MURILLO LEAL - Conteúdo e Storytelling

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É assim que eu me sinto aqui

Ando na rua sufocado. Com o ar enclausurado no peito e a alma livre pra blasfemar contra o mundo. Percebo o vento cortar meu nariz na fragrância balsâmica da coragem, corroída pelo iminente medo.

Sinto na nuca uma presença constante do privilégio me dizendo verdades cruas. Não escondo nos tapetes da emoção, a minha angustia diante do sofrimento de outros, mas não desanimo no olho a olho com as pequenas felicidades.

Este mundo é um lugar inacabado e a culpa é de ninguém. Tenho a impressão de que estou diante de um lugar que o sangue e os ossos valem mais que as rosas no meio do canteiro.

Sinto, e não estou sozinho nessa sensação, que estou completamente quebrado. Tenho algumas fraturas leves que tentam anular a beleza pedagógica da vida. É como se diante do mel, meu paladar tivesse acostumado com o sabor picante da severidade da agonia.

Forço o pulso para grifar os motivos pelos quais a alegria pode ser visível, mas escuto ao redor um cochicho alto falando merda. Vago pela mente, noto bem que os motivos são distintos e me pergunto que diabos essas perguntas fazem ali.

Questiono o que eu deveria pensar então já que todos dizem não ser assim tão ruim. Pergunto mas sem me preocupar em responder agora. Penso em sair correndo, mas descubro que mal consigo andar por essas linhas e me equilibrando na ponta do pé.

Sinto a sutileza do mundo sendo generosa sempre que algo ruim acontece. Aperto o passo em direção de sei lá qual destino. Num vacilo, escorrego num pedregulho da estrada e me esborracho nos motivos mais improváveis.

É verdade que assisti vir pra minha vida muita coisa incrível. Estou num lugar confortável e mesmo assim parece tudo irreal. Nunca me senti tão bem onde estou, mas sei que isso não é tudo.

Os pensamentos me contam que somados nenhum mal é pra sempre, que a felicidade é sim ter o suficiente. Prefiro apostar no na lucidez do tempo, olhar para o sol brilhando sem culpa e consultar a calmaria do horizonte sem fim.

Aqui, as paredes esmagam minha mente. Sinto a imaginação mais larga lá fora. Eu espero apenas não perder ela de vista. Eu tenho asas indirigíveis. Movimento-me rápido no mesmo tempo em que o relógio esconde-se de mim.

Molho minhas mãos como sementes que podem crescer e gerar frutos. Jogo água no rosto como se esse sono tivesse que passar. Rego minha mente com coisas saudáveis para que cresça e esconda as fissuras evidentes.

Amo tudo que parece bobo. Toco de ouvido a sinfonia da vida como músicas dedilhadas sem qualquer platéia. O silêncio anula-se dentro de mim. Isso que importa. Fico perto de mim, encolhido, cada vez que um som ameaça aproximar-se.

Salto bem alto mesmo sem que haja alguém para segurar a mão e caio no mesmo lugar de antes como se a altura fosse somente um passeio que tende a deixar a gente no mesmo lugar.

Guardo-me no cofre e coloco bem no meio da vitrine das inseguranças. Tenho a atenção que preciso, mas me coloco para fora da possibilidade de explorar o universo. A minha volta, quero apenas o que preciso. Volto a origem.

Incluo-me na companhia e no tempo de muita gente. Circulo alternativas que não me agradam. Vivo um tédio empolgante. Lembro de quando o dinheiro faltava e agora corro atrás dele como quem não entende o que mudou.

Olho a volta e me assusto com o quanto conquistei. Vejo meu circuito de pessoas morrer por não esconder aquilo que penso. No entanto, eu nunca brinquei com o que penso. Nunca me trai. Olho pra tudo e espero que tudo fique bem. Porque vai ficar.

Eu tenho asas indirigíveis. É assim que me sinto aqui.

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