Mais importante do que a guerra, é quem está do seu lado na trincheira
Ás vezes, não se via um palmo adiante. Era neblina, juventude e silêncio. O rigoroso breu das quatro da manhã era cinematográfico. Subíamos - eu e meu irmão da mesma idade - a gélida e cumprida rua Lázaro Zamenhof que desembocava no pátio do Exército.
Acabávamos de completar dezoito anos de uma inexperiência flagrante. O cabelo andava sempre tão curto quanto o juízo juvenil. A barba tão aparada quanto a moral cívica dos conservadores. A roupa tão limpa quanto a consciência de um bebê.
O que sobrava a mim e aos outros soldados, era apenas o companheirismo da convivência, a disciplina da amizade e o senso de colaboração mútua. Lá fiz bons amigos que carrego até hoje. O próprio sargento do batalhão— hoje tenente — ainda é frequentador das festas da minha família. Sim, também se faz amizades humanas nas fileiras do exército.
Há sempre um treinamento contínuo a seguir
Minha expectativa com a experiência militar era muito baixa, mas fui surpreendido, e hoje entendo que aquele foi um tempo não só de treinamento tático, estratégico e bélico, mas de aprender mais sobre como o outro é importante na nossa vida. O batalhão é uma família que obrigatoriamente aprende a gozar nas glórias e chorar junto com as tragédias. Punições e louros são coletivos.
Não fui a qualquer guerra nesta vida. E para falar a verdade, provavelmente nunca vou. Por isso, não tenho o direito de romantizá-la como alguns gostam de fazer. A guerra é o ser humano na sua essencial mais animal. Não há nada de bonito nela. O suposto charme visto nas guerras é apenas o filho bastardo do cinema, dos livros e da arte. Na vida real, é sangue, tragédia e lástima pra todo lado.
A vida não é uma guerra
Costumeiramente, insistimos em comparar a vida com uma guerra, mas é invariavelmente injusto, proporcionalmente desigual e propriamente inadequado.
Entendo os pormenores da comparação, mas faço essas notas garrafais: Há uma distância faraônica entre os dois. A começar que, na guerra, com uma combinação de milagre e sorte, ainda há algum chance de sair vivo. A vida sim é que é implacável com suas vítimas. A guerra e a vida se cruzam, mas não são a mesma coisa.
Não importa se viver é uma batalha fácil para alguns ou se é a pior coisa que alguém pode enfrentar, nada vai aliviar o peso de uma luta, nenhuma experiência vai ter misericórdia daqueles que optam pela autonomia, nenhum campo de batalha pode ser atravessado individualmente.
Em uma guerra, a mentalidade de grupo é a força
Ninguém vence se não tiver acompanhado de um bom companheiro na trincheira. Só mantém-se vivo na linha de frente quem conta com a colaboração do companheiro, quem confia cegamente no apoio alheio e quem se propõe a sair vivo junto. O resto é bafo-de-boca.
Ouvi uma história de dois amigos de infância que serviram juntos na Segunda Guerra. Depois de um bombardeio surpresa, um deles acabou se perdendo do outro e ficou preso na zona de risco, enquanto o outro foi levado para um abrigo.
Quando acordoou, o soldado sobrevivente quis voltar para buscar o amigo. A esperança ainda existia na sua alma, mas teve a permissão negada pelo superior. Ignorando a proibição, ele saiu na busca. Uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo nos braços.
O oficial superior enfurecido disse em alto tom que sabia que seu amigo já estaria morto. O soldado, então, teve de explicar: “Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pode me dizer: Eu tinha certeza que você viria!”
A guerra não é lugar de gente sozinha. Na vida, você pode até lutar sozinho, mas não é a mesma coisa. Encontre seus companheiros de trincheira por que a luta da vida não vai parar tão cedo. Enfrente-a com gente ao seu lado.
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