nos corredores dos mercados.

O público como obrigatoriedade criativa

Do outro lado dos escritores, agora, para as bandas de lá, existe o mais violento e faminto público. Para eles, o escritor é apenas o mais nobre preenchimento da sua incapacidade de expressar e dizer o que pensam.

O autor é, para seu público, a cápsula homeopática de coragem diária. Sem eles, seus olhos ficam fracos, seu corpo esgotado e seus músculos quebradiços. São eles que, com seus bocejos ou aplausos, nos amaldiçoam ou nos levam ao céu, nos adornam com elogios rasos ou nos esmagam entre os dedos brandos dos seu deslike.

É pensando neles, que o escravo das letras, amarrota suas bobagens e as empilham numa lixeira intolerante. É olhando para a plateia que hesitamos diante de fraseado agressivo, mudamos o sentido do verbo, escondemos a malícia proposital, fingimos o insulto inocente e buscamos proteger a intenção incolor por trás do que dizemos.

O inconfundível legado da obra

É porque somos escritores, que temos o cuidado de trabalhar com o frágil transpor de ideias. Basta uns parênteses com a má-criação de um menino de rua, umas aspas mais bem posicionadas que um infante atirador de elite, uma visita indelicada ao inseguro mundo da imaginação e cai por terra toda a diligente tentativa de credibilidade.

O que não te contam sobre viver de escrever é que todo o bem mora no vilarejo de uma folha em branco, mas é a mais valorosa e apócrifa das profissões. Ninguém fala que viver de escrita é sobreviver a cada dia.

O que sobra do autor são somente os seus mais distintos pensamentos que na sua imortalidade resistem ao tempo. A escrita traz imortalidade ou deixa a estupidez eternizada.

A escrita é a mais importante das armas de guerra. E o escritor é o soldado na linha de frente de todas as ideias do mundo. Ao mesmo tempo em que ajuda a vencer, está um pouquinho mais perto de morrer num acaso impensado.

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