A felicidade não está fora de moda, a gente é que está sem estilo
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É verdade que ninguém sabe o endereço completo da plena felicidade. Se é que ele mora num lugar só. Eu sempre desconfiei de todo esse papo de gente que acredita que ela é um lugar para se chegar, um objetivo imediato a ser atingido no fim de uma corrida enorme de tarefas.
Eu gosto mais de pensar da perspectiva que talvez ela seja apenas um jeito de olhar a vida. E não tem nada a ver com aquela conversa enfadonha de autoajuda escrita por gente mandraque. Estou falando de reconhecer momentos felizes como um alívio cósmico, uma sobra de oxigênio, uma dadiva imerecida.
Assim como ninguém merece felicidade, ninguém merece a desventura. Ela está fora de moda porque a gente elevou muito a régua do que é realmente ser feliz. Na nossa mente alvejada, felicidade é coisa de gente abastada.
Tem gente que imagina que ser feliz é estar num país livre de corrupção e com políticos melhores, outros percebem essa felicidade nos dígitos do “saldo disponível para saque” e existem aqueles que acreditam que toda essa alegria interminável está nos sucessos recorrentes do dia-dia ou até mesmo no fato de ser famoso no Instagram.
Eu conheço pessoas que cruzaram o mundo atrás de uma euforia diferente e a confundindo com felicidade, mas tudo o que descobriram é que não adiantava mudar o ambiente enquanto tivesse que se deparar consigo mesmo. Talvez a felicidade não seja mesmo um novo lugar.
Não adianta trocar de ambiente para correr dos problemas, fingir demência diante das demandas, a felicidade é dar-se bem consigo. Não muito e nem sempre, mas o suficiente para que consiga não frequentar farmácias como se fossem shoppings.
A felicidade pode ser detectável, mas nunca rastreável. Ela some e aparece como um furtivo ninja. Ela é como um final de semana que chega para tirar o stress recorrente de um trabalho cansativo. Aliás, a felicidade não precisa ser uma atividade. Tem gente que é feliz não fazendo nada. Absolutamente nada. Um dia deitado no feriado. Uns minutos de paz quando os filhos finalmente dormem. Uma monótona tarde de domingo. Não tem regra.
Nessa caça a felicidade triunfante tem gente apostando alto. Dando all in numa mão duvidosa. Apostando tudo que tem em fichas irreconhecíveis. Esperam encontrar satisfação total em um casamento, em uma carteira de trabalho assinada, numa mudança milagrosa e visceral na vida. Sobrevivendo jogando na megasena para começar a viver.
Há também a tal da felicidade adiada. Aquela que tem nota promissória. Aquela alegria deixada para quando os filhos crescerem, para quando foi promovido, para quando tiver tempo sobrando, para quando não depender dos pais, para quando terminar a faculdade, para quando sair do hospital, para quando o Brasil tiver melhor… para um evento futuro.
Alguns vivem a felicidade negociada. Aquela que nos faz abandonar a nossa felicidade por uma bandeira ideológica, por causa de uma pessoa, devido a um trabalho, por um bem coletivo, por razão de um sacrifício existencial.
Para fechar essa conta, temos que colocar no balanço as felicidades simples. Fechar um novo negócio, sentir-se finalmente útil, recebe um elogio de quem nunca te disse oi, achar dinheiro no moletom, ver seu filho dizer algo inteligente, descobrir um amor enterrado, mudar de profissão, dormir sem hora para acordar, ter água gelada na geladeira depois de uma corrida.
Pode ser comprar uma viagem. Ou melhor, comprar uma viagem com cupom de desconto para o destino que sonhou. Descobrir um novo hobby, se interessar por certas coisas e descobrir que envelheceu, conseguir fazer um origami, não se acostumar com o mendigos e crianças nas ruas.
A felicidade só está fora de moda quando não alimentamos prazeres secretos. Ter a sorte de ler um livro muito bom. Ouvir repetidas vezes a mesma música. Entrar num cinema com doces das Americanas. Um travesseiro da NASA. Um final de semana na fazenda como desculpa para não te encontrarem.
Na falta de um estilo de felicidade, abuse do Boho chic. Use um boudoir de pequenos prazeres. O segredo da felicidade é high-low. É misturar menos com mais. Altos com baixos e desfilar. Às vezes, hype. Por vezes, vintage.
Seja feliz por enlouquecer sempre que der. Seja feliz sem fazer de algo sua única fonte de felicidade.