Uma conversa pela manhã

Chego em casa exausto. O cheiro dela tomava conta de mim. Um esboço do seu sabor impresso na estampa da minha roupa. E o corpo dela deitado bem no meio da minha memória.

Cozinha, sala, banheiro e quarto. Era cheio de cômodos nada incômodos. Janelas fechadas e coração escancarado. Luz controlada e o juízo nem tanto. O calor amenizado pelo ar condicionado, mas dentro, queimava numa brasa interminável, a sensação de conforto.

Olho bem no fundo das piscinas que carrega no rosto enquanto ela desembesta a fala. E na intenção de decorar cada detalhe da sua alma, assisto-a com atenção. No fundo, lá no fundo, percebo um restinho de esperança debatendo-se às fortes braçadas por saber que aquilo era mais que especial.

Relutaram, mas souberam. Apesar da evidente inundação que aqueles olhos causavam, ainda era possível notar que valia a pena lutar pra respirar um pouco mais quando se está quase submerso por completo nos traumas.

O sol cortava a cortina denunciando que o dia vinha chegando. E com ele, o tempo infinitamente apressado. São dentes grandes e brancos como uma nuvem de fim de outono. Seguia acompanhado de um escasso, mas nem tanto olhar de quem vibrou pela coragem de responder aquela primeira mensagem.

Um dia diferente de tudo. Ou melhor, um dia atipicamente feito pra decorar. Todos os olhares, as impulsividades e os suspiros para recordar que nunca devemos esquecer de agradecer quando encontramos um outro ser humano como a gente.

Faço uma proposital nota mental: É preciso valorizar as pequenas frases, retomar a coragem sempre que quiser e jamais sonegar uma oportunidade de viver algo emocionante com alguém.

Assustaram-se ao lembrar que a afinidade é uma daquelas coisas raras no mundo. Tão raras quanto um inabitual dia de humanidade pura, tão especial e insólito quanto um singular dia inusitado de carinho verdadeiro.

Daquele dia em diante, sempre será possível que todo e qualquer pensamento seja absorto, invariavelmente ausente das realidades já vividas, claramente abstraído da distração que a vida foi até então.

A partir dali, era mais que provado que existe gente de verdade no mundo, e que voluntariamente, podemos construir qualquer realidade viável. E por mais alheio e estranho que a vida seja, com seus truques sujos e perigosos, existe algum sentido delicadamente real na existência.

Ainda sorrio devagar ao lembrar daquele último abraço na sala. Encaixados no mais absoluto silêncio. Depois de tanta fala, ainda tem muito o que conversar? Sim, mas era preciso ir. E numa despedida longa, continuam embutidos um no outro como um cobertor no dia de frio agressivo.

Dizem “até mais” sabendo que a vida tem suas aleatoriedades e seus encontros acidentais. E ainda bem, porque as pessoas que entram na vida da gente sem qualquer formalidade são geralmente as que nos dão a liberdade de despir-se diante do nosso caráter e nos deixar ser a gente mesmo sem um julgamento sequer. Ela era especial.

Já era bem tarde, ou quem sabe cedo demais para entender. Quem se importa qual é a hora em que o mundo quer te dar um presente? Quem liga para as explicações clássicas das coisas? Quem incomoda-se que, uma vez que seja, a vida resolva desativar temporariamente todas as nossas certezas para nos fazer entender que tudo muda o tempo inteiro?

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