Como driblar os grandes clichês da vida e voltar a perceber a felicidade real
Não levo a sério a felicidade posta no lugar-comum. A verdadeira vida não pode ser integralmente feliz. Amar a vida não implica, obrigatoriamente, em felicidade. Ponto. Aliás, acrescento: a felicidade costuma morar bem longe da vizinhança dos bordões manjados.
A felicidade é coisa antiga, mas hoje, essa pauta tornou-se uma obsessão. Melhor, uma compulsão. Estamos cheios de clichês bobocas para tentar achar um indício de caminho para o júbilo. Quem vive atrás de qualquer chavão para ser feliz encontra sempre uma manobra mal executada que quebra o dente.
Sobre a felicidade empacotada
Os simplistas dizem que é só uma questão de ter saúde o suficiente, bastante dinheiro para comprar o que nos falta e um colecionável amor para ter uns suspiros de vez em quando.
Este pode ser um pacote interessante, mas acontece que alcançar a felicidade é algo bem mais complexo que plano de saúde, saldo disponível para saque e uma conchinha no fim da noite.
Não podemos apenas nos contentar com a ausência de doenças sérias, a gente quer estar invejavelmente em forma, quer ter o vigor cênico de um jovem e exibir o arrogante ar sadio no rosto do mundo. Mas, vitalidade, força e energia não dura a vida toda.
Não queremos apenas pagar o aluguel em dia, ser capaz de jogar uns mimos bobos no carrinho de compra e poder financiar uma cerveja melhor, mas a gente esbanjar em Dubai, comprar o combo da Apple e desperdiçar tempo com o ócio lúdico de instagrammer.
Quanto ao amor? Ah, não contentamos apenas em ter gente perto para conversar, ganhar uma pessoa para rachar um lanche no meio às sextas e dar uns amassos num colchão pequeno eventualmente. A gente quer um amor pra esfregar na cara das pessoas que demos certo com alguém. Estamos atrás de um profundamente amor visceral, de uma paixão impressionantemente empolgante e de uma pessoa que seja disponível para nossos caprichos.
Esquecemos de ser felizes da maneira mais simples e fácil que pudermos. Ser feliz real, sabe? Zero cena. Sem simulação. Livre de disfarce. Acho que é tentar ser um pouco mais trivial.
É fazer academia sem querer parecer o novo Schwarzenegger, é trabalhar a quantidade necessária sem depender da cadeira mais alta, é amar as pessoas e as coisas sem querer nada em troca além da disponibilidade do outro.
É descobrir que a felicidade na vida não é sobre testar limites e muito menos sobre correr atrás de prêmios, é sobre não deixar-se levar pelos bordões banais.
Como não enganar-se com os clichês?
O primeiro e mais distorcido clichê tem a ver com o conceito de felicidade de que você apenas é responsável pela sua própria felicidade. o problema e que sabemos que a vida se assemelha a uma adolescente rebelde que faz apenas o que deseja, e pouco concede controle temos sobre ela.
Neste sentido, a felicidade fala mais sobre como lidar com as ocasiões controversas do que sobre como evitá-las. As escolhas diante da vida só poderão levar para o caminho da satisfação quando passa pela responsabilidade de assumir de fato um lado mais real e propositivo.
Não adianta mascarar uma felicidade com frases prontas de efeito, é preciso para de fingir, olhar-se no espelho com honestidade e correr atrás de momentos felizes com critérios e verdade. Isso não significa vacinar-se contra as contingências cruéis da vida, mas ter um posicionamento ativamente ágil para com elas.
Um ponto fundamental é que ninguém é feliz por ser visto. Estamos vivendo uma momento um tanto interessante de busca pela exposição. Falamos sobre tudo para todos o tempo inteiro. Acreditamos que ser visualizado por inúmeras pessoas é o que realmente nos levará para um caminho de ser ouvido e ser percebido com valor correto. A vida moderno nos convenceu que ter influência é atrair a felicidade. Ledo engano, a exposição traz consigo uma série de problemas graves.
O que realmente tem poder de nos fazer mais feliz é ser capaz de ser útil. Às vezes, estar dentro da possibilidade de uma troca frutífera sem olhar apenas para o caráter benéfico, mas como uma aliança proveitosa que seja aproveitável e proficiente. Uma utilidade mutualmente produtiva.
Precisamos esquecer os clichês mais juvenis como a ideia de um mundo melhor sem entender como ser melhor para o mundo frequentável, deixar de lado a ideia de vencer na vida para tornar-se realmente um investigador quem somos sem negligenciar os nossos talentos a serviço do mundo, do outro e das pessoas. O “mundo melhor” é um mundo tedioso, mentiroso e pouco alcançável.
Não perca tempo com ideias bobas
Precisamos afastar o clichê de que todo conhecimento é válido a qualquer custo. Existe filmes que são perda de tempo, livros de péssimo gosto, cursos que não servem para nada, pessoas que são completamente vazias, atividades que não nos levam para lugar algum. Precisamos estar menos ocupados com bobagens vãs. Temos que nos afastar dos teóricos e ligar-se mais a gente que tem apreço pelas sabedorias tradicionais, que nos ajude a tomar mais decisões complexas diante dos desafios da vida. A vida é curta para toda essa bobagem.
Precisamos entender que o mundo da cooperação nos coloca diante de resultados mais humanos que o da competição, mas que não são necessariamente rivais. É possível disputar sem perder o senso de apoiar, é viável, rivalizar ao mesmo tempo em que contribui para algo maior, é praticável lutar, concorrer e ajudar, enfrentar e apoiar, pleitear e concorrer, pelejar e contribuir.
Temos que fugir correndo da ideia habitual de permanecer sempre em alta performance, mas que podemos ser produtivos com clareza de um propósito. De que podemo executar muita coisas e ter o luxo de de aposentar-se. Nenhum trabalho é totalmente glamouroso, com tarefas agradável, mas não pode ser visto apenas como um obrigação, mas uma oportunidade de dar sentido para o que realizado.
Aprenda a ter a calma até certo ponto. Estourar é normal. É indicado. Desde que não seja uma agressão sem limites. Oxigene sua raiva sempre que conseguir, mas não a esconda o tempo inteiro. Faça terapia. Coma tudo que achar que deve, mas não seja inconsequente com sua vida. Não cuidar da saúde é montar uma bomba-relógio, mas pensar em saúde o tempo todo é doença.
Decepcione-se com os amigos e faça novos sem medo. Importe-se com sua idade, mas não ligue para aniversários. Sorria desde que não seja de desespero. Frequente mais a natureza, mas não queira ser a mãe dela. Não poste frases sobre gratidão, mas agradeça. Reconhecer o papel de todos à sua volta, mas não tenha medo de dizer o que precisa. Não viva o momento. A vida é maior que isso. Não siga o fluxo sempre. Seja uma pessoa para além dos clichês idiotas.