MURILLO LEAL - Conteúdo e Storytelling

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O que não te contam sobre ser livre para viver o que bem entender

Já faz algum tempo que encontro em mim a coragem de ser. Tenho, de certo modo até obsessivo, sido repetitivo e insistente em dizer que só somos livres quando passamos a assumir aquilo que nos rege sem medo do que pode vir adiante.

Volto, de maneira monomaníaca ao mesmo ponto por uma razão simples: Ninguém deveria ter de recorrer a encenações para empolgar auditórios, nem tampouco ter de manter-se em papéis esdrúxulos para que sinta-se um pouco mais parte de algo. É covarde e doloroso ter que simular tudo que se vive.

Abro aspas para uma nota em letras garrafais: Estamos bem diante da era do vício à personalidade, por isso, usamos a o discurso de ser livre para legitimar sermos o clássico babaca devoto de si próprio.

Como é que uma pessoa decide abandonar alguns disfarces?

Olho para trás com coragem como quem faz uma reflexão minuciosa e percebo a abundante carisma distribuída de maneira desnecessária e o desperdício de expediente com paisagens plásticas. Percebo que atrás de muito sorriso estético, pode se esconder uma inestimável pobreza de conteúdo legítimo.

Quando nos transformamos em simples caixas de ressonância de ideias simuladas, de teses renomadas porém falsificadas, de certezas espúrias e consentimos para evitar conflitos estamos bem diante de uma flagrante crime da dissimulação treinada.

Por bem dizer, senti que tava mais do que na hora de encarar perguntas difíceis, enfrentar castelos mentais como um iconoclasta sênior e deixar de evitar questionamentos que possam me indispor com aqueles que adulam a falsa cortina da aparência. A máxima regente tornou-se: Quando poupamos os lobos, condenamos as ovelhas.

A valentia do desaforo por trás do brio

Fugi da sedução de construir-me como um mito imbatível para descer ao chão da existência com maior rigor, deixei de gastar minhas economias emocionais defendendo o lugar-comum.

Fiz questão de disparar e golpear clichês a ermo sem me ocupar com os arrotos petulantes de alguns. Debrucei sobre a minha escrita para evidentemente desmontar chavões como uma prece nada cuidadosa. Minhas frases se tornaram agressivamente macias na mente de quem me lia.

É totalmente possível que você já tenha passado por um momento em que sofreu passivamente pequenas violações cotidianas que te transformou em pequenos e esquecidos destroços boiando pelo mar furioso. Apenas seguindo algo que não conhecia.

É preciso um pouco mais que coragem e autoconfiança para desfrutar do quão ruim pode ser estabelecer limites para a sua própria idiotice vil. O preço a pagar pelo resgate do resto que sobrou da gente e montar uma nova estrutura rígida é comprometer até as últimas moedas de ouro nesse novo empreendimento.

Há sempre uma esquina para habitar

A boa notícia é que há sempre espaço nessa viagem rumo ao desapego daquilo que não gostaria de ser. É uma turbulenta excursão. É mais que um passeio, é uma peregrinação longa, perigosa, cansativa e altamente implausível, mas integralmente redentora.

Aqui, neste lugar onde podemos ser a gente mesmo, deixamos de querer provar ser amáveis ​e dignos do respeito alheio e ganhamos o direito de proferir um som inaudível de liberdade que não precisa comprovar sua patente testemunha.

Bem neste lugar da coragem de ser, aprendemos que expôr-se demais faz as pessoas nos odiar, que viver apenas como se deseja nos torna alvos fáceis da retaliação alheia, que falar tudo que pensamos nos transformar automaticamente em uma pessoa horrível para os demais , mas que calar-se, fingir, esconder e acovadar-se também.

Neste canto de concretude abissal, lidamos bem com a realidade de que eventualmente sairemos machucados gravemente das relações, que poucas pessoas realmente vão ouvir o que temos a dizer, que eventualmente, a vida revida tudo com imensa força, que nem sempre nossas necessidades possam ser realmente atendidas, mas é aqui, neste desconforto, que aprendemos a ser sem ter medo de viver.

O xeque-mate da realidade

Do lado de cá, sabemos que passamos rapidamente. Estamos perigosamente sempre próximos do último olhar, respirar, agir e amar. Acostumamos com os passos lentos que nos corrigem didaticamente e nos fazem descobrir um novo ritmo, nos familiarizamos com o timbre educativo da voz da vida, nos condicionamos com o esgarçar das etiquetas vãs e com a ineficiente dos remendos morais.

Somos pegos de surpresa pelo flagrante incontestável: A vida é um momento ligeiro. O que sobra além dos confortáveis, mas curtos acolchoados de uma vida sem sentido? Nada. Mentimos, porque mentir funciona.

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