O barulho ao fundo denunciava: Era uma festa. E por lá, a coisa estava bem animada.
A comemoração de mais um ano de vida, precisa ser recheada de gente do coração. “Alô! Alô?!”, dizia ele todo desconcertado por ter que atrapalhar o momento dela de ser a protagonista.
E num um esforço sincero para abafar o som das pessoas à sua volta, a moça, aumenta o volume da voz, respondendo: “Oi, oi.. que bom que ligou. Todo mundo tá aqui. Só faltou você”.
Sentiu o peso de não ter coragem suficiente para dizer a ela o que realmente precisava ter dito. O rapaz emudeceu por uns instantes. A garganta já acusava uma avalanche emocional.
Afastou o celular da boca para camuflar o suspiro. Segurou a onda. Cada vez que se falavam, toda aquela sua segurança de gente adulta escondia-se entre os ralos da sua famosa maturidade.
O simples timbre da voz dela o fazia sentir-se diante da sua mais juvenil idade, ainda que o RG acusasse a diferença. Era como ser adolescente em cada conversa que tinham.
Ela tinha o poder de dizer qualquer coisa que fosse, e ele de achar cada palavra tola que saia dela, um primor poeticamente imortal.
Enquanto a escutava do lado de lá da linha, começou a lembrar-se de como adorava o jeito curioso de ser que ela sustentava, de querer aprender sobre tudo, conhecer o mundo, viver todas as experiências e fazer todas as coisas ao mesmo tempo.
Bingo! Era isso que ele achava incrível nela. Deu-se conta que não era um encantamento fictício ou romantizado, era apenas a mais pura constatação da enorme admiração que tinha por quem ela era.
Lembrou, num lapso de retorno a realidade, que a menina ainda estava na linha: “Desculpa, eu viajei aqui. Bem, eu liguei para te dizer parabéns e te desejar muita felicidades nesse seu dia. Não sei bem o que dizer agora, mas eu só queria que soubesse que apesar de não poder ir, eu alimento uma admiração profunda por você. Na verdade, eu te amo. Digo... Muita saúde, paz, alegria... essas coisas todas aí que o pessoal diz.”
Do lado de lá da linha, ela notava o velho truque de esconder o “eu te amo” no meio de um monte de baboseiras.
Ela sabia que faltava algo a dizer, mas não ia ser ela que ia puxar essa locomotiva. Não naquela hora. Não naquele contexto. Mas, ela sabia.
Ela sabia que no meio daquele monte de palavras medianas tinham poucas que realmente diziam algo importante. Mesmo assim, agradeceu esboçando um sorriso na voz.
Ele começou a usar algo improvisado. Dizia por meio de indiretas o que, no fundo, estava claro. Terminou de dizer tudo aquilo e colocou-se mais uma vez a imaginar a reação dela de quem há tempos não era surpreendida.
Ela não escondeu a felicidade de ouvir a voz dele, mas o rapaz, por não querer criar uma conflito, reservou-se por hora. Não notou que a mudeza dela era apenas uma mistura de surpresa e timidez.
Acharam mutualmente melhor apenas fingir que não entendiam. Seguiu com um papo de botequim.
Ele contou meia dúzia de novidades, ela deixou escapar um “Te amo também. Você sabe que é um cara incrível né?” . Ele mal conseguia falar de vontade de estar do lado dela. Confessou que não tinha condição de continuar naquele papo porque estar longe já era sua sentença irremediável.
“Quando é que você vem?”, perguntou ela para quebrar o silêncio. “Não sei. Sinceramente não sei. Mas fico te devendo um beijo e um abraço. Prometo que pago”, respondeu o garoto disfarçando a voz trêmula. Silêncio.
Ela retrucou bem baixo: “Vou cobrar”. Silêncio. “Estão me chamando pro parabéns”, lamentou. “Claro, é seu momento. Seu dia. Aproveita aí. Manda um beijo pro pessoal.”, rapidamente respondeu.
Mais um silêncio. A voz enfraqueceu: “Obrigada, tá?”. Nessa hora, a palavra sumiu completamente. Acho por bem, trazer o convencional: “Não há de que. Vai lá.”
Desligaram. A consciência, na mais pura sincronicidade, perguntava: “Advinha quem faltou na festa dela? Advinha quem não sabe o que fazer com isso? Advinha quem está ausente?”. E o “tu tu tu” do telefone escancarava a realidade.
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