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A ESTRANHA GERAÇÃO QUE VENERA O DESAPEGO

Não consigo me encaixar na minha geração. Preciso dizer que tem horas que sinto uma alienígena no meio das pessoas da minha idade.

Nas rodas que participo, nas postagens das redes sociais, nas conversas paralelas, há sempre uma pessoa tentando nos convencer que essa coisa de desapego é normal e que o que importa mesmo é você ser autossuficiente o bastante para não depender de ninguém. Existe uma cultura nesta geração que celebra, incentiva e reforça que ficar sozinho é a melhor das liberdades.

Fico me perguntando o que aconteceu comigo que não consigo pensar dessa maneira. Por onde eu passei todo esse tempo enquanto diziam aos jovens que estar solteiro é muito melhor do que estar acompanhado?

Até entendo que quem não conseguem ficar só tem um problema gravíssimo consigo mesmo, ou que aqueles que se enfiam em relacionamentos apenas para se sentir melhor, mais aceito, mais completo não está no melhor caminho, mas agora essa história de optar pela solteirice como uma frase feita de botequeim, é para mim não querer assumir certos compromissos por imaturidade.

O relacionamento é uma direção rumo à maturidade, talvez seja essa a questão.

 Amor-próprio não tem a ver com amar-se mais do que amar o outro, mas é aprender uma maneira de se envolver com o outro sem que precise deixar de amar-se. São coisas diferentes.

Entendo que muita gente, no desespero de não querer se amarrar não queira estar envolvida em todas as responsabilidades de um amor mútuo, mas agora, achar que sair com varias pessoas ao mesmo tempo é sinônimo de liberdade, de juventude, de independência afetiva, autonomia de si, de soberania nas escolhas, de emancipação sentimental, é uma tremenda de uma ingenuidade infantil.

Precisamos de pessoas. E isso não tem a ver somente com necessidade emocionais, físicas e sexuais. Não podemos usar as pessoas como se elas fossem consumíveis, precisamos levar a sério os seus sentimentos, dedicar a construir um amor duradouro, ter um envolvimento com a intenção de ligação, empenhar afetos, ter afeição pela vida a dois.

Não podemos viver apenas de entusiasmos e paixões velozes. Precisamos de pessoas com mais convicção além de emoção. O amor precisa colecionar as melhores coisas de alguém. As risadas, os jeitinhos particulares, as palavras, os afetos, a meiguice. Se apenas quisermos nos divertir não tem porque entrar em nenhum tipo de amor.

Você precisa saber que não se basta. Se a solidão fosse posição confortável não haveria mais humanidade. Só encontramos nas relações, mesmo as mais banais a possibilidade de ser gente de verdade. É só no contato profundo com alguém que podemos encontrar descanso.

Desconfio de pessoas que se intitulem não precisar de um bom amor longo duradouro e profundo, que esteja satisfeito em ser como um beija-flor que se alimenta e jamais saberemos se ele vai voltar.

Um dia a gente aprende que não faz sentido ver suficiência no isolamento voluntário. Estar em sua própria companhia é bom, mas não fazer questão de permanecer na presença do outro já é puro narcisismo egoísta. 

Essa geração anda estranha. Acho que precisamos repensar essa história de desapego, antes que acreditamos para sempre que podemos seguir sozinhos e felizes consumindo pessoas. A minha geração está doente, e a principal razão é esta: Não está disposta a tolerar ninguém além de si.

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