Pobre amor. Recebe a nobre responsabilidade de juntar pessoas, mas frequentemente se torna o autor de tragédias pessoais. É o culpado preferido de todas as desarmonias da vida.
Fico olhando para um casal que se dá bem e tento decifrar o motivo que os levou a dar tão certo nesse mundo de gente sem par. Eu creio que o segredo para viver a dois é ligar menos para as coisas que não contribuem. Sim, exigir menos do amor.
Ele não se veste bem, insiste em usar Allstar em todas as circunstâncias que conseguir e ela decidiu não se importar. Ela nem sempre está animada para se maquiar e acaba saindo de cara lavada, ele concorda que se maquiar sempre é um saco. Eles não se preocupam com que os outros vão pensar.
Ele nunca acerta as datas importantes com precisão, e ela acha graça de como ele é hilário tentando lembrar. Ela é péssima de guardar telefones e endereços, ele não se importa em repetir. Às vezes, ele não se lembra de pagar os boletos, ela fica de olho no dia do vencimento para avisá-lo. Ele não tem carro e ela sempre topa passeios esquisitos no final de semana de folga do trabalho.
O amor que mais dá certo é o não-normal. Ela chega chorando por causa do patrão grosso, ele se demonstra maduro para um conselho que faz toda diferença, ainda que nem saiba o que está falando. Ele tem seus reflexos juvenis de jogar no carrinho de compras uma bandeja de Yakult, uma porção de Trakinas e chocolates para aqueles dias ruins, e ela, que vive de dieta, faz piada com o jeito criança dele encarar o mundo.
Creio que o amor dá certo quando não fazem questão de participar do clube de casais super prudentes, quando não desejam fazer de tudo para ser do time dos amores modernos. Quando tem uma vida com suas próprias regras, complicações e expectativas.
Eles se divertem com a cara de desconfiança das pessoas ao dizerem que não brigam por qualquer coisa. Na era dos amores velozes e conturbados, o casal que deu certo é aquele que escolhe pegar leve com a vida, que sabe negociar consigo os requisitos, que prioriza sempre o outro.
Eles evitam gritos sem necessidade e riem alto quando ficamos trancados pro lado de fora da casa. É um amor que não faz questão de ser refrão da canção, mas gosta de ter seu ritmo, sua melodia e sua letra própria.
Para falar a verdade, eles gostam de ver a cara de espanto das pessoas quando contam que raras vezes levam adiante uma discussão boba. Que, de fato, não concordam em tudo, mas que escolheram não perder a comunhão por causa da mania de ter razão.
Eles concordam que o amor foi feito para muito mais que satisfação pessoal, brigas intermináveis, ciúmes bobo, desconfianças o tempo todo. Escolheram realmente amar apesar do erro, afinal, errar é humano, mas perder a vida discutindo, não perdoando, guardando rancor, deve ser de outro planeta.
Eles sabem que não amam um monte de coisa no outro, mas e daí? Seria isso suficiente para estragar uma caminhada inteira? Claro que não.
Eles precisam convencer os outros que podem conversar sobre tudo, se arrepender com verdade, mudar por si só, resolver o que é simples, e bola para frente, oras. Sem histeria, sem elevar o tom, sem agressão de qualquer espécie, sem procurar culpados. Apenas decretando juntos o final da encrenca para seguir com o que é importante.
Andam exigindo muito do amor. Andam querendo fazer do outro uma idealização pessoal. Mas o casal que deu certo exige apenas, do outro ser amado, e de si, ser um amante. O resto só acontece naturalmente sem exigências.
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